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GANÂNCIA INFECCIOSA
Autoridades americanas vão investigar AOL Time Warner e bancos; ações de tecnologia desabam
Mais fraudes abatem euforia de Wall Street
DA REDAÇÃO
Teve fôlego curto a euforia de Wall Street. As Bolsas norte-americanas voltaram a fechar em queda ontem, sob o baque da notícia de que três das maiores corporações do país -a AOL Time Warner e os bancos Citigroup e JP
Morgan Chase- serão investigadas por autoridades federais sob
acusação de fraude.
O índice Dow Jones encerrou o dia em ligeira baixa de 0,06%,
após a alta de 6,35%, a maior desde o "crash" de 1987, no pregão
anterior. A Nasdaq, Bolsa que concentra empresas tecnológicas,
caiu 3,89%, e o índice Standard &
Poor's 500 fechou com desvalorização de 0,56%.
Na noite da quarta-feira, depois
do fechamento dos mercados, a
AOL Time Warner, maior companhia de mídia do planeta, informou que terá suas contas devassadas pela SEC (Securities and
Exchange Commission, órgão federal que fiscaliza o mercado de
ações e as companhias de capital
aberto). As ações da companhia,
as mais negociadas na Bolsa de
Nova York ontem, chegaram a
desabar 23%, antes de fechar com
desvalorização de 15%.
De acordo com uma reportagem publicada pelo jornal "The
Washington Post" na semana
passada, a AOL teria utilizado
práticas contábeis "não convencionais" para inflar seus resultados em 2000 e 2001. A denúncia
só agravou as dificuldades da
companhia, que, desde o começo
do ano, já perdeu 70% de seu valor de mercado. Cada ação do
grupo vale hoje menos de US$ 10.
As Bolsas começaram em baixa
tanto pela influência da AOL como pela divulgação de indicadores econômicos que ficaram
aquém da expectativa dos analistas do mercado (leia abaixo). As
encomendas de bens duráveis,
por exemplo, tiveram a maior retração em sete meses, o que coloca em risco a recuperação na atividade industrial.
Paul O'Neill, o secretário norte-americano do Tesouro (equivalente ao ministro brasileiro da Fazenda), tentou passar uma mensagem otimista e de confiança ontem. Mas o efeito no ânimo dos
investidores foi nulo.
"Ainda vai levar tempo para
que o ânimo do mercado se recupere", afirmou Peter Ardillo, presidente da corretora Global Partner Securities. "Se chegamos ao
fundo do poço ou não é uma
questão que permanece sem resposta."
As Bolsas americanas estão
prestes a completar a décima semana seguida de retração. Os
principais índices já perderam
quase metade de seu valor ante o
pico, registrado há dois anos. Para alguns economistas, uma retração dessa magnitude não era
vista desde a depressão dos anos
1930.
As maiores perdas têm se concentrado no setor tecnológico.
Ontem não foi diferente, e, por isso, a Nasdaq sofreu uma queda
maior do que a dos outros índices. O índice de empresas de semicondutores, da Bolsa da Filadélfia, caiu ontem 10%.
A fabricante de chips para computador Taiwan Semiconductor,
uma das maiores do mundo no
setor, informou que espera uma
queda nas vendas neste trimestre
e pegou analistas e investidores
de surpresa. O resultado foi uma
queda de 18,5% nos papéis da
companhia.
Entre as empresas que caíram
bastante ontem estão a Motorola
(queda de 9,5%), a Micron
(11,7%) e a Cisco Systems (11,3%).
Bancos na berlinda
As ações das duas maiores instituições financeiras norte-americanas, o Citigroup e o JP Morgan
Chase, oscilaram bastante. As cotações estavam em alta, com a notícia de que os bancos recomprariam seus papéis para inverter a
forte depreciação dos últimos
dias, mas começaram a cair depois que a agência de notícias
Bloomberg divulgou que a SEC
iniciaria uma investigação para
apurar suspeitas de fraude.
Uma investigação do Senado
norte-americano apontou o Citi e
o JP como cúmplices dos esquemas fraudulentos que a Enron, gigante do setor de energia que
quebrou no ano passado, utilizava para maquiar balanços e inflar
resultados. Até a noite de ontem,
não havia a confirmação de que a
SEC fará a investigação.
O Citigroup informou que ampliará para US$ 2 bilhões o total
que será gasto neste mês na recompra de ações da corporação.
Com isso, pretende elevar o preços de seus papéis. O grupo já
perdeu 40% de seu valor de mercado neste ano. Ontem, as ações
fecharam praticamente estáveis,
com valorização de 0,2%.
Já o JP Morgan acabou encerrando o dia com mais uma desvalorização significativa, de 4,1%.
Uma da causas foi a decisão da
agência Moody's de rebaixar a
perspectiva dos papéis do grupo
de "estável" para "negativa".
Congresso age
O Congresso norte-americano aprovou ontem, por ampla maioria, o projeto que fará a maior reformulação nas práticas contábeis do país desde a medidas implantadas logo após o "crash" de 1929. Para que a emenda constitucional vire lei, só falta a assinatura do presidente George W. Bush.
As medidas aumentam os tempos de prisão em casos de fraudes e criam penas para casos de destruição de documentos (como ocorreu no caso Enron).
Com agências internacionais
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