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Superávit primário de 12 meses supera meta para 2006
Governo economizou 4,54% do PIB para o pagamento de juros da dívida; março e abril registram superávit nominal
O esforço fiscal do setor público até abril atinge R$ 40 bi; maior contribuição veio do governo federal, com R$ 28,5 bilhões
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Contrariando as previsões de
vários analistas, o aperto fiscal
promovido pelo governo tem
ficado acima da meta fixada para este ano. Nos últimos 12 meses, o setor público acumulou
um superávit primário (receitas menos despesas, exceto gastos com juros) equivalente a
4,54% do PIB (Produto Interno
Bruto), acima, portanto, do objetivo de 4,25% estabelecido
para o ano de 2006.
"Isso mostra o comprometimento de todas as esferas de
governo com o ajuste fiscal. Foi
um resultado bastante positivo", afirma o chefe do Departamento Econômico do Banco
Central, Altamir Lopes.
Apesar do clima de triunfo
com o qual o superávit foi
anunciado, economistas alertam que o governo não está cortando gastos, e que o resultado
foi alcançado via crescimento
da arrecadação. "É hora de dizer com todas as letras: não estamos fazendo ajuste fiscal coisa nenhuma. Ajuste é cortar
gastos", afirmou o economista
Raul Velloso, especialista em
contas públicas.
O resultado em 12 meses mede melhor a possibilidade de
cumprimento das metas fiscais
porque a economia feita pelo
governo ao longo do ano tende
a apresentar variações muito
grandes, com receitas e despesas concentradas em diferentes
épocas.
Nos 12 meses encerrados em
março último, o superávit primário correspondia a 4,40% do
PIB. Entre janeiro e abril deste
ano, o esforço fiscal atingiu R$
40,407 bilhões, sendo que o governo federal foi quem mais
contribuiu para esse resultado,
economizando R$ 28,508 bilhões (70% do total).
"O que o [saldo] acumulado
no ano mostra é o que já se esperava. Nada de alarmante, por
enquanto", disse o economista
Paulo Nogueira Batista Jr., da
FGV (Fundação Getúlio Vargas). "Não há sinais de derrapagem. O que está acontecendo é
uma mudança em relação à gestão anterior", afirmou, referindo-se à troca no comando do
Ministério da Fazenda ocorrida no final de março.
No ano passado, o superávit
primário alcançado pelo setor
público ficou em 4,83% do PIB,
bem acima, portanto, dos
4,25% fixados como meta. Já
naquela época esse rigor fiscal
já era motivo de discussão no
governo, principalmente devido à proximidade das eleições,
situação em que a realização de
investimentos poderia ajudar a
angariar votos para o governo.
Em janeiro e fevereiro, observou-se um aumento nos gastos do governo, o que fez com
que vários economistas -principalmente analistas do mercado financeiro ou ligados a partidos de oposição- apontassem
para o perigo de um descontrole nas contas.
Essa percepção se acentuou
depois da substituição de Antonio Palocci por Guido Mantega,
no final de março. Antes de assumir o comando da Fazenda,
Mantega costumava fazer várias críticas à ortodoxia da política econômica do governo, enquanto Palocci era o defensor
da manutenção do rigor fiscal.
Em março e abril, a tendência observada no começo do
ano se inverteu, e o governo
acumulou um expressivo superávit primário. Situação rara no
país, o setor público chegou a
apurar, nesses meses, superávit
nominal em suas contas.
Isso significa que o aperto fiscal realizado no período não só
foi suficiente para cobrir todos
os gastos com juros, como ainda sobraram recursos suficientes para abater uma parcela da
dívida pública. No mês passado,
o superávit nominal foi de R$
6,553 bilhões, o maior já apurado no país desde que o BC passou a calcular esse dado com a
atual metodologia, em 1991.
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