São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mercado fica dividido sobre ação do BC

ISABEL CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado financeiro está dividido em relação ao Banco Central: parte acha que a instituição agiu corretamente ao não rolar a dívida cambial que vencia ontem, no valor de US$ 1,5 bilhão, e que deve manter a mesma atitude nos próximos vencimentos; outra parte acha que a decisão de não fazer a rolagem num momento de turbulência como o atual foi um grande erro e que repeti-lo poderá levar o dólar às alturas.
A baixa demanda por "hedge" (proteção) foi a razão apresentada pelo BC para não rolar a dívida que vencia ontem. A versão do mercado é que a rolagem não aconteceu porque o BC não estaria disposto a pagar o juro que seria pedido, na faixa de 50% ao ano, além da variação cambial.
Quem acha que o BC está agindo errado diz que, sem a rolagem, a pressão sobre o dólar à vista pode se intensificar e a cotação se transformar numa bola de neve descontrolada, o que repercutiria diretamente na inflação e no risco-país.
Na opinião de Miguel Sano, gestor de renda fixa da Sul América Investimentos, o BC deveria aceitar a rolagem, mesmo com juros altos. "O dólar é um ativo escasso. Faltam linhas de financiamento e há vários compromissos externos a serem pagos. O risco de o dólar fugir do controle é grande", diz.
Os que acham que o BC fez bem em não fazer a rolagem alegam que aceitar juros na faixa de 50% seria assumir uma posição de desespero. Além de aumentar a dívida pública, o dólar subiria mais ainda por causa da demonstração de fragilidade. Além disso, acrescentam, a situação é passageira. A cotação do dólar é irreal e, cedo ou tarde, vai ceder.
Para Francisco Petros, presidente da Abamec (Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais), o principal erro do BC foi permitir uma grande dose de vencimentos de dívida cambial entre setembro de 2002 e janeiro de 2003.
No final de abril, explica, a dívida cambial que venceria nesse período somava US$ 8,7 bilhões. Devido a repactuações, de lá para cá o valor subiu para US$ 22,5 bilhões. "Era previsível a turbulência agora. Não há justificativa para o BC ter encurtado a dívida."


Texto Anterior: Banco Central não vê manipulação da taxa de câmbio
Próximo Texto: Controle segura o dólar na Argentina
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.