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Queda do dólar leva gasto com juro a recorde
Setor público paga R$ 15 bi em encargos de dívidas em setembro; perda com operações que visam conter recuo da moeda é de R$ 2,9 bi
Nesse tipo de contrato, sempre que o dólar se
desvaloriza, o BC perde;
relação entre dívida e PIB sobe de 43% para 43,5%
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A queda do dólar fez os gastos
públicos com juros baterem recorde no mês passado. O conjunto formado por governo federal, Estados, municípios e estatais arcou com R$ 15,473 bilhões em encargos de suas dívidas, o valor mais alto já registrado num mês de setembro
desde o início da série estatística do Banco Central, em 1991.
"Esse resultado é fruto exclusivo da apreciação cambial", diz
o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes,
ao se referir à queda de 6,3% sofrida pela moeda dos EUA no
mês passado. Em razão, principalmente, das operações que o
BC faz no mercado justamente
para tentar conter a alta do real.
Essas transações envolvem a
venda dos chamados contratos
de "swap cambial reverso": para desestimular os investidores
a vender dólares -o que puxaria sua cotação para baixo-, o
BC se compromete a pagar a
eles toda a variação que a moeda registrar em determinado
período, cobrando por isso uma
determinada taxa de juros.
Isso significa que, sempre
que o dólar cair, o BC terá perdas com a operação. Só no mês
passado, o prejuízo foi de R$ 2,9
bilhões, que foram incluídos na
conta dos gastos com juros do
setor público.
Para Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e economista da CNC (Confederação
Nacional do Comércio), os elevados gastos públicos com juros são conseqüência da política de taxas elevadas adotada
pelo BC, que favorece a valorização do real e tem forte impacto sobre as contas do governo.
"Essa conta custa caro para o
contribuinte", diz.
Entre janeiro e setembro, as
despesas com juros somaram
R$ 119,363 bilhões, ou 6,41% do
PIB. Isso significa pequena
queda ante o mesmo período
de 2006, quando os gastos foram de R$ 121,653 bilhões, o
equivalente a 7,16% do PIB
(Produto Interno Bruto).
O recuo se explica pelos cortes sofridos nos últimos anos
pela taxa Selic, que remunera
boa parte da dívida do governo.
Ainda assim, Freitas diz que os
ganhos para os cofres públicos
não foram tão grandes como
poderiam porque o Tesouro
Nacional substituiu boa parte
dos títulos públicos corrigidos
pela Selic que eram negociados
no mercado por papéis prefixados, cujo rendimento não muda com alterações nos juros básicos da economia.
"O ganho da queda da Selic
não foi apropriado pelo Tesouro, ficou com os detentores de
papéis prefixados", diz.
Com o aumento nos gastos
com juros, a relação entre dívida e PIB voltou a subir. Entre
agosto e setembro, essa proporção passou de 43% para 43,5%.
Já a economista-chefe do
banco Fibra, Maristela Ansanelli, diz que os gastos com juros
refletem o nível ainda elevado
da dívida pública. "Apesar da
queda dos últimos anos, a relação dívida/PIB ainda é alta para
os padrões internacionais",
afirma, referindo-se ao fato de a
proporção ter chegado perto de
60% no início da década.
Para Ansanelli, o elevado nível da taxa Selic -hoje em
11,25% ao ano- também reflete, em parte, a pouca disposição
que os investidores têm de financiar um governo que possui
um endividamento tão alto.
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