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LUÍS NASSIF
O PC da aviação
Dentro de poucos anos,
a Bombardier não será
mais o concorrente da Embraer, mas provavelmente a
Boeing e o consórcio Airbus.
A avaliação é de um experiente analista do setor aeroviário, que compara a atual
estratégia da Embraer -ao
desenvolver aviões de 90 e 120
lugares- ao fenômeno do PC
na indústria de computadores.
A IBM não avaliou corretamente a relevância dos PCs e,
quando se deu conta, os mainframes haviam sido derrotados.
É interessante avaliar o que
se passou no mercado de aviação nesse período e a notável
capacidade da empresa em
formular estratégias de longo
prazo -algo que veio com ela
desde o período de controle
militar.
O modelo ainda em vigor na
aviação comercial -e que entrou em crise nos últimos
anos- é o de "hubs". Definem-se alguns pontos centrais
de vôo, nos quais se utilizam
grandes aviões. A partir desses
centros, os vôos derivam para
cidades médias, ainda por
meio da grande companhia e,
a partir daí, para a aviação regional, com aviões menores.
Hoje um passageiro que pretender ir de Porto Alegre a
Manaus, por exemplo, passa
primeiro pelo "hub" de São
Paulo, faz escala para Brasília
e, lá, troca de vôo para Manaus. O grande problema é
que o custo maior do transporte aéreo está em terra, não em
ar -onde existe uma tripulação restrita.
Por isso, esse modelo começa
a ser trocado por outro, de linhas radiais, em que os vôos
vão diretos, sem passar pelo
"hub". Em vez de um centro irradiador, haverá inúmeros
centros, com vôos diretos entre
eles. E aí entra a Embraer.
O novo modelo exigirá três
tipos de avião. Os aviões maiores -de mais de 200 lugares-
servirão para linhas intercontinentais ou intracontinentais
-em países maiores, como o
Brasil e os Estados Unidos, e a
própria União Européia. No
segundo nível virão os aviões
médios, de 90 a 120 lugares,
que serão os novos DC3 do
mercado (durante anos o DC3
foi o Fusca do mercado, para
vôos até duas horas). Na terceira linha, virão os aviões menores, para a aviação regional.
A Embraer já domina o terceiro nível. Com o lançamento
do avião de 90 e 120 passageiros, está sozinha no segundo
nível, a classe de avião adequada para o novo modelo da
aviação comercial.
Hoje em dia, esse segundo
nível está sendo atendido por
Boeing e Airbus maiores, desviados para essas linhas na
presunção de que haveria demanda suficiente para aparelhos maiores.
Com a implosão do modelo
"hubs", os aviões menores serão muito mais adaptáveis aos
fluxos de demanda e de manutenção muito mais barata. É aí
que entra o PC da Embraer.
Mais que isso. Em geral,
quando uma companhia se fixa em segmentos de aviões
menores, ganha enorme vantagem comparativa na hora
de seu cliente migrar para
aviões maiores. Isso porque a
manutenção e a pilotagem são
as mesmas. Ou seja, as novas
companhias que estão surgindo agora, à medida que migrem para os novos modelos
da Embraer, tenderão a dar
preferência ao seu fornecedor,
se, no futuro, ele se decidir pela
fabricação de aviões maiores.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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