São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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Instabilidade emperra campanhas salariais

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A alta do dólar, as incertezas na economia e o processo eleitoral já estão "represando" as campanhas salariais deste ano. Especialistas e sindicalistas informaram que a desvalorização do real não só retarda, mas emperra as negociações entre patrões e empregados com data-base neste semestre.
O presidente da Federação Estadual dos Metalúrgicos da CUT, Adi Lima, disse que alguns setores patronais já avisaram que "as rodadas de negociações só vão acontecer depois das eleições".
A entidade, que representa 250 mil metalúrgicos no Estado de São Paulo, uma das principais categorias profissionais com data-base em 1º de novembro, entregou sua pauta à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) há cerca de uma semana. "Em anos anteriores, as negociações já teriam começado. O maior temor é que essas incertezas levem a uma onda de demissões."
A CUT promoverá manifestações no interior do Estado e na região do ABC para reforçar a campanha e protestar contra o desemprego. Ontem, sindicalistas fizeram ato no centro de São Paulo. Um dragão chinês com seis metros de comprimento e duas cabeças foi levado para a manifestação para representar o desemprego e seus supostos criadores: uma das cabeças era uma caricatura do presidente Fernando Henrique Cardoso e a outra do presidenciável tucano, José Serra.
A discussão sobre aumento real de salário vai dar lugar à manutenção do emprego e à renovação de cláusulas sociais que já estavam nos acordos anteriores, avalia João Carlos Gonçalves, presidente em exercício da Força Sindical. A central espera reunir cerca de 30 mil trabalhadores no próximo domingo em uma assembléia na rua do Carmo para marcar a campanha salarial deste ano. Haverá sorteio de quatro carros.
A estratégia da Força foi unificar a campanha com duas outras centrais -a CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores) e a SDS (Social Democracia Sindical). Juntas, reúnem cerca de 3 milhões de trabalhadores em 19 categorias. Entre as reivindicações estão reajuste de 15%, participação nos lucros, redução da jornada de trabalho e garantia de emprego.
Na avaliação de Wilson Amorim, coordenador-técnico do Dieese, as negociações salariais serão defensivas e prejudicadas por uma questão ainda mais ampla do que a alta do dólar -a falta de crescimento econômico.
Ele acredita que haverá mais pressão para que os trabalhadores negociem benefícios variáveis -como abonos em vez de reajustes. Caso dos bancários, cita, que aprovaram na semana passada reajuste salarial de 7%, a partir de 1º deste mês, acompanhado de um abono único de R$ 1.200.
"A estratégia é tornar a folha de pagamento com volume maior de benefícios variáveis, que dependem do bom desempenho, faturamento e lucro da empresa. Mas, ao diminuir a parte fixa, a base do reajuste vai diminuindo a cada ano, e os salários vão ficando cada vez mais achatados", disse.


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