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Empresas demitem e contratam por menos, diz IBGE
DA SUCURSAL DO RIO
Pela 19ª vez seguida, o rendimento médio real do trabalhador caiu. Em julho, a retração foi de 3%, em relação ao mesmo mês do ano passado. Desde janeiro de
2001, a renda só caiu. Na comparação com junho, porém, o indicador ficou estável.
Para Shyrlene Ramos de Souza, economista do Departamento de Emprego e Rendimento do IBGE, há um movimento na economia de demitir funcionários com salários maiores para voltar a contratar pagando menos. Isso, diz, explica em parte a queda na renda.
O fato de os serviços e o comércio estarem sustentando o aumento do número de vagas criadas no mercado de trabalho também justifica essa nova redução
do rendimento, diz. São os dois
setores que pagam os menores salários. Na média, a renda ficou em
R$ 802,09 em julho.
Por tipo de contratação, houve
uma queda mais intensa no rendimento dos empregados com
carteira assinada (3,3%) do que
dos sem-carteira (0,7%) em julho,
o que indica a precarização do
trabalho.
No acumulado do ano, o rendimento médio registra queda de
4,2% até julho. No caso dos empregados com carteira, o recuo foi
de 4,7%. Já no dos sem-carteira
houve uma ligeira alta de 0,4%.
O economista Luís Suzigan, da
consultoria LCA, afirmou que
não acredita que estejam acontecendo demissões e novas contratações com salários inferiores.
"Isso ocorreu muito até o começo
do ano. Mas, com o crescimento
da ocupação na indústria, cujos
postos de trabalho são os mais
bem remunerados, o quadro deve
ter mudado."
Para ele, apesar de o emprego já
estar reagindo, a renda deve se
manter em declínio ainda por um
bom tempo. É que o consumo doméstico continua fraco, o que não
estimula a produção interna e,
consequentemente, a geração de
empregos suficientes para absorver a mão-de-obra ociosa.
Existe ainda uma grande oferta
de mão-de-obra, diz, o que impede uma recuperação consistente
da renda.
O que também está comprimindo o rendimento do trabalhador é
o aumento da inflação acima do
previsto, segundo Suzigan. Para
ele, isso impede até que muitas categorias consigam reajustes que
recuperem as perdas da inflação.
Ainda segundo Suzigan, o dólar
pressionado -e mantido nos
atuais níveis- é ruim para o rendimento, porque eleva a inflação e
reduz o consumo interno.
Desestímulo
Segundo o economista Sergei
Soares, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), há
no Brasil um desestímulo para a
contratação formal, por causa dos
encargos. "Nem sei como alguém
ainda assina carteira no Brasil. A
maior informalidade é o dado
mais negativo da pesquisa."
O pior, diz Soares, é que está se
experimentando agora um retorno à informalidade, que havia registrado queda em boa parte do ano passado.
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