São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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EM TRANSE

No início de sua reunião anual, Fundo elogia equipe econômica do Brasil e rebaixa perspectiva de crescimento do país

Alternativa, agora, é mais arrocho, diz FMI

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Depois de oferecer US$ 30,4 bilhões e de fazer sucessivos elogios à equipe econômica brasileira, o FMI (Fundo Monetário Internacional) diz ter esgotado os instrumentos de que dispõe para restaurar a confiança dos mercados com relação ao país.
Paralisado, o Fundo reconhece agora que não há nada mais a fazer a não ser esperar as eleições e desejar que o próximo governo obtenha "consenso social e apoio político" para realizar um "doloroso" esforço fiscal.
Essa é a síntese da exposição do diretor do Departamento de Pesquisa do Fundo, Kenneth Rogoff, durante entrevista de abertura da reunião anual do FMI e do Banco Mundial, ontem em Washington.
Rogoff rebaixou as estimativas de crescimento do FMI para a economia mundial, assim como as previsões de crescimento do Brasil para 2002 (de 2,5% para 1,5%) e 2003 (de 3,5% para 3%). As previsões anteriores do FMI sobre a economia brasileira, feitas em abril, foram reduzidas devido ao aumento da aversão ao risco-Brasil entre abril e setembro.
Num sinal de que a crise brasileira será a grande estrela do encontro, Rogoff teve de responder a várias perguntas sobre se o pacote de US$ 30,4 bilhões ao Brasil fracassou em seu objetivo de acalmar os mercados. Rogoff disse esperar que a forte desvalorização do real na última semana "seja facilmente revertida", mas reconheceu não ter uma idéia clara do que vai acontecer com o Brasil.
"Depois das eleições, saberemos (o que vai ocorrer com a economia brasileira) mais do que sabemos agora", disse ele. "Só posso repetir que, no médio prazo, é muito importante reduzir a relação dívida/PIB e há várias maneiras de fazer isso", afirmou.
Uma das alternativas, segundo Rogoff, é manter a atual política de geração de superávits fiscais para pagar a dívida pública brasileira, que atingiu 62% do PIB no final de julho. "É uma tarefa dolorosa, especialmente porque as taxas de juro são altas e porque esse esforço requer um grande consenso social e apoio político." Segundo ele, outra maneira de reduzir o volume da dívida brasileira é aprofundar as reformas estruturais "para acelerar o crescimento e permitir que a economia escape do problema da dívida".
As declarações de Rogoff não trouxeram elementos novos ao atual cenário da crise ou do relacionamento do governo brasileiro com a direção do FMI. No entanto, ao descrever as causas da crise econômica brasileira, o diretor do departamento de pesquisa do Fundo distanciou-se um pouco do discurso usual de seus chefes - o diretor-gerente do FMI, Horst Köhler, e a sub-diretora-gerente, Anne Krueger.
Diferentemente deles, Rogoff deu muito mais ênfase ao tamanho da dívida do que às turbulências eleitorais. "De modo geral, os mercados acreditam que há riscos altos. Olhando para o futuro, claramente a prioridade política brasileira no Brasil é reduzir o custo da dívida e as autoridades precisam focar no ajuste fiscal e nas reformas estruturais para ampliar as fontes de crescimento."


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