São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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EM TRANSE

Banco Central recompra dívida atrelada ao dólar engordada pela alta da moeda; exportadores voltam ao mercado

Mercado lucra e deixa dólar cair um pouco

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

Após a exagerada alta da terça-feira, o dólar devolveu parte de sua valorização ontem. A moeda norte-americana caiu 3,1% e fechou a R$ 3,663.
O risco Brasil, ainda em níveis estratosféricos, também caiu um pouco, 2,5%, para 2.165 pontos. A Bovespa subiu 0,86%.
A escalada do dólar nesta semana, quando bateu dois recordes consecutivos, começou na segunda. O mercado reagia à pesquisa Datafolha que indicava a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na preferência dos eleitores. A sondagem mostrou que cresce a possibilidade de o candidato vencer no primeiro turno.
A pressão sobre a moeda norte-americana diminuiu depois que o Banco Central recomprou dívida pública atrelada ao câmbio.
O BC não fez a rolagem dos títulos, que somavam US$ 1,5 bilhão e venciam ontem. A medida já havia sido anunciada na semana passada e atribuída à falta de demanda por "hedge" (proteção cambial). A forte alta do dólar anteontem está relacionada à ação de bancos que buscavam maximizar seus ganhos.
Como os papéis não seriam renovados e o pagamento seria feito utilizando como referência o Ptax (preço médio do dólar medido pelo BC) de anteontem, aos bancos que detinham os títulos interessava um dólar mais alto, que elevaria seus lucros.
"Os bancos puxaram o dólar o que puderam para lucrar o máximo possível com os papéis do governo que tinham na mão [e venciam ontem"", diz Charles Phillipp, da corretora SLW. "Era esperado que hoje [ontem" o câmbio tivesse algum alívio."
Com a expectativa para uma possível vitória de Lula nas eleições mais incorporada ao dólar e enquanto aguarda nova pesquisa para dar margem a mais especulação, o mercado de câmbio pode ter mais um dia tranquilo hoje.

Mais nervosismo na sexta
"Amanhã [hoje", os negócios com o dólar poderão operar novamente na calmaria, mas acredito que, na sexta-feira, o nervosismo deverá voltar", afirma Maurício Zanella, do Lloyds TSB.
Na terça-feira, dia 1 º de outubro, há o vencimento de US$ 1,25 bilhão em papéis cambiais. O BC anunciou que pretende renovar até 70% desse vencimento. Mas o mercado já avalia que, mais uma vez, não deverá haver rolagem.
"A situação irá se repetir: não há procura por "hedge". Os investidores querem ter dólares em mãos", avalia Zanellla. Dessa forma, a mesma movimentação da segunda-feira e da terça-feira deverá começar a se repetir amanhã.
A procura pelo dólar como um ativo real é espelhada pelo fato de a cotação à vista estar acima da do mercado futuro. Na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), o dólar para outubro fechou a R$ 3,66. Para novembro, a R$ 3,552.
O volume negociado ontem foi de cerca de US$ 1 bilhão, considerado normal. O BC vendeu dólares no mercado à vista. Operadores notaram, além das tesourarias dos bancos, a volta dos exportadores às negociações.
"Muitos exportadores ligaram atraídos pelo alto valor que o dólar atingiu nos últimos dias. Sentimos que houve muita manipulação no mercado para que o dólar chegasse aos níveis desta semana", diz Miriam Tavares, diretora de câmbio da corretora AGK.

Juros menores
As projeções de juros nos contratos DI -que consideram os negócios entre bancos- recuaram na esteira do dólar. O contrato DI mais negociado na BM&F, com prazo em janeiro, fechou com taxa de 21,76%, contra 22,09% anuais no dia anterior.
Já o cupom cambial -projeção do valor da taxa de juros em dólar- voltou a fechar pressionado. O FRA (Forward Rate Agreement, melhor medida do cupom cambial) de prazo mais curto fechou com taxa de 54,59% ao ano, ante 53,50% ao ano.


Colaborou Fabricio Vieira, da Reportagem Local

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