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RENDA COMPRIMIDA
Gasto de famílias de baixa renda aumentou quatro vezes em oito anos, chegando a 10,9% do orçamento
Plano de saúde corrói renda dos mais pobres
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Entre 1988 e 1996, famílias de
menor renda, de até dois salários
mínimos, mais que quadruplicaram seus gastos com planos de
saúde. Eles saltaram de 2,4% para
10,9% do orçamento doméstico.
Os dados não são muito recentes. Foram coletados pelo IBGE e
constam de estudo sobre despesas com saúde familiar preparado
pelo Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), ligado ao
Ministério do Planejamento.
Mas o Dieese, instituição dos
sindicatos, também constata a
tendência. Em julho de 1996 o terço da população mais pobre gastava com planos de saúde 2,3% de
seu orçamento familiar. Estaria
gastando agora 5%.
O assunto é uma caixa- preta estatística. Só em abril de 2000 o governo criou uma agência reguladora para as 2.347 empresas ou
cooperativas que atuam no mercado. Mas a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) não
tem dados consolidados sobre o
nível de renda dos segurados.
Até o número desse contingente
é objeto de controvérsias. Há três
anos se acreditava que seriam 14
milhões. A estimativa da ANS é
agora de 35,5 milhões. Mas uma
entidade de operadoras do setor,
a Abramge (Associação Brasileira
de Medicina de Grupo), acredita
serem 41,6 milhões de segurados.
Grosso modo, beneficiam-se de
planos coletivos 65% ou então
82,5% da clientela. Cada porcentagem tem como origem uma
fonte diferente de informação.
Os planos coletivos são normalmente feitos por empresas (49
mil, na área da Abramge). Elas pagam toda a apólice ou apenas
uma parcela das mensalidades.
Impossível saber quantos beneficiados estão em cada caso.
Tudo indica que ocorreram
duas coisas. A primeira, identificada pelo Ipea, coloca a saúde de
grupo na mesma catapulta que
elevou o consumo dos mais pobres logo após o Plano Real.
Se entre 1988 e 1996 famílias
com renda superior a 30 salários
mínimos mantiveram seus gastos
com saúde, para aquelas com renda de até dois salários mínimos
esses gastos passaram de 6,3% a
9,6%. As duas porcentagens estão
nas POFs (Pesquisas de Orçamentos Familiares) do IBGE.
Embora com uma abrangência
geográfica menor (apenas as capitais dos Estados), a POF da Fundação Getúlio Vargas constata
nas pesquisas de 1997 a 2000 que
as famílias (renda de um a 33 salários mínimos) gastam com planos de saúde 3,3% de sua renda.
A segunda coisa diz respeito a
algo mais recente. As mensalidades subiram bem mais que a inflação. Segundo a Fipe (Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas), para uma inflação de 131,7%
desde julho de 1994, os planos de
saúde subiram 244,6%. Para o
Dieese, as mensalidades teriam
aumentado em 380,8%, entre janeiro de 1996 e agora.
Mas o desemprego e o desaquecimento da economia não retraíram o setor. Nos últimos cinco
anos, as empresas associadas à
Abramge registram uma quantidade estável de segurados.
Moral provisória da história: se
é verdade que há mais pobres beneficiados por planos de saúde, as
pesquisas que indicam mais gasto
com mensalidades de planos talvez não digam tudo. Elas podem
trazer embutido um gasto individual maior. Isso, é claro, quando
não é a empresa que paga integralmente o seguro, caso em que
o beneficiado tem custo zero.
E agora, por pura curiosidade: a
ANS divulgou o valor médio de
uma mensalidade em 2002. Que
foi de R$ 132,69.
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