São Paulo, sábado, 26 de agosto de 2000


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INFLAÇÃO
Ministros temem repique inflacionário; pesquisa Datafolha, porém, já detecta queda de preços nos hipermercados de SP
Malan e Tápias ameaçam importar comida

MARCELO BILLI
ANTONIO CARLOS SEIDL

DA REPORTAGEM LOCAL

A fim de conter aumentos de preços, o governo federal pode liberar a importação de alimentos e de outros produtos de supermercado. A hipótese foi sugerida ontem pelos ministros Alcides Tápias, do Desenvolvimento, e Pedro Malan, da Fazenda, em palestras e entrevistas em São Paulo.
"Se houver necessidade de coibir abusos, o governo vai procurar agir", disse Tápias. "Você pode autorizar a importação de produtos sucedâneos (similares) para derrubar os preços, com aumento da oferta para a população", disse o ministro ontem em São Paulo, em evento nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU).
O ministrou citou os aumentos em supermercados e os reajustes do pão, por ora apenas anunciados pelos panificadores, como motivos de preocupação.
Quanto aos mercados, pesquisa Datafolha indica que os preços nos hipermercados tiveram redução na semana passada. Nos supermercados, a tendência é de aumentos menores.
O ministro Pedro Malan admitiu que o governo pode recorrer à importação de alimentos para conter a alta de preços.
"Isso (importar mais para segurar preços) já fizemos no passado inúmeras vezes. Acho que, dependendo da situação de um produto específico, é possível que se venha a fazer (importar) no futuro, mas somente depois de análise cuidadosa", disse Malan, que participou ontem de um debate com economistas em São Paulo.

Ironia
Apesar da preocupação dos ministros, os preços nos hipermercados já começaram a cair em São Paulo. Segundo pesquisa Datafolha, os preços recuaram em média 0,49% na semana passada.
A pesquisa mede a variação de preços dos alimentos e de produtos de limpeza em estabelecimentos da cidade.
Nos supermercados os preços ainda não cederam, mas os aumentos foram menores que os verificados na semana anterior. Entre os dias 9 e 16 de agosto, os preços subiram 0,78%, enquanto o aumento foi de 0,48% na semana posterior.
De acordo com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP, a inflação do mês de agosto deve ser menor que a de julho, com tendência de queda para os meses seguintes.
O alegado repique da inflação levou o governo a tomar iniciativas que havia muito não eram vistas na economia brasileira.

Intervenção
O governo interveio a fim de regular os preços de remédios e combustíveis, além de conter e parcelar reajustes de tarifas de energia elétrica; ontem ameaçou alguns setores com abertura comercial.
Tápias também lembrou que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) poderia ser acionado para investigar e coibir aumentos especulativos de preços. O ministro também afirmou que medidas como o aumento de taxas de juros e restrições ao crédito poderiam ser adotadas contra setores que praticassem preços abusivos.

Copom
A última decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) -que manteve a taxa básica de juros em 16,5%- também é indício das preocupações que a inflação têm despertado no governo.
A ata da última reunião do Copom ainda não foi publicada. Mas há consenso de que a possibilidade dos aumentos de preços em alguns setores se alastrarem e contaminarem os índices de inflação nos próximos meses teria sido um dos principais motivos para a manutenção dos juros.
Alguns dos números do índice de inflação apresentam estabilidade ou alta inferior à apresentada pela "inflação cheia". O núcleo da inflação é uma medida de variação de preços que desconsidera as flutuações temporárias de preços, ditas sazonais.
Para alguns analistas, esse indicador poderia "convencer" os técnicos do Banco Central de que não havia perigo de altas da inflação nos próximos meses.
O Comitê de Política Monetária do Banco Central, no entanto, demonstrou cautela e preferiu esperar pela divulgação dos índices deste mês.


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