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LUÍS NASSIF
Mandrake era aprendiz
Vamos a alguns exemplos
do malabarismo retórico
a que foi reduzida a defesa do
atual modelo econômico, até
como subsídio para algum estudioso que pretenda, no futuro, analisar discurso econômico, ética e política.
Capital externo - multinacionais atuam no setor de bens
duráveis, semiduráveis, serviços, transportes e infra-estrutura. Preferem muito mais setores não regulados aos regulados. O modelo não conseguiu
atrair poupança externa, a não
ser para privatização e compra
de empresas. Em artigo no "Estado de S. Paulo", o professor
Rogério Werneck, da PUC-RJ,
faz uma defesa candente do
modelo econômico, desanca
todos os demais setores do governo e atribui a ausência de
capital externo à falta de rapidez na regulamentação de concessões. E por que o capital não
entra nos demais setores, se o
modelo é virtuoso? Por que o
professor não analisa o peso
dos juros e tributos na decisão
de investir e os receios manifestos em relação à progressão da
dívida pública -fruto da taxa
de juros praticada?
Desvalorização cambial -
em entrevista ao "Estado de S.
Paulo", o economista Eduardo
Giannetti da Fonseca, ao repetir o ex-ministro Pedro Malan,
sustenta que o governo não
controla o câmbio real. A uma
desvalorização cambial corresponde uma inflação interna
que anula os efeitos do câmbio.
Todas as evidências sobre desvalorizações cambiais no Brasil desde 1983 -inclusive nos
períodos de superinflação e superindexação- comprovam o
oposto. Por que Giannetti e
Malan dizem o contrário? Por
falta de conhecimento? Certamente, não.
Crise fiscal do Estado - naquela que talvez seja a obra-prima do pensamento cabeça
de planilha, em artigo no "Valor", o economista Fabio
Giambiagi aborda a questão
da "demanda por magia" pela
mídia (a mídia que propõe a
mudança do modelo, não a
que acreditou que bastava
abrir para crescer), garante
que "o Brasil não tem um problema de modelo econômico" e
sustenta que "o que o país tem
-e isso afeta a percepção da
população, especialmente nos
grandes centros urbanos- é
um grave problema de falta de
segurança". Algo a ver com a
falta de verbas para segurança,
assim como para saúde, educação, tecnologia? Claro que não,
já que o modelo é virtuoso. "A
solução passa por atacar o problema da impunidade e ter um
sistema que aumente a probabilidade de o indivíduo: a) ser
preso; b) ser condenado a uma
pena elevada; e c) ficar de fato
na prisão."
Para resolver esse problema,
provavelmente bastará um
aditivo na lei ordenando que o
criminoso se considere proibido de fugir quando faltar gasolina para o camburão. Ou que,
na falta de recursos para penitenciárias, aceite se hospedar
na casa de Giambiagi.
Ajuste fiscal - o secretário de
Política Econômica, Marcos
Lisboa, diz que o ajuste fiscal
deste ano é virtuoso porque
ocorreu com corte de despesas,
e não aumento de impostos. As
despesas cortadas foram em
educação, saúde, tecnologia,
infra-estrutura. Como são despesas essenciais, além de seu
conteúdo fundamentalmente
anti-social, criam-se passivos
nessas áreas que terão que ser
cobertos com muito mais recursos no futuro e mais atraso
no presente.
Mandrake era aprendiz perto desse pessoal.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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