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São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2003

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RENDA COMPRIMIDA

Gasto de famílias de baixa renda aumentou quatro vezes em oito anos, chegando a 10,9% do orçamento

Plano de saúde corrói renda dos mais pobres

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre 1988 e 1996, famílias de menor renda, de até dois salários mínimos, mais que quadruplicaram seus gastos com planos de saúde. Eles saltaram de 2,4% para 10,9% do orçamento doméstico.
Os dados não são muito recentes. Foram coletados pelo IBGE e constam de estudo sobre despesas com saúde familiar preparado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ligado ao Ministério do Planejamento.
Mas o Dieese, instituição dos sindicatos, também constata a tendência. Em julho de 1996 o terço da população mais pobre gastava com planos de saúde 2,3% de seu orçamento familiar. Estaria gastando agora 5%.
O assunto é uma caixa- preta estatística. Só em abril de 2000 o governo criou uma agência reguladora para as 2.347 empresas ou cooperativas que atuam no mercado. Mas a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) não tem dados consolidados sobre o nível de renda dos segurados.
Até o número desse contingente é objeto de controvérsias. Há três anos se acreditava que seriam 14 milhões. A estimativa da ANS é agora de 35,5 milhões. Mas uma entidade de operadoras do setor, a Abramge (Associação Brasileira de Medicina de Grupo), acredita serem 41,6 milhões de segurados.
Grosso modo, beneficiam-se de planos coletivos 65% ou então 82,5% da clientela. Cada porcentagem tem como origem uma fonte diferente de informação.
Os planos coletivos são normalmente feitos por empresas (49 mil, na área da Abramge). Elas pagam toda a apólice ou apenas uma parcela das mensalidades. Impossível saber quantos beneficiados estão em cada caso.
Tudo indica que ocorreram duas coisas. A primeira, identificada pelo Ipea, coloca a saúde de grupo na mesma catapulta que elevou o consumo dos mais pobres logo após o Plano Real.
Se entre 1988 e 1996 famílias com renda superior a 30 salários mínimos mantiveram seus gastos com saúde, para aquelas com renda de até dois salários mínimos esses gastos passaram de 6,3% a 9,6%. As duas porcentagens estão nas POFs (Pesquisas de Orçamentos Familiares) do IBGE.
Embora com uma abrangência geográfica menor (apenas as capitais dos Estados), a POF da Fundação Getúlio Vargas constata nas pesquisas de 1997 a 2000 que as famílias (renda de um a 33 salários mínimos) gastam com planos de saúde 3,3% de sua renda.
A segunda coisa diz respeito a algo mais recente. As mensalidades subiram bem mais que a inflação. Segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), para uma inflação de 131,7% desde julho de 1994, os planos de saúde subiram 244,6%. Para o Dieese, as mensalidades teriam aumentado em 380,8%, entre janeiro de 1996 e agora.
Mas o desemprego e o desaquecimento da economia não retraíram o setor. Nos últimos cinco anos, as empresas associadas à Abramge registram uma quantidade estável de segurados.
Moral provisória da história: se é verdade que há mais pobres beneficiados por planos de saúde, as pesquisas que indicam mais gasto com mensalidades de planos talvez não digam tudo. Elas podem trazer embutido um gasto individual maior. Isso, é claro, quando não é a empresa que paga integralmente o seguro, caso em que o beneficiado tem custo zero.
E agora, por pura curiosidade: a ANS divulgou o valor médio de uma mensalidade em 2002. Que foi de R$ 132,69.

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