SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois grandes bancos americanos, o Bank of America e o JP Morgan, sofreram pesadas perdas em seus fundos mais agressivos nas últimas duas semanas. Os prejuízos atingiram também outras instituições, mas em menor grau.
Um dos fundos que mais perdeu foi o Bank of America High Yield que até ontem acumulava rentabilidade negativa de 20,59% neste mês. Em consequência do prejuízo os cotistas bateram em retirada: desde o dia 3, até o dia 21, os saques chegaram a R$ 146,37 milhões, o equivalente a 37,24% do patrimônio líquido.
Esse é o mesmo fundo que em meados de março deste ano ganhou em um único dia R$ 1,56 milhão aproveitando-se do impacto de pesquisa, financiada pelo banco, que apontou o crescimento do candidato do governo a presidente.
O estrago no High Yeld foi tão grande que já há cotistas dispostos a processar o banco pelas perdas. É o caso da Tok Stok, empresa de móveis, que tem cerca de R$ 1 milhão aplicado no fundo e afirma que o gestor não respeitou o limite de perdas previsto no regulamento do fundo.
Pelas normas do fundo o Bank of America teria sistemas de controle de risco que permitiriam limitar os prejuízos dos cotistas a 200% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário, a taxa de juro praticada entre os bancos) projetada para o mês. Por esse critério, a perda máxima deveria ser de 3,77% e não os 20,59% atuais.
Ontem o banco explicou em nota oficial que os prejuízos foram causados "pela falta de liquidez e aumento da volatilidade no mercado, que obrigou o Bank of America Asset Management a sair de posições de perdas".
A Folha apurou que as perdas foram motivadas pela aposta do banco na queda da taxa de juros. Os gestores teriam vendido contratos futuros de juro na BM&F apostando na baixa, mas o Copom manteve a Selic em 18,5% ao ano e os juros futuros dispararam por conta do risco eleitoral fazendo o fundo ter prejuízos diários.
Além disso, houve falha no controle de risco da instituição, segundo especialistas do mercado. Os fundos mais agressivos têm modelos matemáticos que permitem aos gestores parar as perdas mudando a posição da carteira.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, a decisão do banco de sair da posição "vendida" em juros futuros ocorreu tardiamente.
Outro fundo do Bank of America que amarga perdas este mês é o Bank of America Multicarteira Arrojado. Com rentabilidade negativa de 24,87% até ontem, o fundo está com uma saída líquida de recursos de R$ 3,5 milhões.
O banco também amarga rentabilidade negativa em 39 dos seus 48 fundos multi-mercados. Esses fundos aplicam nos mercados de juros, câmbio e Bolsa.
Também os clientes do JP Morgan sofreram prejuízo por conta da aposta dos gestores na queda da taxa de juro. O fundo JP Morgan Strategic Trader está rendendo -7,7% no mês. Segundo Wagner Murgel diretor do banco, esse fundo faz posição em mercado futuro de juros, Bolsa e câmbio.
"O resultado de junho é consequência das posições em juros. Nós acreditávamos em manutenção ou queda das taxas, mas elas dispararam no mercado futuro", diz Murgel. Segundo ele, os gestores decidiram manter as posições pois o movimento atual não se justifica. "Quando as taxas começarem a recuar os cotistas vão recuperar as perdas", diz.



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