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São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2003

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ENTREVISTA

Ministra alemã afirma que houve oportunidade perdida em Cancún e diz que europeu vê transgênico com ceticismo

Europa acena com a redução de subsídios

DA REDAÇÃO

A ministra alemã da Agricultura, Renate Künast, 47, afirma que a União Européia está pronta para fazer concessões na questão dos subsídios agrícolas. Para Künast, houve uma grande oportunidade perdida em Cancún, na reunião ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio).
"Naquela ocasião, em vez de só fazer exigências, alguns parceiros ainda não estavam dispostos a negociar verdadeiramente", diz, sem citar nenhum um país.
Segundo a ministra, não é possível saber se a liberalização da soja transgênica no Brasil afetaria as exportações do país para a Europa. Mas diz que os europeus são céticos em relação aos produtos modificados geneticamente.
 

Folha - Apesar das dificuldades, as negociações para a formação de uma área de livre comércio nas Américas estão num estágio mais avançado que as conversas entre Mercosul e UE. Por quê?
Renate Künast -
O fracasso de Cancún traz graves consequências para os dois processos de negociação, pois em ambos os casos a questão de subsídios agrícolas desempenha um papel decisivo. Além disso, no âmbito da Alca deverá ser negociada também a questão das regras do antidumping americano, o que será certamente muito difícil.
As negociações entre a UE e o Mercosul ultrapassam questões comerciais. Trata-se da configuração do diálogo político e da cooperação para o desenvolvimento. O capítulo do acordo de associação está praticamente encerrado. Para o comércio, a UE já apresentou abrangentes ofertas para todos os setores. Já o Mercosul está em dívida com alguns setores.

Folha - No Brasil, existe a impressão de que a Alemanha e outros países parecem concentrar grandes esforços na integração do continente europeu e na aproximação com o mercado asiático, mas tem pouco interesse na América Latina. Essa sensação está errada?
Künast -
O intenso intercâmbio comercial entre a Alemanha, Europa e América do Sul comprova justamente o contrário. Claro que as relações econômicas dentro da UE e com nossos vizinhos da Europa Central e do Leste são mais estreitas. Isso não significa falta de interesse pela América Latina, mas se deve às condições geográficas, históricas e econômicas. Até a América do Sul está buscando alianças regionais. Isso é normal.

Folha - O governo brasileiro liberou o plantio da soja transgênica na safra 2003/ 2004. Um projeto de lei que está sendo elaborado pode tornar a liberação definitiva. A Alemanha continuaria importando soja do país? Caso ocorra a liberação, quais seriam as consequências para o país no mercado europeu?
Künast -
Se houver uma liberação, a Alemanha poderá importar grãos de soja transgênica do Brasil. A UE tem por norma que rações e alimentos transgênicos precisam ser identificados e etiquetados como modificados geneticamente. Os consumidores podem decidir se querem consumir produtos transgênicos ou não. Não posso prever as repercussões que poderia haver sobre as exportações brasileiras. Mas o ceticismo com relação a alimentos transgênicos é muito divulgado em toda a Europa.

Folha - Subsídios agrícolas distorcem os mercados, causam superprodução, afetam a formação de preços e destroem a competitividade de países em desenvolvimento, que perdem, assim, um importante fator de geração de renda. Quando os ricos deixarão de lado as questões políticas e abrirão seus mercados para os produtos agrícolas de países como o Brasil?
Künast -
A redução de subsídios agrícolas é uma questão central da rodada mundial de comércio. Infelizmente não há respostas muito fáceis, tal como sugeridas na pergunta. O assunto é bastante complexo. A UE acabou de reformular sua política agrícola e está em condições de oferecer amplas concessões nas negociações da OMC. Sou da opinião que se perdeu uma oportunidade em Cancún. Naquela ocasião, em vez de só fazer exigências, alguns parceiros ainda não estavam dispostos a negociar verdadeiramente.


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