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São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2003

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LUÍS NASSIF

O PC da aviação

Dentro de poucos anos, a Bombardier não será mais o concorrente da Embraer, mas provavelmente a Boeing e o consórcio Airbus.
A avaliação é de um experiente analista do setor aeroviário, que compara a atual estratégia da Embraer -ao desenvolver aviões de 90 e 120 lugares- ao fenômeno do PC na indústria de computadores. A IBM não avaliou corretamente a relevância dos PCs e, quando se deu conta, os mainframes haviam sido derrotados.
É interessante avaliar o que se passou no mercado de aviação nesse período e a notável capacidade da empresa em formular estratégias de longo prazo -algo que veio com ela desde o período de controle militar.
O modelo ainda em vigor na aviação comercial -e que entrou em crise nos últimos anos- é o de "hubs". Definem-se alguns pontos centrais de vôo, nos quais se utilizam grandes aviões. A partir desses centros, os vôos derivam para cidades médias, ainda por meio da grande companhia e, a partir daí, para a aviação regional, com aviões menores.
Hoje um passageiro que pretender ir de Porto Alegre a Manaus, por exemplo, passa primeiro pelo "hub" de São Paulo, faz escala para Brasília e, lá, troca de vôo para Manaus. O grande problema é que o custo maior do transporte aéreo está em terra, não em ar -onde existe uma tripulação restrita.
Por isso, esse modelo começa a ser trocado por outro, de linhas radiais, em que os vôos vão diretos, sem passar pelo "hub". Em vez de um centro irradiador, haverá inúmeros centros, com vôos diretos entre eles. E aí entra a Embraer.
O novo modelo exigirá três tipos de avião. Os aviões maiores -de mais de 200 lugares- servirão para linhas intercontinentais ou intracontinentais -em países maiores, como o Brasil e os Estados Unidos, e a própria União Européia. No segundo nível virão os aviões médios, de 90 a 120 lugares, que serão os novos DC3 do mercado (durante anos o DC3 foi o Fusca do mercado, para vôos até duas horas). Na terceira linha, virão os aviões menores, para a aviação regional.
A Embraer já domina o terceiro nível. Com o lançamento do avião de 90 e 120 passageiros, está sozinha no segundo nível, a classe de avião adequada para o novo modelo da aviação comercial.
Hoje em dia, esse segundo nível está sendo atendido por Boeing e Airbus maiores, desviados para essas linhas na presunção de que haveria demanda suficiente para aparelhos maiores.
Com a implosão do modelo "hubs", os aviões menores serão muito mais adaptáveis aos fluxos de demanda e de manutenção muito mais barata. É aí que entra o PC da Embraer.
Mais que isso. Em geral, quando uma companhia se fixa em segmentos de aviões menores, ganha enorme vantagem comparativa na hora de seu cliente migrar para aviões maiores. Isso porque a manutenção e a pilotagem são as mesmas. Ou seja, as novas companhias que estão surgindo agora, à medida que migrem para os novos modelos da Embraer, tenderão a dar preferência ao seu fornecedor, se, no futuro, ele se decidir pela fabricação de aviões maiores.

E-mail -
Luisnassif@uol.com.br


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