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VIZINHO
Presidente da Argentina diz que responsabilidade por colapso econômico tem de ser dividida com organismos internacionais
Na ONU, Kirchner culpa FMI pela crise
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
O presidente argentino, Néstor
Kirchner, voltou a criticar o FMI
(Fundo Monetário Internacional), os credores internacionais e
o protecionismo dos países ricos
no comércio mundial. Em discurso na Assembléia Geral da ONU
(Organização das Nações Unidas), ontem, em Nova York,
Kirchner disse que organismos
como o Fundo e o Banco Mundial
precisam assumir a sua parcela de
responsabilidade na crise e no aumento do endividamento de países como a Argentina. O FMI não
comentou as declarações.
O presidente afirmou que não
se fará de vítima da crise, mas dividiu a culpa com o Fundo. "Pedimos que os organismos internacionais que contribuíram, apoiaram e favoreceram o crescimento
dessa dívida ao impor políticas
restritivas assumam a sua parcela
de responsabilidade. [Os organismos] têm de mudar os seus paradigmas e nos ajudar a manter níveis adequados de emprego e renda. É preciso acabar com os modelos de ajuste."
Kirchner também responsabilizou os credores internacionais
pela moratória e afirmou que eles
terão de negociar. "Não se pode
cobrar dívida de morto. Quando a
dívida atinge determinada magnitude, a responsabilidade não é
só do devedor, mas também do
credor", afirmou. Segundo ele, o
pagamento será condicionado ao
fortalecimento da economia.
As declarações foram feitas dias
após a diretoria do Fundo aprovar um novo acordo, de três anos,
com a Argentina, que prevê a liberação de US$ 21 bilhões. O acordo
foi criticado por investidores, mas
considerado uma vitória pelo governo argentino, que conseguiu
concessões do Fundo.
Ontem, o FMI restituiu às reservas da Argentina US$ 2,6 bilhões.
O dinheiro corresponde a parte
da parcela de US$ 2,9 bilhões que
foi paga pelo governo ao Fundo
no dia 11 de setembro, após ter entrado em moratória com a instituição por 48 horas.
Comércio
O argentino atacou ainda o protecionismo de países como os
EUA. Disse que o fracasso do último encontro da OMC (Organização Mundial do Comércio), em
Cancún, foi culpa dos países desenvolvidos, que não concordam
em reduzir os subsídios agrícolas
fornecidos a seus produtores.
"É preciso criar novas oportunidades para todos. Sem medidas
que promovam o crescimento e o
desenvolvimento sustentável e
que favoreçam de forma concreta
o acesso aos mercados e o aumento das exportações, o pagamento
da dívida se torna uma "quimera".
O mundo precisa mudar porque
existe um submundo de países
permanentemente agredidos e
empobrecidos", disse.
Kirchner disparou as críticas
aos EUA após receber o apoio do
presidente George W. Bush para a
proposta de reestruturação da dívida e para as negociações com o
FMI. "Siga negociando com firmeza com os credores. Defenda
cada peso que está sendo renegociado com o FMI", teria dito o
presidente dos EUA durante encontro com Kirchner, em Nova
York, segundo o porta-voz do governo argentino, Miguel Nuñez.
Na segunda, o ministro da Economia, Roberto Lavagna, apresentou um plano de reestruturação da dívida que prevê desconto
de 75% no valor de face dos papéis argentinos que estão em moratória desde dezembro de 2001.
O apoio dos EUA, principal
acionista do FMI, também foi
fundamental para que a Argentina fechasse o acordo.
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