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TRIBUTOS
Após União suspender compensação de R$ 900 mi por Lei Kandir, Estados dizem que adiarão uso de crédito por 1 ano
Disputa fiscal pode custar R$ 11 bi a exportador
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A queda-de-braço da União
com os governadores poderá custar cerca de R$ 11,1 bilhões no ano
que vem aos exportadores. Isso
porque os Estados decidiram que
o uso de créditos tributários para
reduzir o total de impostos pagos
vai demorar 12 meses a partir de
2006. Hoje, essa compensação é
feita mensalmente.
Os créditos de ICMS, previstos
na Lei Kandir, foram criados para
isentar as exportações do principal tributo estadual. Quem recebe
esse crédito, para incentivar as
vendas externas, pode abatê-lo
dos impostos pagos nas transações realizadas no país.
Além disso, a partir de hoje, os
Estados não permitirão mais a
venda para terceiros desses créditos por parte de empresas que comercializam toda a sua produção
no exterior e ficam sem ter como
utilizar os créditos de ICMS.
A decisão, tomada ontem após
mais de quatro horas de reunião
dos secretários estaduais da Fazenda, foi uma resposta ao governo federal que, na véspera, havia
anunciado que não iria mais liberar R$ 900 milhões prometidos
aos governadores para compensar os cofres estaduais pela isenção de ICMS garantida pela Lei
Kandir aos exportadores.
A decisão de não liberar os R$
900 milhões teve o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula alega que faz parte do acordo
com os Estados o empenho dos
governadores para votar em definitivo a reforma tributária, o que
não está acontecendo.
Além dos problemas com os
créditos da Lei Kandir, os exportadores poderão ficar sem os incentivos previstos na chamada
"MP do Bem", arquivada porque
deixou de ser votada pelo Congresso no prazo de 120 dias. O governo ainda não conseguiu negociar com a oposição um acordo
para incluir os incentivos em outra MP.
Segundo o secretário da Fazenda da Bahia e coordenador do
Conselho de Política Fazendária
(Confaz), Albérico Mascarenhas,
a suspensão das transferências de
créditos valerá a partir de hoje
com sua publicação no "Diário
Oficial" da União. Já o aumento
do prazo para reconhecimento do
crédito de um mês a um ano ainda depende de parecer jurídico.
"Já temos a garantia jurídica de
que os Estados podem alterar a
periodicidade. Mas temos que ver
se isso pode ser feito por decreto
ou se é preciso uma lei estadual."
Na semana que vem, ele promete entregar a todos os Estados
uma minuta do decreto ou do
projeto de lei a ser encaminhado
pelos governos. O texto final deverá estabelecer ainda que as restrições ficam atreladas à capacidade financeira dos Estados e que
as autorizações para transferências dos créditos estarão condicionadas à liberação de recursos
pelo governo federal. Com isso, os
Estados abrem uma brecha legal
para restabelecer os benefícios
que pretendem suspender.
Congresso
Os governadores irão atuar
também no Congresso para incluir no Orçamento de 2006 repasses de R$ 10,7 bilhões que, segundo eles, corresponde à metade
das perdas de arrecadação que os
governos estaduais terão com o
benefício da Lei Kandir. O Orçamento da União deste ano previa
R$ 5,2 bilhões aos Estados, mas
R$ 900 milhões ficaram retidos
para reforçar o ajuste fiscal.
Desde o início do mês, os governadores negociam com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a
liberação do dinheiro. Lula chegou a garantir que os R$ 900 milhões seriam transferidos, segundo o governador de Minas Gerais,
Aécio Neves, que ontem voltou a
afirmar que obteve a garantia do
presidente e que o recuo é "injustificável".
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