São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2001

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PETROQUÍMICA

Consórcio pagou preço mínimo de R$ 785 milhões; grupo Ultra, outro interessado, não participou do leilão

Odebrecht-Mariani leva Copene, sem ágio

ADRIANA MATTOS
JOSÉLIA AGUIAR

DA REPORTAGEM LOCAL

O consórcio Odebrecht-Mariani assumiu ontem o controle da Copene ao oferecer, em leilão, R$ 785 milhões por ações que pertenciam ao banco Econômico. Não houve ágio, já que o valor corresponde ao preço mínimo. Representantes do grupo Ultra, que também estava na disputa, nem compareceram ao hotel Maksoud Plaza, onde ocorreu o leilão. Em nota oficial, o Ultra disse que desistiu pois acreditava que seria prejudicado diante da "condição privilegiada" do grupo baiano.
O Ultra se refere ao "direito de preferência" que a Odebrecht possuía na operação. Com essa vantagem, a empresa poderia "empatar o lance" (fazer a mesma oferta) que o Ultra apresentasse no prazo de até 60 dias após o leilão. E ainda contaria com mais 30 dias para fazer a liquidação financeira. Não foi necessário lançar mão desse direito porque não houve concorrentes.
A Odebrecht conseguiu o "direito de preferência" por ser dona de parte da Conepar, empresa que possui participação na Norquisa, que, por sua vez, controla a Copene. Nessa intrincada composição societária, tanto Odebrecht como Ultra também detêm ações da própria Norquisa.
Ao final do leilão, Marcelo Odebrecht, filho de Emílio Odebrecht, presidente do grupo, disse à Folha que o Ultra já havia perdido a chance de comprar a Copene na segunda tentativa de realizar o leilão, em março, quando era o único interessado. O Ultra não concluiu a operação por considerar o preço alto. "Sabia que eles não apareceriam. Estou aliviado", diz.
O leilão de ontem foi a terceira tentativa do Banco Central de vender as ações da Norquisa pertencentes ao Econômico, em liquidação extrajudicial desde 1995. Com a aquisição, o consórcio Odebrecht-Mariani, que já possuía 32% da Norquisa, passa a deter agora 55,8%. O consórcio deve ainda negociar a compra das ações da Suzano na Copene, elevando a participação para 64%.
No mercado, analistas estimam que essa nova Copene, que aglutinará todos os negócios da Odebrecht no segmento, estará entre as 15 maiores petroquímicas do mundo. Estudo do Sudameris prevê que a empresa terá faturamento anual de R$ 7,3 bilhões e geração de caixa de R$ 1,6 bilhão.
"Vamos formar uma grande empresa de capital aberto e com forte presença no mercado internacional", afirmou Álvaro Cunha, presidente da OPP, braço da Odebrecht na área petroquímica. "Esse setor já está com atraso de uma década no Brasil."
Para o Banco Central, o resultado do leilão foi decepcionante. Como o ganhador pagará o preço mínimo pelas ações, haverá menos recursos para abater a dívida do Econômico sob intervenção do BC. Apenas 10% das dívidas serão quitadas com os R$ 785 milhões obtidos com a venda, segundo o próprio liquidante, Natalício Pegorini. "Me sinto frustrado. Esperava que aparecessem mais concorrentes."
A liquidação financeira será feita amanhã, com dinheiro obtido por meio de financiamento dos bancos Citibank e ABN Amro Bank. A Odebrecht não colocou um centavo.

Disputa
Desde dezembro, o Banco Central tenta vender a Copene, mas os desentendimentos entre os interessados e as disputas na Justiça atrasaram a operação. A disputa levou a uma guerra de liminares entre o Ultra e a Odebrecht. Na última sexta-feira, a Odebrecht conseguiu uma liminar que exigia que fosse respeitado o seu "direito de preferência" de compra.
Nos últimos dias, o grupo Ultra tentava suspender a venda. A empresa entrou na segunda-feira com recurso na Justiça do Rio de Janeiro contra o modelo do leilão. Na noite de terça-feira, o pedido foi negado. Era a última tentativa de Paulo Cunha, do grupo Ultra, de aquirir a Copene e vencer a Odebrecht, sua rival.
O Ultra também pensou em ir à leilão via grupo Monteiro Aranha, do qual é sócio minoritário. Mas a empresa desistiu da estratégia.

Caso Econômico
O diretor de Finanças Públicas do Banco Central, Carlos Eduardo de Freitas, disse que espera terminar a liquidação extrajudicial do Econômico até março do ano que vem.
O próximo passo é vender a participação acionária que o banco possui na Açominas. Segundo Freitas, essa venda será efetivada por meio de leilão que deve ocorrer em 15 de setembro.


Colaborou Ney Hayashi da Cruz, da Sucursal de Brasília



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