São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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Controle segura o dólar na Argentina

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

As incertezas políticas no Brasil e os controles de câmbio implementados pelo governo argentino justificam o fato de que a cotação do peso tenha superado a do real neste momento, segundo economistas do país vizinho ouvidos pela Folha.
Hugo Dias Lourenço, sócio da Delphos Investment, acredita que, apesar de que a crise econômica não seja tão aguda no Brasil, as incertezas políticas são maiores do que na Argentina devido às eleições de outubro.
"Não se sabe como vai agir o governo brasileiro após o término do mandato do presidente [Fernando Henrique" Cardoso. Não trata-se apenas de um possível calote da dívida, mas também de todas as políticas que venham a ser implementadas", afirmou.
Apesar de admitir que a estabilidade cambial verificada na Argentina nos últimos meses também é frágil, disse que no país "o desastre já aconteceu e já está refletido no câmbio".
Já o economista Ricardo Delgado, sócio da consultoria Ecolatina, lembrou que a moratória da dívida externa declarada pela Argentina em dezembro de 2001 contribuiu para equilibrar a oferta e a demanda de dólares, porque permitiu que o país deixasse de enviar ao exterior US$ 14 bilhões neste ano. Além disso, estima que as importações vão cair 50% em 2002, o que evitará a fuga de outros US$ 10 bilhões.
O economista Aldo Abram, da consultoria Exante, acredita que essa queda nas importações vai gerar um superávit comercial de US$ 15,5 bilhões neste ano.
Para ele, o governo soube aproveitar esse superávit ao obrigar as empresas a liquidar diretamente no Banco Central os dólares obtidos com as exportações superiores a US$ 200 mil, o que permitiu que as reservas internacionais voltassem a crescer a partir de julho após anos seguidos de queda.
Ao mesmo tempo, o BC começou a oferecer títulos que pagavam inicialmente juros de mais de 100% ao ano para captar os pesos que estavam no mercado, o que reduziu a demanda por dólares. Com a moeda norte-americana controlada, o BC começou a baixar as taxas gradativamente até chegar aos atuais 40%.


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