São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2001

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Venda pode devolver Econômico a Calmon de Sá

LEONARDO SOUZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ângelo Calmon de Sá, ex-controlador do banco Econômico, começou, desde ontem, a contar os dias para ter seus bens pessoais liberados. É possível até que consiga reaver o Econômico e passá-lo adiante -vendê-lo a um eventual interessado.
A venda da Copene era um passo fundamental para o Banco Central poder transformar a liquidação extrajudicial do Econômico em ordinária. Se isso ocorrer, todos os bens dos ex-administradores do Econômico -hoje arrestados- serão liberados.
E mais: os ex-administradores poderão indicar o liquidante da massa falida. Isto é, vão escolher a pessoa que ficará encarregada de recuperar os ativos restantes para quitar os débitos.
Se todos os credores forem pagos, os acionistas podem reaver a propriedade do Econômico. A lei só não permite que em situações como essa eles mantenham o controle do banco. Portanto teriam que vendê-lo.
"Não é impossível, não [que os acionistas consigam reaver a instituição". Eu não sei se nesse caso haveria interessados em comprar o banco. Talvez alguém queira adquirir a instituição por causa de ativos ocultos, como créditos tributários. Hoje, desconheço alguém interessado, mas pode ser que haja", disse à Folha Carlos Eduardo de Freitas, diretor de Finanças Públicas do BC.
Créditos tributários podem ser usados por bancos para abater impostos devidos.
Freitas ressaltou que além da venda da Copene há outros pontos importantes a resolver até tornar a liquidação ordinária.
Um deles é a venda da Açominas, em que o Econômico, assim como na Copene, detém participação. Freitas espera que a Açominas seja vendida ainda no segundo semestre deste ano. Outro é transformar cerca de R$ 3 bilhões de créditos imobiliários do FCVS (Fundo de Compensação das Variações Salariais) em títulos públicos, que seriam absorvidos diretamente pelo Tesouro Nacional -Tesouro e BC são os maiores credores do Econômico.
Há também a necessidade de atualizar o valor dos títulos públicos que compõem os ativos da massa falida. Esses títulos valem hoje, em termos contábeis (leva em consideração o vencimento dos títulos), R$ 3,9 bilhões.
Quase a totalidade desses papéis é de títulos cambiais -corrigidos pela variação do dólar. Com a alta da moeda americana, os ativos do banco valorizaram-se bastante nos últimos meses.
Para tornar a liquidação ordinária, os ativos (bens e direitos) do banco precisam equiparar-se ao passivo (dívidas e obrigações). Pela posição de março, os ativos do banco estavam em R$ 11,08 bilhões. O passivo, em R$ 13,57 bilhões. Isso daria um passivo a descoberto de R$ 2,5 bilhões.
A conjugação da venda das empresas sob o controle do banco com a valorização dos títulos cambiais deve elevar os ativos a ponto de igualá-los com o passivo. "A venda da Copene ampliou os horizontes dos acionistas do banco", disse Natalício Pegorini, liquidante do Econômico indicado pelo BC.
Os bens dos ex-administradores foram arrestados para servir de garantia caso os ativos do banco não fossem suficientes para pagar todas as dívidas.
A liquidação ordinária garantiria que esses bens fossem liberados. Reaver a propriedade do banco seria o passo seguinte.
Os acionistas, representados pelo liquidante por eles indicado, teriam que transformar os ativos em dinheiro para pagar todos os credores.



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