São Paulo, sábado, 26 de julho de 2008

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Para Lula, Rodada Doha está "mais perto de um ponto de equilíbrio"

PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

Depois de conversar por celular com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a negociação da Rodada Doha está "mais perto de um ponto de equilíbrio". A posição otimista contraria os resultados das negociações mais recentes, mas Lula afirmou que "o que o meu ministro disse para mim, ele não disse para vocês".
"Nós não podemos aceitar um acordo que implique frear a indústria dos países em desenvolvimento. Mas sempre existirá um ponto de equilíbrio. Por isso a negociação é importante. Aquilo que parecia ser fácil fica difícil, aquilo que parecia difícil fica fácil. E vocês vão perceber que tudo o que parecia impossível fica possível", disse, em entrevista na varanda da imensa residência do embaixador do Brasil em Portugal.
Sorrindo, o presidente brasileiro afirmou que continua "otimista" e que não pode nem mencionar a possibilidade de fracasso. "Se eu disser que não pode acontecer, como as pessoas que fazem manchetes dos jornais são muito inteligentes, a manchete vai dizer: presidente reconhece que pode não acontecer. Para evitar essa manchete, eu até o último milésimo estarei acreditando que vai acontecer o acordo da Rodada Doha", disse Lula. Antes, havia dito que, "se não acontecer [um acordo], valeu o sacrifício".
O presidente rejeitou a mais recente oferta de alguns países, de criar cotas para a entrada do álcool em troca de uma abertura do mercado brasileiro. "Nós não queremos privilegiar um setor contra outro setor. O que nós queremos é um pacote que envolva agricultura, que possa ajudar a flexibilização do mercado agrícola europeu para os países pobres e para os países emergentes", afirmou Lula, que confia que "a inteligência humana obrigará os governantes do mundo inteiro a ter consciência de que é preciso um acordo". Lula aproveitou ainda a entrevista para mandar uma bronca bem clara ao ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que havia minimizado a importância das negociações: "A fala do Stephanes não tem nenhuma influência na negociação da Rodada Doha".

Fome
Antes, em discurso para os integrantes da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), Lula havia dito que as "práticas desleais do comércio internacional" têm ligação direta com a fome no mundo, em um de seus mais duros ataques contra os subsídios "intoleráveis" dos países desenvolvidos.
Ele deixou claro que a disputa em Doha é por um "acordo que deixe de tratar o comércio agrícola como uma exceção às regras" do livre comércio e defendeu "um entendimento que não ignore as populações que sofrem no estômago com as práticas desleais do comércio internacional".
No mês passado, em Roma, na Cúpula sobre Segurança Alimentar, Lula já havia discursado que um "fator decisivo para a alta dos alimentos é o intolerável protecionismo com que os países ricos cercam a sua agricultura, atrofiando e desorganizando a produção em outros países, especialmente os mais pobres".
Ontem, em reunião fechada dos oitos integrantes da CPLP, o presidente brasileiro falou que, "após anos de dependência e de lutar contra o protecionismo das economias desenvolvidas, muitos países abandonaram suas agriculturas e, com a alta de preços e diminuição dos estoques, suas populações sofrem com a falta de alternativas".
O discurso foi passado por um integrante da comitiva presidencial em Lisboa.


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