São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2005

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CONTEXTO

Salário reflete o pouco vigor econômico

DA REPORTAGEM LOCAL

A queda na renda do trabalhador em abril, após três meses de pequena recuperação, revela o fraco dinamismo da economia brasileira e mudanças na expectativa do setor produtivo sobre o desempenho do país neste ano.
"A massa de rendimento do trabalhador não decola porque o crescimento da economia ainda é lento. A indústria praticamente não cresce há cerca de seis meses. A renda só vai aumentar quando o país crescer de forma vigorosa e prolongada", afirma Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Até março, a recuperação na renda havia sido pequena, mas ocorria de forma contínua, segundo mostram os dados do IBGE. O rendimento médio real dos ocupados subiu 2,16%, 0,96% e 0,52% em janeiro, fevereiro e março, respectivamente.
Economistas afirmam que o país vive o "efeito Tostines": a renda não cresce porque a economia não cresce e a economia não cresce porque a renda não cresce. "Os dados divulgados pelo IBGE são preocupantes. Se o rendimento voltar a cair neste mês e em junho, o país pode crescer menos ainda neste ano", afirma Almeida.
Fernando Sarti, economista da Unicamp, diz que a renda não cresce porque os salários e o emprego não sobem a ponto de elevar a massa de rendimentos. "Para haver crescimento, é fundamental que ocorram mudanças na atual política econômica e no engessamento que a política monetária e cambial traz ao crescimento. Isso só será possível com a retomada inicial dos investimentos públicos e privados. São eles que vão puxar e manter o crescimento sustentando."
A queda na renda está mais associada às mudanças de projeções sobre o crescimento do país do que ao aumento da inflação, na opinião de Alex Agostini, economista da GRC Visão.
"As empresas estão revendo suas perspectivas. Produzem menos porque não querem manter estoques altos, já que os juros estão elevados, e cortam horas extras, o que tem impacto imediato no rendimento do trabalhador."
O desemprego elevado também acentua o problema da renda, segundo Agostini, porque, como a oferta de mão-de-obra é grande, o custo do trabalho acaba sofrendo ainda mais pressão.
Só um conjunto de medidas pode sustentar o crescimento da renda e fazer com que os salários recuperem as perdas que ocorreram desde 1997, segundo Agostini. "A redução da carga tributária, uma reforma eficiente da Previdência, mudanças nas leis trabalhistas e na política monetária são determinantes para que a renda se recupere", afirma.
Para o economista da Unicamp Marcio Pochmann, o governo poderia adotar políticas públicas que atenuem o achatamento salarial dos trabalhadores enquanto a renda não consegue se recuperar. "A recuperação definitiva [da renda] só virá quando o mercado interno conseguir sustentar o crescimento do país, o que por ora não acontece. Enquanto não chegarmos a essa situação, o governo poderia criar facilidades para a habitação, o transporte e a alimentação que ajudassem a atenuar os salários tão baixos."
Para Fabio Romão, economista da LCA Consultores, a renda do trabalhador, apesar de ter caído em abril, está se recuperando desde o ano passado, ainda que de forma lenta. "A massa de rendimentos está mais apoiada na ocupação do que na renda." (FF e CR)


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