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INTEGRAÇÃO
"Para alguns setores do país que não estiverem preparados, a Alca vai ser absolutamente mortal", diz Piva
Alca fará Brasil perder US$ 1 bi, diz Fiesp
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O Brasil perderá US$ 1 bilhão
por ano em seu comércio exterior, a partir do dia 1º de janeiro
de 2006, a data prevista para a entrada em vigor da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas,
que deve abranger os 34 países
americanos, exceto Cuba).
Esse é o resultado do primeiro
estudo abrangente sobre as consequências da Alca para o Brasil,
apresentado ontem pela Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Incluídos todos os setores, o
Brasil passará a exportar mais
US$ 1,252 bilhão, se as tarifas de
importação de todos os países da
Alca foram levadas diretamente a
zero (hipótese que não está, de todo modo, contemplada na negociação, que prevê desgravação tarifária escalonada).
Mas o país aumentará suas importações em US$ 2,254 bilhões,
do que resulta a perda de exato
US$ 1.001.595.
Para um país que tem no déficit
das contas externas a sua maior
vulnerabilidade, gastar mais ainda com importações já é um problema.
Mas, "para alguns setores que
não estiverem preparados, a Alca
vai ser absolutamente mortal",
completa Horácio Lafer Piva, o
presidente da Fiesp.
O estudo só consolidou cientificamente a expectativa empírica
de Piva de que que o país tem "a
necessidade absoluta de reduzir
suas assimetrias em relação aos
países desenvolvidos. Sem isso,
não dá nem para começar o jogo".
Algumas das assimetrias estão
no quadro abaixo. Mas há outras
igualmente formidáveis: os Estados Unidos contam com um exército de 16.320 pessoas para sua defesa comercial, ao passo que os
brasileiros que participam dessa
guerra não vão além de ridículos
62.
As deficiências internas fazem,
por exemplo, com que exportar
uma mercadoria de US$ 20 mil de
São Paulo para Denver (Colorado) custe US$ 1.444,96 a mais,
além de quatro dias adicionais, do
que percorrer o trajeto exatamente inverso.
"É amanhã"
O estudo encomendado pela
Fiesp foi entregue, há duas semanas, aos ministros Celso Lafer
(Relações Exteriores) e Sérgio
Amaral (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), os
responsáveis principais pelas negociações da Alca.
Serve, acima de tudo, para mostrar o que o governo precisa fazer
"para eliminar as deficiências sistêmicas" do Brasil, como diz Piva.
Mas o trabalho servirá também
para que o empresariado se prepare para as negociações e adaptações que terá que fazer, se quiser
sobreviver. "2005 e 2006 é amanhã", afirma Piva, aludindo aos
prazos para finalizar a negociação
da Alca e para começar a sua implantação.
Há, no estudo, também um recado indireto: o prazo para as primeiras ofertas de redução tarifária na Alca (15 de janeiro) é exíguo
demais ante as assimetrias detectadas com precisão pelo estudo.
Ainda mais que haverá um novo governo a partir de 1º de janeiro sem tempo para aprofundar
suas propostas de reformas que
reduzam as deficiências sistêmicas do país. "As propostas dos
candidatos até agora são muito
genéricas. Desconfio que só serão
aprofundadas para o segundo
turno", diz Piva.
O estudo também identifica
com precisão em que pontos deve
se concentrar o esforço dos negociadores brasileiros. Trata-se de
24 famílias de produtos em que o
Brasil é muito competente na fabricação, mas enfrenta maiores
restrições nos países que comporão a Alca.
Famílias
São produtos como sapatos,
aço, suco de laranja, entre outros.
No total essas 24 famílias foram
responsáveis por um faturamento, em 1999, de US$ 4,255 bilhões
ou quase 76% do total exportado
para os três países que formam o
Nafta (Estados Unidos, Canadá e
México), exatamente os mercados da futura Alca que mais interessam ao Brasil.
O estudo utilizou dados do período 1995/99, para cobrir tanto a
fase em que o câmbio ficou supervalorizado, prejudicando as exportações e estimulando as importações (95/98), como o ano de
1999, em que a desvalorização
cambial deveria ter invertido a situação (de fato o fez, mas em escala reduzida).
A Fiesp trabalhou apenas com
as tarifas de importação, sem entrar, portanto, na questão das
BNTs (Barreiras Não-Tarifárias),
que, hoje, complicam mais as
vendas brasileiras do que as tarifas propriamente ditas.
O estudo cita dados fornecidos
pela Embaixada do Brasil em
Washington, segundo os quais
49,49% dos produtos brasileiros
exportados para o Nafta enfrentaram algum tipo de restrição não
tarifária em 1999 (o último ano
que o trabalho levou em consideração).
Significa dizer que mesmo que
os Estados Unidos reduzam a zero suas tarifas para produtos brasileiros, quase 50% das exportações do país continuariam enfrentando barreiras.
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