São Paulo, terça-feira, 26 de novembro de 2002

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AVIAÇÃO

Arnim Lore diz que seria "incompatível" continuar após conselho curador da FRB recusar acordo com os credores

Varig perde presidente, e crise se agrava

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de todo o Conselho de Administração da FRB (Fundação Ruben Berta) ter renunciado anteontem, a sua controlada Varig sofreu ontem mais uma baixa: Arnim Lore, presidente da companhia, se demitiu, sob a alegação de "divergências" com os acionistas controladores.
Lore, que também presidia o conselho da FRB, afirmou ser "incompatível" continuar na Varig após o conselho curador da FRB ter recusado o acordo com os credores da empresa.
O acerto foi costurado pelo conselho e previa o perdão temporário de US$ 117 milhões -valor referente à parte da dívida da empresa, que soma US$ 900 milhões.
Lore e os demais ex-conselheiros -José Roberto Mendonça de Barros, Luís Spínola e Clóvis Carvalho- disseram ontem, em entrevista coletiva, que estão deixando a fundação por causa de um problema societário e de divergências com o acionista controlador, que não deu o aval ao acordo com os credores.
Até as 19h de ontem, a FRB não havia divulgado o substituto nem de Lore na presidência da Varig nem dos membros do conselho. Questionado se ficaria na empresa por alguns dias, Lore disse que sim e que não está saindo brigado.
Os ex-conselheiros afirmaram que a empresa é viável, como indicam relatórios das auditorias KPMG e Bain & Co, entregues ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Eles fizeram questão de ressaltar a qualidade operacional da Varig. "É um problema de governança. É um problema societário. Não de operação", disse Mendonça de Barros.
Apesar do otimismo, Lore havia dito em outubro que o perdão das dívidas "daria fôlego para a Varig operar até o final do ano". Ontem, ele evitou falar em problemas futuros de caixa se a capitalização não sair ainda neste ano. "O cenário mudou. O dólar caiu. Houve reajuste de passagens."
Segundo Spínola, a taxa de ocupação da empresa subiu para mais de 60% -a maior do setor- após a integração com Rio Sul e a Nordeste.
Com a saída dos conselheiros, naufraga o acordo com os credores que proporcionaria um alívio temporário de US$ 117 milhões na dívida da empresa. Depois de fechado o acordo, a participação da FRB na Varig cairia de 87% para 20%, segundo cálculos de especialista do setor.
O perdão valeria até o dia 30 deste mês, prazo dado pelo BNDES para concluir a avaliação dos relatórios e dar um parecer sobre a capitalização da empresa. Mas poderia ser prorrogado, segundo os ex-conselheiros. Do BNDES, é esperada a participação com um terço do valor a ser aportado -cerca de US$ 500 milhões.
"Ficamos absolutamente surpresos e perplexos com a recusa da fundação [em assinar o acordo". Para nossa surpresa, a fundação sempre se recusou a discutir o assunto", disse Mendonça.
Lore assumiu o comando da Varig em agosto com o objetivo de dar credibilidade ao processo de capitalização da empresa. Era, na época, um nome que agradava tanto à FRB como aos credores.


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