São Paulo, quarta, 26 de maio de 1999

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MERCADO TENSO
Fitas envolvendo o presidente FHC e oscilação externa fazem Bovespa cair 4,95% e dólar subir; BC intervém
Gravações e NY derrubam Bolsa e real

MARCELO DIEGO
da Reportagem Local

A apreensão causada pela divulgação de novas conversas telefônicas do presidente Fernando Henrique Cardoso e a instabilidade da Bolsa de Nova York foram os fatores responsáveis pela queda da Bolsa de São Paulo e pela alta do dólar comercial, ontem.
A Bovespa fechou o pregão em queda de 4,95%. Anteontem, já havia caído 4,88% -a maior queda desde 14 de janeiro.
O dólar comercial fechou cotado a R$ 1,732 (venda), com alta de 0,35% em relação a anteontem. O dólar médio registrado pelo BC (Ptax) fechou em R$ 1,748 -alta de 2,91%.
O Banco Central teve que intervir duas vezes (pela manhã e à tarde) no mercado de câmbio para conter a alta do dólar. Ele vendeu a moeda norte-americana a R$ 1,755 e a R$ 1,760 em cada turno.
O dólar atingiu R$ 1,762, mas reduziu a alta no fim do pregão.
O mercado interno abriu nervosamente os negócios por causa da publicação, pela Folha, ontem, de conversas gravadas envolvendo a participação do presidente no leilão da Telebrás.
Logo nos primeiros 15 minutos de pregão, a Bovespa registrava queda de 1,26%. A Bolsa chegou a cair 5,27%.
A queda começou a ser revertida após a abertura da Bolsa de Nova York. O mercado norte-americano abriu calmo, diminuindo o temor de aumento nos juros internos.
A Bovespa passou a acompanhar o índice Dow Jones. No início da tarde, Nova York, no entanto, voltou a apresentar queda (fechou o pregão em baixa de 1,16%), seguida em São Paulo.
Das 47 ações mais negociadas na Bovespa, nenhuma registrou alta ontem. Duas ficaram estáveis.
Cinco ações de telefonia apareceram entre as mais negociadas, todas apresentando queda.
Os operadores de câmbio disseram que o mercado estava agitado ontem por causa da perspectiva da criação de uma CPI sobre o leilão da Telebrás.
Uma investigação poderia abalar a credibilidade das privatizações no país, paralisar a atividade parlamentar (adiando votações importantes, como a da reforma tributária) e enfraquecer politicamente o governo federal.
Com o movimento de saída de investidores estrangeiros da Bolsa, ontem, e com poucos dólares no mercado, a moeda norte-americana começou a subir.
Os C-Bonds, títulos brasileiros mais negociados no exterior, tiveram alta de 1,85%, ontem. No fechamento, os papéis valiam 62% de seu valor de face.
"Os C-Bonds vinham apresentando queda muito forte nos últimos dias e tinham espaço para recuperação. O chamado "efeito Argentina' está perdendo um pouco a força lá fora e, por enquanto, o problema com a Telebrás não ganhou repercussão externa", disse Marcelo Guterman, da Lloyds Asset Management.
O "efeito Argentina" (medo de que o peso estivesse sofrendo um ataque especulativo e perdesse a paridade com o dólar) vinha influenciando os negócios no Brasil e causando a desvalorização de títulos de países emergentes.
Ontem foi feriado na Argentina, diminuindo a influência sobre o mercado brasileiro.




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