São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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Empresas demitem e contratam por menos, diz IBGE

DA SUCURSAL DO RIO

Pela 19ª vez seguida, o rendimento médio real do trabalhador caiu. Em julho, a retração foi de 3%, em relação ao mesmo mês do ano passado. Desde janeiro de 2001, a renda só caiu. Na comparação com junho, porém, o indicador ficou estável.
Para Shyrlene Ramos de Souza, economista do Departamento de Emprego e Rendimento do IBGE, há um movimento na economia de demitir funcionários com salários maiores para voltar a contratar pagando menos. Isso, diz, explica em parte a queda na renda.
O fato de os serviços e o comércio estarem sustentando o aumento do número de vagas criadas no mercado de trabalho também justifica essa nova redução do rendimento, diz. São os dois setores que pagam os menores salários. Na média, a renda ficou em R$ 802,09 em julho.
Por tipo de contratação, houve uma queda mais intensa no rendimento dos empregados com carteira assinada (3,3%) do que dos sem-carteira (0,7%) em julho, o que indica a precarização do trabalho.
No acumulado do ano, o rendimento médio registra queda de 4,2% até julho. No caso dos empregados com carteira, o recuo foi de 4,7%. Já no dos sem-carteira houve uma ligeira alta de 0,4%.
O economista Luís Suzigan, da consultoria LCA, afirmou que não acredita que estejam acontecendo demissões e novas contratações com salários inferiores. "Isso ocorreu muito até o começo do ano. Mas, com o crescimento da ocupação na indústria, cujos postos de trabalho são os mais bem remunerados, o quadro deve ter mudado."
Para ele, apesar de o emprego já estar reagindo, a renda deve se manter em declínio ainda por um bom tempo. É que o consumo doméstico continua fraco, o que não estimula a produção interna e, consequentemente, a geração de empregos suficientes para absorver a mão-de-obra ociosa.
Existe ainda uma grande oferta de mão-de-obra, diz, o que impede uma recuperação consistente da renda.
O que também está comprimindo o rendimento do trabalhador é o aumento da inflação acima do previsto, segundo Suzigan. Para ele, isso impede até que muitas categorias consigam reajustes que recuperem as perdas da inflação.
Ainda segundo Suzigan, o dólar pressionado -e mantido nos atuais níveis- é ruim para o rendimento, porque eleva a inflação e reduz o consumo interno.

Desestímulo
Segundo o economista Sergei Soares, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), há no Brasil um desestímulo para a contratação formal, por causa dos encargos. "Nem sei como alguém ainda assina carteira no Brasil. A maior informalidade é o dado mais negativo da pesquisa."
O pior, diz Soares, é que está se experimentando agora um retorno à informalidade, que havia registrado queda em boa parte do ano passado.


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