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Para especialistas, emergentes e Brasil não escapam da crise
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
Quem ainda pensa que o Brasil e outros países emergentes
vão escapar quase incólumes
da atual crise econômica está
muito enganado. Os Estados
Unidos, a Europa e o Japão enfrentarão uma recessão em
breve, resta saber o tamanho e
a duração. Isso terá um impacto negativo ao redor do mundo,
sem exceções.
Essa foi a conclusão de um
debate ontem à tarde na quase
centenária Chatham House,
em Londres, entre alguns dos
maiores especialistas no assunto. "Vai haver uma queda de
três a quatro pontos percentuais no crescimento dos mercados emergentes nos próximos 12 meses. Não uma recessão, como aqui. Não vão entrar
pelo cano, mas vai haver uma
desaceleração muito maior do
que a maioria das pessoas pensa", disse Robin Bew, economista-chefe e diretor editorial
da Economist Inteligence Unit.
E o Brasil?, perguntou a Folha. "O Brasil está um pouco
melhor, porque tem uma economia mais diversificada, mas
não tanto quanto se imagina.
Tem um mercado interno crescente, mas por outro lado ainda
depende bastante das commodities. Sem dúvida, o país vai
ser afetado. Talvez não tanto
quanto os outros, mas pode se
preparar", disse Bew, que comanda uma equipe de 120 economistas ao redor do mundo.
Essa, por incrível que pareça,
foi a análise menos pessimista
da mesa, formada por Christopher Allsopp, da Universidade
Oxford, e Vanessa Rossi, da
Chatham House e da Oxford
Economic Forecasting, uma
consultoria independente ligada à universidade.
"Não há dúvidas sobre a perspectiva para os EUA e a Europa.
Haverá recessão. O problema é
que os emergentes até sobreviveriam a uma crise norte-americana, mas não também [a
uma] na Europa e no Japão,
que é o que vai ocorrer. A situação em todas as grandes economias está sincronizada e afundando. O impacto nos emergentes será muito maior do que
foi até agora, e as próximas estatísticas devem começar a
mostrar isso", afirmou Rossi.
Bew, da EIU, explica: "O
mercado consumidor dos
BRICs [Brasil, Rússia, Índia e
China], somado, é de 10% do total mundial. O dos EUA é 25%.
Se fosse só isso, tudo bem. O
problema é que, somando Europa e Japão, o total do mundo
rico sobe para 75%. De repente,
os BRICs ficam pequenos".
Rossi diz que, por a crise se
propagar em choques, seu impacto talvez chegue aos emergentes com força apenas no futuro. "O Brasil não está na pior
das posições. Mas se ficar tão
ruim quanto parece, a idéia de
que o país pode escapar vai desaparecer. O choque pode demorar, e talvez você veja os
efeitos mais em 2010 do que em
2009. Mas eles virão", disse.
Allsopp praticamente não tocou no assunto dos emergentes, mas concordou com a iminente recessão do mundo desenvolvido. No entanto, coube
a ele a nota otimista da tarde,
argumentando que ainda existe
uma salvação. Se houver uma
resposta eficiente dos governos
envolvidos, disse, ainda é possível amenizar a crise.
E a resposta correta, afirmaram Bew e Rossi, está muito
mais nos Estados Unidos do
que na Europa até agora. "Os
EUA estão preparados para
pensar o impensável, enquanto
a Europa não pensa em fazer
nem o pensável", disse Rossi.
"A frase que não sai da minha
cabeça é: "Tempos extraordinários precisam de medidas extraordinárias'", afirmou Bew.
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