São Paulo, terça-feira, 26 de novembro de 2002

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TRABALHO

Em encontro com presidente eleito, entidades entregarão dossiê sobre "máfia sindical'; organizadores temem "mal-estar"

Sindicatos levarão denúncias a Lula hoje

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

No encontro entre sindicalistas e o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que acontece hoje, em São Paulo, deverá ser feito um pedido formal para que o governo petista investigue a corrupção no movimento sindical brasileiro. A solicitação deverá ser encaminhada por um grupo de sindicalistas, advogados e procuradores.
Aparecido Ribeiro de Almeida, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Itaquaquecetuba, estava encarregado, até ontem, de levar documento ao presidente eleito para mostrar onde estão os principais focos de corrupção.
Mas, no final da tarde de ontem, a equipe que coordenava o encontro entrou em contato com Almeida para informar que hoje não seria um dia apropriado para a entrega de denúncias.
A Folha apurou que o recado dado ao grupo foi o seguinte: é bom que essa documentação nem chegue perto do hotel Hilton -onde será realizado o encontro em São Paulo. Ainda assim, esse grupo vai tentar fazer com que a papelada chegue ainda hoje às mãos de Luiz Inácio Lula da Silva.
Ontem, dirigentes das centrais sindicais passaram o dia em reunião para tomar posições no encontro de hoje. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) defende o fortalecimento dos sindicatos. A Força Sindical pede as reformas tributária e da Previdência antes da sindical. A SDS (Social Democracia Sindical) defende a unicidade nos sindicatos. A CGT (Central Geral dos Trabalhadores) quer manter a atual estrutura.
Para os coordenadores da reunião, a entrega de um relatório contendo denúncias poderia causar "mal-estar" durante o encontro com o novo presidente.
Eles dizem que denúncias de irregularidades precisam ser apuradas em qualquer setor -também no sindical-, mas elas devem ser encaminhadas ao Ministério Público Federal e à Controladoria Geral da União (CGU).
A Folha teve acesso a alguns trechos do relatório: "Existe uma máfia sindical, operando de maneira organizada nos sindicatos brasileiros. Controlam verbas expressivas, fazem lobby político e pressionam o Congresso Nacional para garantir seus interesses".
O documento também informa que essa "máfia" movimenta por ano cerca de R$ 1 bilhão e está envolvida com roubo de carga, além de administrar negócios no Brasil e no exterior, com o objetivo de enriquecer os seus dirigentes.
"A reunião é para o presidente eleito agradecer o apoio dos sindicalistas e apresentar as linhas gerais de como pretende se relacionar com o movimento sindical", afirma o secretário-geral da CUT, Carlos Alberto Grana, que defende investigações no setor por "órgãos competentes". Algumas centrais vão levar, no entanto, suas propostas para o governo petista.
A Folha apurou que as centrais sindicais estão preocupadas com a reforma sindical que Luiz Inácio Lula da Silva quer fazer no país. Muitos sindicalistas entendem que o PT quer fortalecer os sindicatos, o que pode significar o enfraquecimento das centrais. O presidente eleito teria dito a pessoas bem próximas que as centrais perderam a atuação trabalhista em favor da política.
Muitas vezes, segundo alguns sindicalistas, dirigentes da Força Sindical tiveram boas propostas em favor do trabalhador, mas dirigentes da CUT foram contra apenas por causa de divergências políticas e vice-versa.
"O movimento sindical tem de ter reformas profundas. É importante e urgente que sobreviva por conta própria e arranje meios de ganhar dinheiro sem viver do imposto obrigatório. Tem de haver seriedade porque o descrédito é grande", diz Frei Chico, consultor sindical e irmão de Lula. Para ele, é sabido que em algumas regiões do país é difícil os sindicatos se sustentarem sem a contribuição obrigatória, mas as centrais sindicais têm de achar meios de ajudar esses sindicatos.
O importante hoje, no sua análise, é trazer de volta os trabalhadores para os sindicatos. "Hoje eles estão distantes. Isso não é bom para a democracia", afirma.


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