São Paulo, sábado, 26 de setembro de 1998

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CONTAS EXTERNAS
BC espera piora em setembro por causa da fuga de dólares
Crise faz o déficit externo voltar para 4,09% do PIB

da Sucursal de Brasília

O déficit em transações correntes, indicador da dependência do país em relação aos capitais estrangeiros, voltou a crescer em agosto, revertendo a tendência de queda verificada no mês anterior.
O déficit externo atingiu 4,09% do PIB (Produto Interno Bruto, total das riquezas produzidas no país) nos 12 meses encerrados em agosto, contra 3,98% do PIB em julho. O Banco Central prevê novo aumento do déficit em setembro.
"O déficit piora em setembro, devido ao nervosismo provocado pela crise, mas depois volta ao normal. A expectativa é que feche o ano entre 3,5% e 3,8% do PIB", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
O déficit de 4,09% do PIB significa que, entre setembro de 1997 e agosto de 1998, as despesas do Brasil em suas transações com outros países superaram as receitas em US$ 32,390 bilhões.
Esse é um dado que revela a dependência do país em relação a capitais estrangeiros porque, quando registra despesas maiores que receitas, o país é obrigado a tomar empréstimos no exterior ou a receber investimentos para cobrir a diferença.
As transações correntes incluem a balança comercial (importações menos exportações), os serviços (juros da dívida externa, remessa de lucros, turismo etc.) e as chamadas transferências unilaterais (dinheiro remetido ao Brasil por residentes no exterior, sem relação comercial ou financeira).
Entre esses itens, os que mais pesaram no aumento do déficit em agosto foram a balança comercial (crescimento de 165%, comparado ao mesmo mês de 1997) e os gastos com juros (mais 119%).
Segundo Lopes, o déficit comercial cresceu por causa da greve dos fiscais da Receita Federal, que represou exportações. Já os gastos com juros aumentaram porque a dívida externa é maior (atingiu US$ 228 bilhões em junho).
Lopes prevê nova deterioração nas contas externas em setembro porque as remessas de lucros e dividendos aumentaram. A saída desse item já atingiu US$ 1,258 bilhão até 24 de setembro, contra US$ 384 milhões em agosto.
Segundo ele, a crise fez empresas estrangeiras anteciparem a remessa de lucros em setembro. "É facultado às empresas fazer antecipações sobre o balanço do final do ano. Se o lucro não se realizar, as empresas trazem de volta", disse.
As reservas em moeda estrangeira do BC fecharam em US$ 67,333 bilhões em agosto, pelo conceito de liquidez internacional, que inclui dinheiro em caixa e créditos de médio e longo prazos. Em relação ao mês anterior, houve uma perda de US$ 2,877 bilhões.
Pelo conceito de caixa, que considera apenas moeda forte prontamente disponível, as reservas fecharam em US$ 66,480 bilhões.
Dois fatores explicam a queda de reservas: a fuga de dólares provocada pela moratória russa e o déficit em transações correntes.
No mês, US$ 4,139 bilhões abandonaram as Bolsas e US$ 1,880 bilhão saiu pelas contas CC-5, mantidas por residentes no exterior.



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