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TRABALHO
Em encontro com presidente eleito, entidades entregarão dossiê sobre "máfia sindical'; organizadores temem "mal-estar"
Sindicatos levarão denúncias a Lula hoje
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
No encontro entre sindicalistas
e o presidente eleito, Luiz Inácio
Lula da Silva, que acontece hoje,
em São Paulo, deverá ser feito um
pedido formal para que o governo
petista investigue a corrupção no
movimento sindical brasileiro. A
solicitação deverá ser encaminhada por um grupo de sindicalistas,
advogados e procuradores.
Aparecido Ribeiro de Almeida,
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Itaquaquecetuba,
estava encarregado, até ontem, de
levar documento ao presidente
eleito para mostrar onde estão os
principais focos de corrupção.
Mas, no final da tarde de ontem,
a equipe que coordenava o encontro entrou em contato com
Almeida para informar que hoje
não seria um dia apropriado para
a entrega de denúncias.
A Folha apurou que o recado
dado ao grupo foi o seguinte: é
bom que essa documentação nem
chegue perto do hotel Hilton
-onde será realizado o encontro
em São Paulo. Ainda assim, esse
grupo vai tentar fazer com que a
papelada chegue ainda hoje às
mãos de Luiz Inácio Lula da Silva.
Ontem, dirigentes das centrais
sindicais passaram o dia em reunião para tomar posições no encontro de hoje. A CUT (Central
Única dos Trabalhadores) defende o fortalecimento dos sindicatos. A Força Sindical pede as reformas tributária e da Previdência
antes da sindical. A SDS (Social
Democracia Sindical) defende a
unicidade nos sindicatos. A CGT
(Central Geral dos Trabalhadores) quer manter a atual estrutura.
Para os coordenadores da reunião, a entrega de um relatório
contendo denúncias poderia causar "mal-estar" durante o encontro com o novo presidente.
Eles dizem que denúncias de irregularidades precisam ser apuradas em qualquer setor -também no sindical-, mas elas devem ser encaminhadas ao Ministério Público Federal e à Controladoria Geral da União (CGU).
A Folha teve acesso a alguns trechos do relatório: "Existe uma
máfia sindical, operando de maneira organizada nos sindicatos
brasileiros. Controlam verbas expressivas, fazem lobby político e
pressionam o Congresso Nacional para garantir seus interesses".
O documento também informa
que essa "máfia" movimenta por
ano cerca de R$ 1 bilhão e está envolvida com roubo de carga, além
de administrar negócios no Brasil
e no exterior, com o objetivo de
enriquecer os seus dirigentes.
"A reunião é para o presidente
eleito agradecer o apoio dos sindicalistas e apresentar as linhas gerais de como pretende se relacionar com o movimento sindical",
afirma o secretário-geral da CUT,
Carlos Alberto Grana, que defende investigações no setor por "órgãos competentes". Algumas centrais vão levar, no entanto, suas
propostas para o governo petista.
A Folha apurou que as centrais
sindicais estão preocupadas com
a reforma sindical que Luiz Inácio
Lula da Silva quer fazer no país.
Muitos sindicalistas entendem
que o PT quer fortalecer os sindicatos, o que pode significar o enfraquecimento das centrais. O
presidente eleito teria dito a pessoas bem próximas que as centrais perderam a atuação trabalhista em favor da política.
Muitas vezes, segundo alguns
sindicalistas, dirigentes da Força
Sindical tiveram boas propostas
em favor do trabalhador, mas dirigentes da CUT foram contra
apenas por causa de divergências
políticas e vice-versa.
"O movimento sindical tem de
ter reformas profundas. É importante e urgente que sobreviva por
conta própria e arranje meios de
ganhar dinheiro sem viver do imposto obrigatório. Tem de haver
seriedade porque o descrédito é
grande", diz Frei Chico, consultor
sindical e irmão de Lula. Para ele,
é sabido que em algumas regiões
do país é difícil os sindicatos se
sustentarem sem a contribuição
obrigatória, mas as centrais sindicais têm de achar meios de ajudar
esses sindicatos.
O importante hoje, no sua análise, é trazer de volta os trabalhadores para os sindicatos. "Hoje eles
estão distantes. Isso não é bom
para a democracia", afirma.
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