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EM TRANSE
Banco Central recompra dívida atrelada ao dólar engordada pela alta da moeda; exportadores voltam ao mercado
Mercado lucra e deixa dólar cair um pouco
ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL
Após a exagerada alta da terça-feira, o dólar devolveu parte de
sua valorização ontem. A moeda
norte-americana caiu 3,1% e fechou a R$ 3,663.
O risco Brasil, ainda em níveis
estratosféricos, também caiu um
pouco, 2,5%, para 2.165 pontos. A
Bovespa subiu 0,86%.
A escalada do dólar nesta semana, quando bateu dois recordes
consecutivos, começou na segunda. O mercado reagia à pesquisa
Datafolha que indicava a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) na preferência dos eleitores.
A sondagem mostrou que cresce
a possibilidade de o candidato
vencer no primeiro turno.
A pressão sobre a moeda norte-americana diminuiu depois que o
Banco Central recomprou dívida
pública atrelada ao câmbio.
O BC não fez a rolagem dos títulos, que somavam US$ 1,5 bilhão e
venciam ontem. A medida já havia sido anunciada na semana
passada e atribuída à falta de demanda por "hedge" (proteção
cambial). A forte alta do dólar anteontem está relacionada à ação
de bancos que buscavam maximizar seus ganhos.
Como os papéis não seriam renovados e o pagamento seria feito
utilizando como referência o Ptax
(preço médio do dólar medido
pelo BC) de anteontem, aos bancos que detinham os títulos interessava um dólar mais alto, que
elevaria seus lucros.
"Os bancos puxaram o dólar o
que puderam para lucrar o máximo possível com os papéis do governo que tinham na mão [e venciam ontem"", diz Charles Phillipp, da corretora SLW. "Era esperado que hoje [ontem" o câmbio tivesse algum alívio."
Com a expectativa para uma
possível vitória de Lula nas eleições mais incorporada ao dólar e
enquanto aguarda nova pesquisa
para dar margem a mais especulação, o mercado de câmbio pode
ter mais um dia tranquilo hoje.
Mais nervosismo na sexta
"Amanhã [hoje", os negócios
com o dólar poderão operar novamente na calmaria, mas acredito que, na sexta-feira, o nervosismo deverá voltar", afirma Maurício Zanella, do Lloyds TSB.
Na terça-feira, dia 1 º de outubro, há o vencimento de US$ 1,25
bilhão em papéis cambiais. O BC
anunciou que pretende renovar
até 70% desse vencimento. Mas o
mercado já avalia que, mais uma
vez, não deverá haver rolagem.
"A situação irá se repetir: não há
procura por "hedge". Os investidores querem ter dólares em mãos",
avalia Zanellla. Dessa forma, a
mesma movimentação da segunda-feira e da terça-feira deverá começar a se repetir amanhã.
A procura pelo dólar como um
ativo real é espelhada pelo fato de
a cotação à vista estar acima da do
mercado futuro. Na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), o
dólar para outubro fechou a R$
3,66. Para novembro, a R$ 3,552.
O volume negociado ontem foi
de cerca de US$ 1 bilhão, considerado normal. O BC vendeu dólares no mercado à vista. Operadores notaram, além das tesourarias
dos bancos, a volta dos exportadores às negociações.
"Muitos exportadores ligaram
atraídos pelo alto valor que o dólar atingiu nos últimos dias. Sentimos que houve muita manipulação no mercado para que o dólar
chegasse aos níveis desta semana", diz Miriam Tavares, diretora
de câmbio da corretora AGK.
Juros menores
As projeções de juros nos contratos DI -que consideram os
negócios entre bancos- recuaram na esteira do dólar. O contrato DI mais negociado na BM&F,
com prazo em janeiro, fechou
com taxa de 21,76%, contra
22,09% anuais no dia anterior.
Já o cupom cambial -projeção
do valor da taxa de juros em dólar- voltou a fechar pressionado.
O FRA (Forward Rate Agreement, melhor medida do cupom
cambial) de prazo mais curto fechou com taxa de 54,59% ao ano,
ante 53,50% ao ano.
Colaborou Fabricio Vieira,
da Reportagem Local
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