São Paulo, sábado, 26 de setembro de 1998

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MERCADO TENSO
Congresso convoca presidente do Fed, secretário do Tesouro e outras autoridades do país para deporem
Socorro a fundo será investigado nos EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

O Congresso dos Estados Unidos convocou o presidente do banco central, o secretário do Tesouro e outras autoridades do país para deporem sobre a operação de salvamento do fundo de "hedge" Long Term Capital Management (LTCM). Os depoimentos das autoridades estão marcados para a próxima semana.
O resgate do LTCM, coordenado pelo Fed (Federal Reserve, espécie de banco central dos EUA), levantou dúvidas sobre a necessidade de o governo federal exercer controle sobre as atividades dos fundos de "hedge", que especulam, com grandes quantias de dinheiro de investidores e de empréstimos, apostando no aumento ou decréscimo de valor de títulos em mercados de risco.
Em depoimento ao Congresso há apenas dez dias, o presidente do Fed, Alan Greenspan, havia dito que os fundos de "hedge já são fortemente controlados por aqueles que lhe emprestam dinheiro".
Mas a quase quebra do LTCM mostra que, pelo menos no seu caso, a declaração de Greenspan não se aplicava. Os credores e mesmo os investidores do fundo não tinham nem mesmo conhecimento das operações que o LTCM fazia.
O mercado continua inquieto com a crise do LTCM. Ontem, a Bolsa de Valores de Nova York abriu em baixa por causa dos temores provocados pelo seu resgate. Terminou em alta de 0,33%, depois de várias agências de avaliação de risco terem opinado que a situação do LTCM está sob controle. Mas o valor dos bônus do Tesouro, considerados os mais seguros do mercado, cresceu; o das ações de bancos envolvidos com o LTCM caiu.
O secretário do Tesouro, Robert Rubin, disse que não há razões para se criticar a ação do Fed porque o resgate não envolveu dinheiro público. Mas diversos parlamentares, do governo e da oposição, acham que se o Fed vai se envolver em setores sobre os quais não tem autoridade formal, talvez seja melhor dotá-lo de tal autoridade.

Falha fatal
Estima-se que os fundos de "hedge" tenham ativos de US$ 300 bilhões e que todo o mercado de derivativos, que também não é controlado pelo Fed, movimente cerca de US$ 30 trilhões por ano.
A quase falência do LTCM está sendo explicada por uma falha fatal nas projeções dos sofisticados programas de cálculos usados pelo fundo para prever a flutuação dos mercados. Aparentemente, eles não contemplavam a possibilidade de uma crise financeira global.
Um dos desdobramentos dos problemas da Rússia foi a desvalorização dramática e coletiva de quase todos os títulos de risco nos mercados e a valorização dos bônus do Tesouro norte-americano.
Aparentemente, o LTCM não estava preparado para um evento desse tipo. Embora calcule-se que só 16% dos U$$ 125 bilhões de ativos do seu porta-fólio estivessem em operações na Rússia e outros mercados emergentes, as consequências dos acontecimentos no mercado russo bateram de frente com os planos do fundo, que perdeu 44% de seu capital somente no mês de agosto.
O LTCM, que deu retorno de lucros superiores a 40% a seus investidores (de quem eram exigidos pelo menos US$ 10 milhões por um período de três anos) em 1995 e 1996, viu seu capital se devastar na tentativa de compensar prejuízos.
Para cada dólar de investimento recebido, o LTCM tomava US$ 20 de empréstimos de grandes bancos para manter suas operações em dia. Esses bancos, entre eles os maiores dos Estados Unidos, teriam elevados prejuízos se o fundo quebrasse.



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