São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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GANÂNCIA INFECCIOSA

Autoridades americanas vão investigar AOL Time Warner e bancos; ações de tecnologia desabam

Mais fraudes abatem euforia de Wall Street

DA REDAÇÃO

Teve fôlego curto a euforia de Wall Street. As Bolsas norte-americanas voltaram a fechar em queda ontem, sob o baque da notícia de que três das maiores corporações do país -a AOL Time Warner e os bancos Citigroup e JP Morgan Chase- serão investigadas por autoridades federais sob acusação de fraude.
O índice Dow Jones encerrou o dia em ligeira baixa de 0,06%, após a alta de 6,35%, a maior desde o "crash" de 1987, no pregão anterior. A Nasdaq, Bolsa que concentra empresas tecnológicas, caiu 3,89%, e o índice Standard & Poor's 500 fechou com desvalorização de 0,56%.
Na noite da quarta-feira, depois do fechamento dos mercados, a AOL Time Warner, maior companhia de mídia do planeta, informou que terá suas contas devassadas pela SEC (Securities and Exchange Commission, órgão federal que fiscaliza o mercado de ações e as companhias de capital aberto). As ações da companhia, as mais negociadas na Bolsa de Nova York ontem, chegaram a desabar 23%, antes de fechar com desvalorização de 15%.
De acordo com uma reportagem publicada pelo jornal "The Washington Post" na semana passada, a AOL teria utilizado práticas contábeis "não convencionais" para inflar seus resultados em 2000 e 2001. A denúncia só agravou as dificuldades da companhia, que, desde o começo do ano, já perdeu 70% de seu valor de mercado. Cada ação do grupo vale hoje menos de US$ 10.
As Bolsas começaram em baixa tanto pela influência da AOL como pela divulgação de indicadores econômicos que ficaram aquém da expectativa dos analistas do mercado (leia abaixo). As encomendas de bens duráveis, por exemplo, tiveram a maior retração em sete meses, o que coloca em risco a recuperação na atividade industrial.
Paul O'Neill, o secretário norte-americano do Tesouro (equivalente ao ministro brasileiro da Fazenda), tentou passar uma mensagem otimista e de confiança ontem. Mas o efeito no ânimo dos investidores foi nulo.
"Ainda vai levar tempo para que o ânimo do mercado se recupere", afirmou Peter Ardillo, presidente da corretora Global Partner Securities. "Se chegamos ao fundo do poço ou não é uma questão que permanece sem resposta."
As Bolsas americanas estão prestes a completar a décima semana seguida de retração. Os principais índices já perderam quase metade de seu valor ante o pico, registrado há dois anos. Para alguns economistas, uma retração dessa magnitude não era vista desde a depressão dos anos 1930.
As maiores perdas têm se concentrado no setor tecnológico. Ontem não foi diferente, e, por isso, a Nasdaq sofreu uma queda maior do que a dos outros índices. O índice de empresas de semicondutores, da Bolsa da Filadélfia, caiu ontem 10%.
A fabricante de chips para computador Taiwan Semiconductor, uma das maiores do mundo no setor, informou que espera uma queda nas vendas neste trimestre e pegou analistas e investidores de surpresa. O resultado foi uma queda de 18,5% nos papéis da companhia.
Entre as empresas que caíram bastante ontem estão a Motorola (queda de 9,5%), a Micron (11,7%) e a Cisco Systems (11,3%).

Bancos na berlinda
As ações das duas maiores instituições financeiras norte-americanas, o Citigroup e o JP Morgan Chase, oscilaram bastante. As cotações estavam em alta, com a notícia de que os bancos recomprariam seus papéis para inverter a forte depreciação dos últimos dias, mas começaram a cair depois que a agência de notícias Bloomberg divulgou que a SEC iniciaria uma investigação para apurar suspeitas de fraude.
Uma investigação do Senado norte-americano apontou o Citi e o JP como cúmplices dos esquemas fraudulentos que a Enron, gigante do setor de energia que quebrou no ano passado, utilizava para maquiar balanços e inflar resultados. Até a noite de ontem, não havia a confirmação de que a SEC fará a investigação.
O Citigroup informou que ampliará para US$ 2 bilhões o total que será gasto neste mês na recompra de ações da corporação. Com isso, pretende elevar o preços de seus papéis. O grupo já perdeu 40% de seu valor de mercado neste ano. Ontem, as ações fecharam praticamente estáveis, com valorização de 0,2%.
Já o JP Morgan acabou encerrando o dia com mais uma desvalorização significativa, de 4,1%. Uma da causas foi a decisão da agência Moody's de rebaixar a perspectiva dos papéis do grupo de "estável" para "negativa".

Congresso age
O Congresso norte-americano aprovou ontem, por ampla maioria, o projeto que fará a maior reformulação nas práticas contábeis do país desde a medidas implantadas logo após o "crash" de 1929. Para que a emenda constitucional vire lei, só falta a assinatura do presidente George W. Bush.
As medidas aumentam os tempos de prisão em casos de fraudes e criam penas para casos de destruição de documentos (como ocorreu no caso Enron).


Com agências internacionais


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