São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 2006

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Vale prevê reduzir dívida em três anos sem cortar projetos

Com a compra da canadense Inco, dívida da companhia brasileira deve saltar de US$ 5,8 bi para cerca de US$ 23 bi

Roger Agnelli, presidente da empresa, diz que não há planos de vender ativos; em 5 anos, grupo quer ser maior produtor mundial de níquel


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O pesado endividamento assumido para comprar a Inco não assunta a Vale do Rio Doce: a companhia espera, em três anos, voltar a sua situação financeira anterior à aquisição sem ter de cortar projetos nem se desfazer de nenhum ativo.
Do Canadá, o presidente da Vale, Roger Agnelli, disse, em videoconferência, que "em três anos, no máximo" a companhia retornará ao patamar de endividamento de antes da oferta. Para fechar o negócio, a Vale teve acesso a uma linha de crédito de US$ 34 bilhões, amealhados por um "pool" de 37 bancos europeus. Agnelli disse, porém, que a companhia usará "no máximo" US$ 18 bilhões para concluir a operação -US$ 13,2 bilhões referentes à compra de 76% das ações fechada anteontem e o restante até o dia 3, data final para os outros acionistas aderirem à oferta.
Com a compra da Inco, a dívida da Vale saltou de US$ 5,8 bilhões para cerca de US$ 23 bilhões, segundo Fábio Barbosa, diretor-executivo de finanças da Vale. Indicador de solvência e de capacidade de pagamento, o nível de alavancagem da Vale subiu de 80% da geração de caixa da companhia (de R$ 16,7 bilhões em 2005 e de R$ 8,9 bilhões no primeiro semestre de 2006) para duas vezes o que gera de recursos. O objetivo, diz, é voltar aos 80% em três anos.
"A Vale do Rio Doce está tranqüila em termos de alavancagem. Vamos pegar o empréstimo e rapidamente a gente consegue reduzir o nível de alavancagem", disse Agnelli.
O empréstimo-ponte dos bancos vence em dois anos. A Vale quer alongar o débito em até dez anos. Para isso, diz Barbosa, a companhia buscará vários instrumentos financeiros em diferentes mercados (como bônus e debêntures).
Diante do maior endividamento, agências de classificação de risco rebaixaram anteontem a nota da Vale, embora tenham mantido a avaliação de "grau de investimento".

Projetos mantidos
Agnelli ressaltou que nenhum projeto da companhia será retardado ou interrompido para fazer frente ao pagamento de dívidas. Tampouco ativos da Inco ou da Vale serão colocados à venda, assegurou: "Estamos comprando [a Inco]. Não estamos vendendo."
Todos os projetos em andamento, diz, serão feitos com a geração de caixa tanto da nova CVRD Inco como da Vale.
Baseada no Canadá, a CVRD Inco irá assumir a gestão de todas as operações de níquel do grupo, incluindo dois grandes projetos em desenvolvimento no Pará. Segundo Tito Martins, diretor-executivo de Assuntos Corporativos da Vale do Rio Doce, o grupo produzirá, em 2011, 403 mil toneladas de níquel, de uma extração estimada de 1,5 bilhão de toneladas em todo o mundo. Naquele ano, a Vale passará a ser a maior produtora mundial do minério.
O diretor Fábio Barbosa afirmou não ter dúvida que a empresa conseguirá comprar 100% das ações da Inco. A favor da Vale, pesa o fato de a legislação canadense estabelecer que, se a oferta for aceita por 90% dos acionistas, os outros são obrigados a vender também.
Agnelli reafirmou que os 10 mil empregados da Inco serão mantidos. "Esperamos até aumentar esse número". Assegurou ainda que o atual presidente da Inco, Scott Hand, continuará à frente da nova empresa CVRD Inco. "É o final de um período de muita incerteza", comemorou Hand, em referência a várias tentativas recentes de compra e fusão da Inco.
Ontem as ações da Vale voltaram a subir: a PNA teve valorização de 1,54%, e a ON, 1,10%.


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