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Governo estipula prazo para troca
ELIANE CANTANHÊDE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A saída do economista Carlos
Lessa da presidência do BNDES
(Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) é apenas uma questão de tempo. Considerado voluntarista, com uma
"visão atrasada" e em desacordo
com a cúpula do governo, Lessa
está praticamente fora do cargo.
Conforme a Folha apurou, a
permanência dele está atrelada à
conclusão das votações das reformas tributária e previdenciária no
Senado. Apesar de Lessa não ter
mais nem mesmo o apoio do
PMDB, partido ao qual é ligado, o
Planalto acha melhor "não fazer
mais onda" durante as votações.
Apoiado no cargo pela professora Maria da Conceição Tavares,
uma espécie de decana dos economistas do PT, Lessa tem sistematicamente discordado de posições adotadas pelos ministérios
da Fazenda, do Desenvolvimento
e até pelo Planalto.
Conforme a Folha ouviu ontem
de pelo menos três interlocutores
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, o governo concluiu que Lessa foi colocado no cargo para dar
uma nova dinâmica ao BNDES e
para animar a intelectualidade,
mas não tem feito nem uma coisa
nem outra. O limite teria sido
uma série de declarações e atos
sem consulta a superiores.
A última dessas declarações foi
anteontem, durante palestra na
Firjan (Federação das Indústrias
do Estado do Rio de Janeiro). Ao
se defender das críticas de que estaria transformando o BNDES em
"hospital" de empresas, ele disse
que a indústria de comunicação é
que foi toda "para a UTI".
Lessa também criou dificuldades para o Planalto e para a área
econômica quando o BNDES
comprou ações da Companhia
Vale do Rio Doce, sem consultar
os ministros ou o presidente, o
que levou o mercado a temer uma
reestatização da empresa -ao
contrário do desejo do ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Os desentendimentos vêm ainda de mais longe. Um exemplo é a
possibilidade de fusão da Varig
com a TAM. O chefe da Casa Civil,
José Dirceu, e o ministro da Defesa, José Viegas, eram publicamente a favor. Os dois ministros avaliavam que essa seria a solução
para a crise financeira do setor aéreo e para que o BNDES pudesse
entrar com pesada ajuda para a
sobrevivência de pelo menos uma
grande empresa brasileira. Lessa,
porém, teria feito uma aliança
com os sindicatos e bombardeado
a fusão, até falar ostensivamente
contra. O Planalto não gostou.
O PMDB tenta emplacar um
nome para substituir Lessa no
BNDES, mas o Planalto e a Fazenda pretendem que o PT controle o
banco. A Folha procurou a assessoria de imprensa do BNDES,
mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
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