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MERCADO TENSO
Congresso convoca presidente do Fed, secretário do Tesouro e outras autoridades do país para deporem
Socorro a fundo será investigado nos EUA
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington
O Congresso dos Estados Unidos
convocou o presidente do banco
central, o secretário do Tesouro e
outras autoridades do país para
deporem sobre a operação de salvamento do fundo de "hedge"
Long Term Capital Management
(LTCM). Os depoimentos das autoridades estão marcados para a
próxima semana.
O resgate do LTCM, coordenado
pelo Fed (Federal Reserve, espécie
de banco central dos EUA), levantou dúvidas sobre a necessidade de
o governo federal exercer controle
sobre as atividades dos fundos de
"hedge", que especulam, com
grandes quantias de dinheiro de
investidores e de empréstimos,
apostando no aumento ou decréscimo de valor de títulos em mercados de risco.
Em depoimento ao Congresso
há apenas dez dias, o presidente
do Fed, Alan Greenspan, havia dito que os fundos de "hedge já são
fortemente controlados por aqueles que lhe emprestam dinheiro".
Mas a quase quebra do LTCM
mostra que, pelo menos no seu caso, a declaração de Greenspan não
se aplicava. Os credores e mesmo
os investidores do fundo não tinham nem mesmo conhecimento
das operações que o LTCM fazia.
O mercado continua inquieto
com a crise do LTCM. Ontem, a
Bolsa de Valores de Nova York
abriu em baixa por causa dos temores provocados pelo seu resgate. Terminou em alta de 0,33%,
depois de várias agências de avaliação de risco terem opinado que
a situação do LTCM está sob controle. Mas o valor dos bônus do
Tesouro, considerados os mais seguros do mercado, cresceu; o das
ações de bancos envolvidos com o
LTCM caiu.
O secretário do Tesouro, Robert
Rubin, disse que não há razões para se criticar a ação do Fed porque
o resgate não envolveu dinheiro
público. Mas diversos parlamentares, do governo e da oposição,
acham que se o Fed vai se envolver
em setores sobre os quais não tem
autoridade formal, talvez seja melhor dotá-lo de tal autoridade.
Falha fatal
Estima-se que os fundos de
"hedge" tenham ativos de US$
300 bilhões e que todo o mercado
de derivativos, que também não é
controlado pelo Fed, movimente
cerca de US$ 30 trilhões por ano.
A quase falência do LTCM está
sendo explicada por uma falha fatal nas projeções dos sofisticados
programas de cálculos usados pelo
fundo para prever a flutuação dos
mercados. Aparentemente, eles
não contemplavam a possibilidade de uma crise financeira global.
Um dos desdobramentos dos
problemas da Rússia foi a desvalorização dramática e coletiva de
quase todos os títulos de risco nos
mercados e a valorização dos bônus do Tesouro norte-americano.
Aparentemente, o LTCM não estava preparado para um evento
desse tipo. Embora calcule-se que
só 16% dos U$$ 125 bilhões de ativos do seu porta-fólio estivessem
em operações na Rússia e outros
mercados emergentes, as consequências dos acontecimentos no
mercado russo bateram de frente
com os planos do fundo, que perdeu 44% de seu capital somente no
mês de agosto.
O LTCM, que deu retorno de lucros superiores a 40% a seus investidores (de quem eram exigidos
pelo menos US$ 10 milhões por
um período de três anos) em 1995
e 1996, viu seu capital se devastar
na tentativa de compensar prejuízos.
Para cada dólar de investimento
recebido, o LTCM tomava US$ 20
de empréstimos de grandes bancos para manter suas operações
em dia. Esses bancos, entre eles os
maiores dos Estados Unidos, teriam elevados prejuízos se o fundo
quebrasse.
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