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São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2003

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VIZINHO

Presidente da Argentina diz que responsabilidade por colapso econômico tem de ser dividida com organismos internacionais

Na ONU, Kirchner culpa FMI pela crise

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

O presidente argentino, Néstor Kirchner, voltou a criticar o FMI (Fundo Monetário Internacional), os credores internacionais e o protecionismo dos países ricos no comércio mundial. Em discurso na Assembléia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), ontem, em Nova York, Kirchner disse que organismos como o Fundo e o Banco Mundial precisam assumir a sua parcela de responsabilidade na crise e no aumento do endividamento de países como a Argentina. O FMI não comentou as declarações.
O presidente afirmou que não se fará de vítima da crise, mas dividiu a culpa com o Fundo. "Pedimos que os organismos internacionais que contribuíram, apoiaram e favoreceram o crescimento dessa dívida ao impor políticas restritivas assumam a sua parcela de responsabilidade. [Os organismos] têm de mudar os seus paradigmas e nos ajudar a manter níveis adequados de emprego e renda. É preciso acabar com os modelos de ajuste."
Kirchner também responsabilizou os credores internacionais pela moratória e afirmou que eles terão de negociar. "Não se pode cobrar dívida de morto. Quando a dívida atinge determinada magnitude, a responsabilidade não é só do devedor, mas também do credor", afirmou. Segundo ele, o pagamento será condicionado ao fortalecimento da economia.
As declarações foram feitas dias após a diretoria do Fundo aprovar um novo acordo, de três anos, com a Argentina, que prevê a liberação de US$ 21 bilhões. O acordo foi criticado por investidores, mas considerado uma vitória pelo governo argentino, que conseguiu concessões do Fundo.
Ontem, o FMI restituiu às reservas da Argentina US$ 2,6 bilhões. O dinheiro corresponde a parte da parcela de US$ 2,9 bilhões que foi paga pelo governo ao Fundo no dia 11 de setembro, após ter entrado em moratória com a instituição por 48 horas.

Comércio
O argentino atacou ainda o protecionismo de países como os EUA. Disse que o fracasso do último encontro da OMC (Organização Mundial do Comércio), em Cancún, foi culpa dos países desenvolvidos, que não concordam em reduzir os subsídios agrícolas fornecidos a seus produtores.
"É preciso criar novas oportunidades para todos. Sem medidas que promovam o crescimento e o desenvolvimento sustentável e que favoreçam de forma concreta o acesso aos mercados e o aumento das exportações, o pagamento da dívida se torna uma "quimera". O mundo precisa mudar porque existe um submundo de países permanentemente agredidos e empobrecidos", disse.
Kirchner disparou as críticas aos EUA após receber o apoio do presidente George W. Bush para a proposta de reestruturação da dívida e para as negociações com o FMI. "Siga negociando com firmeza com os credores. Defenda cada peso que está sendo renegociado com o FMI", teria dito o presidente dos EUA durante encontro com Kirchner, em Nova York, segundo o porta-voz do governo argentino, Miguel Nuñez.
Na segunda, o ministro da Economia, Roberto Lavagna, apresentou um plano de reestruturação da dívida que prevê desconto de 75% no valor de face dos papéis argentinos que estão em moratória desde dezembro de 2001.
O apoio dos EUA, principal acionista do FMI, também foi fundamental para que a Argentina fechasse o acordo.


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