São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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VOLTANDO NO TEMPO

Preço do botijão faz moradora apelar para fogareiro improvisado

Madeira substitui gás em favela

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Antes símbolo da boa culinária, cozinhar em fogão a lenha está virando alternativa para economizar gás nos bolsões de pobreza das grandes cidades.
Nas favelas de Recife, é cada vez maior o número de famílias que trocam o gás de cozinha pelo carvão ou lenha. "Com esse preço não tenho mais condições de comprar botijão", diz Marleide Barbosa da Silva, 46, moradora da favela de Santo Amaro.
Marleide alterna o uso do gás de cozinha com o que chama de "fogão de pau" -um latão de tinta com uma abertura lateral e grelha improvisada para sustentar a panela. Assim, um botijão de 13 kg dura até quatro meses.
"Só uso o gás para fazer café ou quando tenho crise de asma por causa da fumaça", diz. A mulher, que mora com o marido desempregado Manoel dos Santos da Silva, 49, em um barraco de um cômodo, recebe R$ 5 por semana para lavar pratos em um bar da favela onde vive.
Silva obtém cerca de R$ 30 mensais catando latas de alumínio. Com isso, mais da metade da renda do casal seria gasta com um botijão de gás -que custa até R$ 28 na cidade.
Marleide diz que não vê diferença na comida preparada no gás ou na lenha. "Feijão duro não cozinha em lugar nenhum."
A única diferença, afirma, é o esforço extra que o "fogão de pau" exige para ser acionado. Todos os dias ela é obrigada a ir para os fundos da casa cortar tábuas e caixotes que armazena para servir de combustível.
Marleide também nunca ouviu falar do auxílio-gás, programa do governo federal que destina R$ 15 a cada dois meses a 6.000 famílias de baixa renda.



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