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INFLAÇÃO
Ministros temem repique inflacionário; pesquisa Datafolha, porém, já detecta queda de preços nos hipermercados de SP
Malan e Tápias ameaçam importar comida
MARCELO BILLI
ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL
A fim de conter aumentos de
preços, o governo federal pode liberar a importação de alimentos e
de outros produtos de supermercado. A hipótese foi sugerida ontem pelos ministros Alcides Tápias, do Desenvolvimento, e Pedro Malan, da Fazenda, em palestras e entrevistas em São Paulo.
"Se houver necessidade de coibir abusos, o governo vai procurar agir", disse Tápias. "Você pode autorizar a importação de produtos sucedâneos (similares) para derrubar os preços, com aumento da oferta para a população", disse o ministro ontem em
São Paulo, em evento nas Faculdades Metropolitanas Unidas
(FMU).
O ministrou citou os aumentos
em supermercados e os reajustes
do pão, por ora apenas anunciados pelos panificadores, como
motivos de preocupação.
Quanto aos mercados, pesquisa
Datafolha indica que os preços
nos hipermercados tiveram redução na semana passada. Nos supermercados, a tendência é de aumentos menores.
O ministro Pedro Malan admitiu que o governo pode recorrer à
importação de alimentos para
conter a alta de preços.
"Isso (importar mais para segurar preços) já fizemos no passado
inúmeras vezes. Acho que, dependendo da situação de um produto
específico, é possível que se venha
a fazer (importar) no futuro, mas
somente depois de análise cuidadosa", disse Malan, que participou ontem de um debate com
economistas em São Paulo.
Ironia
Apesar da preocupação dos ministros, os preços nos hipermercados já começaram a cair em São
Paulo. Segundo pesquisa Datafolha, os preços recuaram em média
0,49% na semana passada.
A pesquisa mede a variação de
preços dos alimentos e de produtos de limpeza em estabelecimentos da cidade.
Nos supermercados os preços
ainda não cederam, mas os aumentos foram menores que os verificados na semana anterior. Entre os dias 9 e 16 de agosto, os preços subiram 0,78%, enquanto o
aumento foi de 0,48% na semana
posterior.
De acordo com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
da USP, a inflação do mês de
agosto deve ser menor que a de
julho, com tendência de queda
para os meses seguintes.
O alegado repique da inflação
levou o governo a tomar iniciativas que havia muito não eram vistas na economia brasileira.
Intervenção
O governo interveio a fim de regular os preços de remédios e
combustíveis, além de conter e
parcelar reajustes de tarifas de
energia elétrica; ontem ameaçou
alguns setores com abertura comercial.
Tápias também lembrou que o
Cade (Conselho Administrativo
de Defesa Econômica) poderia ser
acionado para investigar e coibir
aumentos especulativos de preços. O ministro também afirmou
que medidas como o aumento de
taxas de juros e restrições ao crédito poderiam ser adotadas contra setores que praticassem preços abusivos.
Copom
A última decisão do Copom
(Comitê de Política Monetária)
-que manteve a taxa básica de
juros em 16,5%- também é indício das preocupações que a inflação têm despertado no governo.
A ata da última reunião do Copom ainda não foi publicada. Mas
há consenso de que a possibilidade dos aumentos de preços em alguns setores se alastrarem e contaminarem os índices de inflação
nos próximos meses teria sido um
dos principais motivos para a manutenção dos juros.
Alguns dos números do índice
de inflação apresentam estabilidade ou alta inferior à apresentada pela "inflação cheia". O núcleo
da inflação é uma medida de variação de preços que desconsidera
as flutuações temporárias de preços, ditas sazonais.
Para alguns analistas, esse indicador poderia "convencer" os técnicos do Banco Central de que
não havia perigo de altas da inflação nos próximos meses.
O Comitê de Política Monetária
do Banco Central, no entanto, demonstrou cautela e preferiu esperar pela divulgação dos índices
deste mês.
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