São Paulo, sábado, 26 de setembro de 1998

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LUÍS NASSIF

A maior universidade do mundo

Dan Stanzione é o presidente do Bell Labs. É um sujeito alto, rosto quadrado, ombros largos, óculos que salientam os traços retos do rosto. Cabe a ele a difícil missão de comandar 24 mil cientistas de diversas nacionalidades, com direito a voar, 1.200 trabalhando com pesquisa pura e 3.000 com a incumbência de trazer o restante à terra.
Cerca de 28% são PhDs, que já produziram 25 mil patentes, ultimamente a um ritmo de 3,5 patentes por dia. Apenas no último ano, o laboratório produziu 123 inovações tecnológicas avançadas e nove novos negócios. Tudo financiado por 13% do faturamento em desenvolvimento e 1% em pesquisa.
A história da tecnologia nos últimos 125 anos passa pelo Bell Labs -criado como núcleo de desenvolvimento da ATT-, com seus oito Prêmios Nobel, nove Medalhas Nacional de Ciência, cinco Medalhas Nacional de Tecnologia. Da invenção da alta fidelidade ao fac-símile, das ligações telefônicas interoceânicas ao primeiro computador digital e ao transistor, do Unix à linguagem C (a principal ferramenta de desenvolvimento de softwares), o primeiro celular digital.
Há dois anos, o Bell Labs foi transformado na Lucent Technologies e passou a oferecer serviços para todo o mercado. O nome original foi mantido no departamento de desenvolvimento da companhia.
Nesse curto espaço de tempo, a Lucent tornou-se a 10ª empresa mais valiosa dos Estados Unidos, avaliada em US$ 130 bilhões pelo mercado. No ano fiscal de 1997, seu faturamento foi de US$ 26,4 bilhões, 13,2% de crescimento em relação ao ano anterior.

Universidade virtual
Maior aglomerado de cientistas do planeta, o Bell Labs é o oposto do modelo empreendedor desenvolvido no Vale do Silício -que consagrou cientistas empreendedores, de olho no dinheiro e nos negócios. A sede, em Murray Hill, parece mais um campus universitário, sem a rigidez departamental ou de hierarquia das universidades e com muito mais senso prático.
O desafio de Stanzione é como casar a criatividade do cientista com o senso prático dos negócios. Um dos pontos essenciais desse modelo é a substituição da competição -que caracteriza os jovens ambiciosos da indústria de informática- pela colaboração. Outro valor essencial é a transformação da idéia em produto e a busca permanente da redução do tempo de desenvolvimento de novos produtos.
Em cima desses dois valores, os pesquisadores são divididos em dois grupos. De um lado, os cientistas propriamente ditos, trabalhando em pesquisa, sem a preocupação com o curto prazo. De outro, os técnicos em desenvolvimento, incumbidos de transformar as pesquisas em inovações.
Tudo começa no nível dos cientistas. Cada qual tem liberdade para sugerir o problema que pretende resolver. A proposta é encaminhada ao gerente do grupo. Depois, os projetos maiores são tratados pelo Departamento de Pesquisa, por meio da formação de grupos interdisciplinares que se juntam espontaneamente. A interdisciplinaridade passa a ser reforçada por esse componente de informalidade. Tem o gerente incumbido de dar alguma ordem ao grupo, e desenvolvedores, para o trabalho mais braçal de programar as idéias surgidas.
Depois que a pesquisa vira projeto, aí o talento individual é substituído pelo trabalho de grupo. Formam-se grupos, com gerentes especiais, nas respectivas unidades de negócios, trabalhando em torno de projetos, distribuição de tarefas e prazos.

Avaliação
As duas principais formas de avaliação dos pesquisadores são o reconhecimento externo (trabalhos e pesquisas publicados) e a visibilidade interna (quantas vezes é solicitado pelas unidades de negócio para resolver problemas específicos).
Em geral, o cientista que vai para o Bell Labs é atraído pelo ambiente de pesquisa. Apenas recentemente a empresa decidiu compensar cientistas pela produção de patentes. Nada muito efetivo. Uma patente aprovada pode render de US$ 1.000 a US$ 2.000 para o desenvolvedor. Se for uma grande patente, um jantar em sua homenagem.
As medidas de produtividade são a rapidez no desenvolvimento e a produção de patentes. Nos últimos anos, houve a expansão do Bell Labs, que passou a manter equipes em 20 países.
Esse processo de globalização teve início a partir de uma viagem de Stanzione ao Brasil. Guardou boa impressão do CPQD, da Telebrás. Mas o que o assustou foi ter ido a um coquetel no qual se comemoravam 75 anos da Ericsson no Brasil. Deu-se conta da necessidade de expandir rapidamente a operação internacional do Bell Labs.
Só no ano passado, houve a abertura de Bell Labs em 15 países. No Brasil, já existe um grupo de oito cientistas trabalhando em projetos especiais. Em geral, pesquisas ligadas à adaptação da tecnologia da Bell Labs às condições brasileiras.

Juiz Girão
Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal decidiu reintegrar o juiz Hélder Girão ao seu cargo -do qual havia sido cassado pelo Tribunal Regional de Roraima, por ter proferido sentença contra o nepotismo reinante no tribunal estadual.
É uma meia vitória da Justiça. A vitória final será quando o STF fizer valer seu direito de intervir em tribunais estaduais cuja atuação seja colocada em suspeição.

E-mail: lnassif@uol.com.br


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