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São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2003

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DESEMPENHO

Rentabilidade das instituições financeiras sobe de 13,6% para 20,6% em 1 ano; a das empresas fica negativa

Banco lucra, indústria entra no vermelho

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Chega ao fim o prazo de publicação dos balanços financeiros de empresas abertas (com ação em Bolsa) no primeiro trimestre do ano. Os resultados mostram que o setor produtivo "perdeu", e de lavada, para os bancos.
Enquanto a rentabilidade das instituições financeiras (o lucro que obtiveram em relação ao patrimônio) passou de 13,6% para 20,6% em um ano -de março de 2002 a março de 2003-, as empresas registraram forte queda na rentabilidade, que passou de 7,4% para uma taxa negativa de 0,17% no período.
Os valores foram ajustados pela inflação (IGP-DI) e referem-se ao desempenho de 211 empresas abertas no país (81% do total). Os dados foram obtidos cruzando-se informações da Economática e da ABM Consulting.
Há essa retração vertiginosa no retorno das empresas, sobre o capital investido, por diversas razões: 1) o lucro líquido (valor absoluto) despencou; 2) os setores de energia elétrica e de telecomunicações registraram desempenho pífio, o que ajudou a "contaminar" o total geral.
As empresas de energia, por exemplo, não tiveram retorno positivo. A rentabilidade ficou negativa em 24,5% no período.
Ao descontar esse fator de pressão do índice geral, a rentabilidade do setor produtivo sobe. Atinge 8,5% neste ano. Ainda é, no entanto, inferior à dos bancos (20,6%). E é também menor do que a apurada em março de 2002, quando chegou a bater em 11,5%.
A análise dos 211 balanços mostra que houve até uma inversão nos indicadores das companhias: o lucro líquido (incluindo telefonia e energia) passou de R$ 20,1 bilhões em março de 2002 para um prejuízo de R$ 343 milhões em março de 2003.
Quando se excluem resultados da área de telefonia e energia dessa conta ainda há queda, porém menos acentuada [veja quadro]. Se o lucro cai, a rentabilidade tende a minguar também.
"A situação está extremamente delicada. Na área de energia, está tudo parado", diz Carlos de Paiva Lopes, presidente da Abinee, que representa empresas de telefonia, energia e eletrônica.
Uma outra forma de analisar os balanços é verificar o desempenho das melhores empresas, tanto na área financeira como no setor produtivo, utilizando o mesmo critério para a seleção. Nesse caso, a Folha optou pelo valor de mercado por considerar as empresas com maior peso na Bolsa.
A rentabilidade média das cinco maiores companhias do país, segundo esse critério, ficou em 17,7% em março. Já os cinco maiores bancos, escolhidos segundo o tamanho dos ativos e pelo valor de mercado, atingiram taxa média de 32,1%.
Na avaliação da Febraban, entidade que representa os bancos, a boa safra de balancetes das instituições financeiras é resultado de uma menor provisão dos bancos com devedores duvidosos. É o que diz Roberto Luis Troster, economista-chefe da federação.
Quanto maior a provisão (dinheiro que os bancos acham que não vão receber de devedores), menor o lucro. Todos os bancos também tiveram aumento de receitas com títulos e valores mobiliários, e isso ajuda no resultado.
Os números revelam essa "desvantagem" entre os dois setores, mas há companhias e segmentos com desempenhos superiores aos de bancos. Fabricantes de alimentos e bebidas -são 13 com ação em Bolsa- registraram, em um ano, incremento de R$ 460 milhões no lucro total do setor. A rentabilidade atinge 24%. Na área de veículos, o retorno sobre o capital investido chega a 30%.
Renegociação das dívidas em dólares -que subiram após a disparada do dólar em 2002- com posterior redução no endividamento contribuiu para isso. Corte nas despesas e forte expansão nas exportações também ajudaram certos setores.

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