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São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2003

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Governo estipula prazo para troca

ELIANE CANTANHÊDE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A saída do economista Carlos Lessa da presidência do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) é apenas uma questão de tempo. Considerado voluntarista, com uma "visão atrasada" e em desacordo com a cúpula do governo, Lessa está praticamente fora do cargo.
Conforme a Folha apurou, a permanência dele está atrelada à conclusão das votações das reformas tributária e previdenciária no Senado. Apesar de Lessa não ter mais nem mesmo o apoio do PMDB, partido ao qual é ligado, o Planalto acha melhor "não fazer mais onda" durante as votações.
Apoiado no cargo pela professora Maria da Conceição Tavares, uma espécie de decana dos economistas do PT, Lessa tem sistematicamente discordado de posições adotadas pelos ministérios da Fazenda, do Desenvolvimento e até pelo Planalto.
Conforme a Folha ouviu ontem de pelo menos três interlocutores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo concluiu que Lessa foi colocado no cargo para dar uma nova dinâmica ao BNDES e para animar a intelectualidade, mas não tem feito nem uma coisa nem outra. O limite teria sido uma série de declarações e atos sem consulta a superiores.
A última dessas declarações foi anteontem, durante palestra na Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). Ao se defender das críticas de que estaria transformando o BNDES em "hospital" de empresas, ele disse que a indústria de comunicação é que foi toda "para a UTI".
Lessa também criou dificuldades para o Planalto e para a área econômica quando o BNDES comprou ações da Companhia Vale do Rio Doce, sem consultar os ministros ou o presidente, o que levou o mercado a temer uma reestatização da empresa -ao contrário do desejo do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Os desentendimentos vêm ainda de mais longe. Um exemplo é a possibilidade de fusão da Varig com a TAM. O chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o ministro da Defesa, José Viegas, eram publicamente a favor. Os dois ministros avaliavam que essa seria a solução para a crise financeira do setor aéreo e para que o BNDES pudesse entrar com pesada ajuda para a sobrevivência de pelo menos uma grande empresa brasileira. Lessa, porém, teria feito uma aliança com os sindicatos e bombardeado a fusão, até falar ostensivamente contra. O Planalto não gostou.
O PMDB tenta emplacar um nome para substituir Lessa no BNDES, mas o Planalto e a Fazenda pretendem que o PT controle o banco. A Folha procurou a assessoria de imprensa do BNDES, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.


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