São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Para onde vai o crediário


Empréstimos para pessoas físicas estão em baixa, mas hoje são parcela maior do crédito que em outros ciclos

OS EMPRÉSTIMOS para as pessoas físicas são parcela cada vez maior do total do dinheiro emprestado no mercado doméstico desde o Plano Real. No mês passado, representaram quase um terço das operações do sistema financeiro, segundo os dados divulgados ontem pelo Banco Central. Trata-se, no caso, dos recursos que as pessoas tomam para comprar bens como carros ou para se endividar nos juros demenciais do cartão de crédito.
Também é o indicador em que economistas estão de olho a fim de verificar por onde pode se dar a expansão do consumo doméstico e, por tabela, da economia.
Nos 12 últimos meses, a expansão dessa variedade de crédito ainda cresceu à velocidade chinesa de 28%. Mas, em agosto do ano passado, o ritmo de expansão dos empréstimos às pessoas físicas era de mais de 44%; foi em agosto de 2005 que a desaceleração começou.
O volume total de crédito para a economia subiu até o final de 2004 e, desde então, continua a crescer em torno de 20%, uma taxa também respeitável. Ou seja, o apetite decrescente das pessoas físicas pelo crediário vem sendo substituído, por ora, por operações de empréstimos de outra natureza.
Desde o Plano Real, a velocidade com que as pessoas físicas tomam mais crédito vive ciclos bastante pronunciados, com picos de aceleração de 40% a 70% por ano a baixas em que o ritmo de tomada adicional de dinheiro chega quase à estagnação. Como tal modalidade de empréstimos tem peso cada vez mais importante na economia, seus efeitos também tendem a ter mais impacto no consumo e na produção doméstica.
A questão é saber se o mais recente ciclo de expansão do crédito vai repetir o mergulho para a estagnação verificado em outros anos. Nos ciclos anteriores, os momentos em que o consumidor decidiu refrear seu apetite pelo crediário coincidiram muitas vezes com fases de deterioração das condições econômicas mais gerais.
Agora, o país vive um ciclo de recuperação da atividade econômica, embora tal recuperação se dê em ritmo lentamente medíocre. Há mais gente empregada, a renda média cresce, a inflação cai. No que diz respeito ao crédito, especificamente, as taxas de juros caem, os prazos de financiamento continuam se dilatando. A taxa de inadimplência seria o indicador mais preocupante. Depois de uma refrescada em junho, voltou a apontar para cima, para perto do pico de meados de 2002.
Embora seja um exagero flagrante dizer que o ritmo cadente de expansão do crédito vá puxar a economia para baixo, a falta de sinais mais fortes de retomada econômica, como o da taxa de investimento, e o fim do impulso derivado do saldo do comércio externo indicam que a recuperação do PIB deve continuar em passo medíocre.


vinit@uol.com.br

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