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CONTEXTO
Salário reflete o pouco vigor econômico
DA REPORTAGEM LOCAL
A queda na renda do trabalhador em abril, após três meses de
pequena recuperação, revela o
fraco dinamismo da economia
brasileira e mudanças na expectativa do setor produtivo sobre o
desempenho do país neste ano.
"A massa de rendimento do trabalhador não decola porque o
crescimento da economia ainda é
lento. A indústria praticamente
não cresce há cerca de seis meses.
A renda só vai aumentar quando
o país crescer de forma vigorosa e
prolongada", afirma Julio Gomes
de Almeida, diretor-executivo do
Iedi (Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial).
Até março, a recuperação na
renda havia sido pequena, mas
ocorria de forma contínua, segundo mostram os dados do IBGE. O rendimento médio real dos
ocupados subiu 2,16%, 0,96% e
0,52% em janeiro, fevereiro e
março, respectivamente.
Economistas afirmam que o
país vive o "efeito Tostines": a
renda não cresce porque a economia não cresce e a economia não
cresce porque a renda não cresce.
"Os dados divulgados pelo IBGE
são preocupantes. Se o rendimento voltar a cair neste mês e em junho, o país pode crescer menos
ainda neste ano", afirma Almeida.
Fernando Sarti, economista da
Unicamp, diz que a renda não
cresce porque os salários e o emprego não sobem a ponto de elevar a massa de rendimentos. "Para haver crescimento, é fundamental que ocorram mudanças
na atual política econômica e no
engessamento que a política monetária e cambial traz ao crescimento. Isso só será possível com a
retomada inicial dos investimentos públicos e privados. São eles
que vão puxar e manter o crescimento sustentando."
A queda na renda está mais associada às mudanças de projeções
sobre o crescimento do país do
que ao aumento da inflação, na
opinião de Alex Agostini, economista da GRC Visão.
"As empresas estão revendo
suas perspectivas. Produzem menos porque não querem manter
estoques altos, já que os juros estão elevados, e cortam horas extras, o que tem impacto imediato
no rendimento do trabalhador."
O desemprego elevado também
acentua o problema da renda, segundo Agostini, porque, como a
oferta de mão-de-obra é grande, o
custo do trabalho acaba sofrendo
ainda mais pressão.
Só um conjunto de medidas pode sustentar o crescimento da
renda e fazer com que os salários
recuperem as perdas que ocorreram desde 1997, segundo Agostini. "A redução da carga tributária,
uma reforma eficiente da Previdência, mudanças nas leis trabalhistas e na política monetária são
determinantes para que a renda
se recupere", afirma.
Para o economista da Unicamp
Marcio Pochmann, o governo poderia adotar políticas públicas
que atenuem o achatamento salarial dos trabalhadores enquanto a
renda não consegue se recuperar.
"A recuperação definitiva [da
renda] só virá quando o mercado
interno conseguir sustentar o
crescimento do país, o que por
ora não acontece. Enquanto não
chegarmos a essa situação, o governo poderia criar facilidades
para a habitação, o transporte e a
alimentação que ajudassem a atenuar os salários tão baixos."
Para Fabio Romão, economista
da LCA Consultores, a renda do
trabalhador, apesar de ter caído
em abril, está se recuperando desde o ano passado, ainda que de
forma lenta. "A massa de rendimentos está mais apoiada na ocupação do que na renda."
(FF e CR)
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