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LUÍS NASSIF
A marcha da insensatez
O que está ocorrendo com a
Varig é algo que os historiadores denominariam, sem dificuldade, de marcha da insensatez. Para não abrir mão de poder, a Fundação Ruben Berta,
controladora da Varig, está matando a última possibilidade de
salvar a companhia.
No dia 27 de agosto foi eleito
um Conselho de Administração,
visando buscar saídas para a
empresa. Entraram Arnim Lore
na presidência da companhia e,
no Conselho, o ex-ministro Clóvis Carvalho, fazendo companhia a José Roberto Mendonça
de Barros -que já integrava o
órgão.
A Varig tem patrimônio líquido negativo, caixa baixo e um
histórico de dificuldade de relacionamento com credores que
remonta a 1990. Foi acertada
uma estratégia dividida em três
etapas.
A primeira etapa consistiria
na melhoria dos indicadores de
curto prazo. A segunda, em uma
negociação com os credores, buscando dar fôlego à empresa no
curto prazo. A terceira, na busca
do parceiro estratégico, que resolvesse definitivamente os problemas da companhia.
Na primeira fase, de curto prazo, o novo Conselho implementou planos antigos, de integrar a
malha das três companhias do
grupo -Varig, Rio Sul e Nordeste. A General Electric já havia retomado 18 aviões da companhia.
Apesar disso, a otimização das
rotas permitiu à Varig reduzir as
perdas de passageiros em apenas
3%. Com essa queda pequena e
a redução dos vôos, sua taxa de
ocupação interna ficou superior
a 60%, a melhor do mercado nacional. Outra frente de atuação
foi na VarigLog. Cortaram-se R$
10 milhões mensais em despesas,
permitindo à empresa pela primeira vez operar no azul.
Ao mesmo tempo, foi sendo
montada a estratégia para convencer os credores a auxiliar a
empresa. Foi contratada a Pain
& Co., companhia que ajudou
na reestruturação da Continental. Na semana passada foi entregue um estudo detalhado,
constatando a viabilidade da
Varig, desde que a gestão fosse
otimizada. Por exemplo, o custo
comercial da companhia corresponde a 25% do valor da passagem. Nas empresas concorrentes,
é de 20%. Nos Estados Unidos, a
média é de 10%, demonstrando
grande espaço para melhoria da
produtividade. O relatório foi
fundamental naquilo que interessava: assegurar que, com otimização de ganhos, a companhia seria viável.
Paralelamente, o Conselho
contratou a KPMG e o escritório
de advocacia Machado, Meyer e
Óbice para um "due diligente"
completo na parte contábil e de
contratos, a fim de completar o
sistema de informações de curto
prazo e acalmar os credores.
À medida que as informações
iam fluindo, teve início processo
de negociação com os credores
para equacionar as dívidas de
curto prazo. O processo começou
em setembro e terminou em 25
de outubro. Foi uma vitória, que
permitiu uma folga de caixa de
US$ 117 milhões para a companhia -US$ 30 milhões de securitização das passagens (a que os
credores tinham direito), US$
22,7 milhões de devolução de
caixa que os credores haviam retido a partir de julho; e US$ 63
milhões de crédito novo. A operação normalizaria o caixa, permitia quitar dívidas mais urgentes e tinha prazo de validade em
30 de novembro.
Antes mesmo de 25 de outubro
o Conselho tentou por diversas
vezes reunião com a Fundação
Ruben Berta para explicar o
acordo. Não houve resposta a
nenhum dos telefonemas. Foram
canceladas duas reuniões previamente marcadas. Os representantes da Fundação faltaram
na Assembléia do dia 15 de novembro. Na segunda convocação
da Assembléia, os membros da
Fundação votaram contra o
acordo, alegando não dispor de
informações suficientes -apesar de terem se recusado a receber as informações.
Provavelmente o que levou a
Fundação a essa atitude foi uma
visão insensata do processo, julgando que, no próximo governo,
teria mais condições de conseguir apoio financeiro sem as exigências bancárias de abrir mão
do controle da companhia.
É erro crasso. No momento em
que o governo Lula abrisse o hospital para acudir a Varig, imediatamente lhe cairiam no colo
centenas de pedidos de outras
empresas em dificuldade, solicitando tratamento semelhante.
Quando cair a ficha da Fundação Ruben Berta, poderá ser
muito tarde.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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