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LUÍS NASSIF
A Operação Vampiro
e o retrocesso
Seria importante que as
ilações em torno da Operação Vampiro -que investiga
corrupção no Ministério da Saúde para a compra de hemoderivados- não embarcassem em
uma caça às bruxas inconseqüente, capaz de desmontar os
enormes avanços ocorridos nos
últimos anos no sistema de compra de remédios do órgão.
Historicamente, as compras
eram centralizadas na Ceme
(Central de Medicamentos), que
ganhou notoriedade no governo
Collor, por um ser um dos focos
centrais de corrupção do esquema PC.
A Ceme foi fechada em 1997,
na gestão do ministro da Saúde
Carlos Albuquerque, tendo como secretário-executivo Barjas
Negri -atual secretário da Saúde do Estado de São Paulo. Na
gestão José Serra, o desmonte
prosseguiu, com o mesmo Barjas
à frente e tendo como diretor da
Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) Gonçalo
Veccina, atual secretário da
Saúde da Prefeitura de São Paulo (do PT).
Praticamente todas as compras de medicamentos básicos
foram transferidas para Estados
(os remédios de maior complexidade) e municípios (a cesta
básica), em um total de R$ 340
milhões em transferências. Ao
mesmo tempo, passou-se a recorrer maciçamente aos laboratórios oficiais de São Paulo,
Goiás, Pernambuco e das Forças
Armadas para a produção de
medicamentos.
No ministério, ficaram as
compras de insulina, hemoderivados e medicamento para
Aids. No caso da Aids, com
enorme redução no valor de
compra, graças à luta contra as
patentes na gestão José Serra. As
compras ficaram concentradas
na secretaria executiva, enquanto a Anvisa passava a definir a política de compra de hemoderivados. No caso dos hemoderivados, importava-se praticamente tudo. Definiu-se uma
política de importação de insumos e desenvolvimento de produtos em laboratórios oficiais.
Na gestão Humberto Costa,
houve sinais em direção a uma
recentralização das compras,
não mais que sinais, mas que ficaram patentes nas negociações
políticas com o ex-governador
Paulo Maluf, a quem foi oferecida a área de compras do ministério, e no bolo de R$ 200 milhões para a compra de medicamentos básicos em 2004, na contramão do processo de descentralização.
A estimativa de prejuízos de
R$ 2 bilhões com manipulação
de licitações é fantasiosa. Depois
da extinção da Seme, de 1997 a
2002, o total de compras de hemoderivados foi de R$ 1,1 bilhão, a preços de 2002.
Os hemoderivados têm cotação internacional. É possível
comparar todas as compras efetuadas com as cotações internacionais, assim como os preços
pagos pelos grandes hospitais
brasileiros.
A comparação pode revelar
conclusões diferentes. Primeiro,
se existiria, mesmo, um cartel
na Saúde, manipulando licitações e aumentando preços, em
conluio com funcionários. Segundo, se houve uma tentativa
de "dumping", de jogar os preços abaixo dos de mercado na
última licitação. Terceiro, se
houve algum fenômeno recente
de super-oferta de hemoderivados, derrubando os preços.
Seria relevante que um tema
técnico desses não ficasse à mercê de conclusões apressadas e
amadoras.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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