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São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2003

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MONTADORAS

Fleming dá lugar a "reestruturador" alemão

Em crise, Volkswagen substitui de novo o presidente para o Brasil

JOSÉ ALAN DIAS
CLAUDIA ROLLI

DA REPORTAGEM LOCAL

Pouco mais de um ano após mudar o comando da subsidiária no Brasil, a Volkswagen anunciou nova substituição de presidente. Em janeiro, o alemão Hans-Christian Maergner assumirá o posto que o inglês Paul Fleming ocupa desde outubro de 2002.
Trata-se de mais uma etapa no processo de reestruturação da Volks no Brasil, em sua tentativa de retomar posições no mercado interno de veículos e, mais que isso, voltar a ser rentável. De líder de vendas, com 32% do mercado brasileiro em 1995, a Volks ocupa hoje o terceiro posto -atrás de Fiat e GM-, com 22%.
Não bastasse, a montadora vê o encolhimento do mercado -o número de unidades comercializadas neste ano não deve superar 1,4 milhão de veículos, queda de 10% em relação a 2002.
O atual presidente não foi capaz de tirar a Volks do vermelho, situação que enfrenta desde 1998. De janeiro a outubro, as vendas de automóveis da marca despencaram 19,5%. No mesmo período, a Ford aumentou suas vendas em 4,3%. As da GM recuaram 3% -a que mais se aproximou da Volks, a Fiat, perdeu 12% em vendas.
A matriz alemã não relutou em apontar o desempenho no Brasil como um dos responsáveis pela queda no lucro operacional do grupo no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2002. O próprio Fleming, 43, no comunicado distribuído pela Volks, classifica 2003 como o ano "mais difícil para a companhia nos últimos dez anos". No mesmo comunicado, a empresa usou o termo "job rotation" (em tradução livre, rodízio no emprego) para explicar a substituição.
Na verdade, com Maergner, 58, a Volks dará continuidade ao processo de redimensionamento e enxugamento no país. O alemão tem know-how em cortes.
Maergner comandou o processo de reestruturação na África do Sul desde 1998, com a demissão de cerca de 1.500 trabalhadores, segundo a Folha apurou, e tornou a fábrica uma base exportadora do grupo. A unidade passou a conseguir resultados positivos no ano passado.
"Sabíamos que a matriz estava insatisfeita com os resultados da Volks no Brasil, mas não tínhamos idéia de que isso implicaria a demissão do presidente", disse o vice-presidente do Comitê Mundial dos Trabalhadores da Volkswagen, Wagner Santana.
Os trabalhadores temem, segundo ele, que Maergner acelere o ritmo de mudanças no Brasil e que a companhia volte a ter um comando mais "linha-dura", como já teve com o ex-presidente da Volks Herbert Demel.
A Fleming coube a tarefa de implementar a Autovisão, unidade de negócios que treinará e realocará 3.933 excedentes no ABC e em Taubaté. As negociações com os sindicatos dos metalúrgicos das duas regiões para a aprovação do projeto, que, segundo a Volks, custará 150 milhões, se estenderam por três meses.
Para analistas, a substituição de Fleming está associada a dois fatores. Primeiro, a necessidade de obter resultados mais rápidos - nesse caso, uma das principais apostas é o novo modelo, o Fox, lançado no mês passado.
David Wong, consultor da Booz Allen Hamilton, argumenta que a reestruturação da Volks, não por acaso, coincide com o anúncio de mudanças em outras empresas, como a da GM -em que o presidente Walter Wieland também deixará o posto em janeiro. ""Sozinhas, as montadoras investiram US$ 20 bilhões no Brasil. Quem paga um preço desses quer ter algum retorno. Mas, desde 1997, o setor acumula prejuízos."
A despeito do aumento das exportações de 40,7% no ano (acumulado de janeiro a outubro, segundo a Anfavea), as montadoras afirmam que trabalham com uma capacidade ociosa média de 40%.
O segundo motivo seria o componente político. A Volks é obrigada a negociar com um dos sindicatos historicamente mais combativos: o dos metalúrgicos do ABC. "Enfrentar um sindicalismo organizado é desgastante do ponto de vista político, de imagem da empresa, em situações como a do Autovisão, mas também do ponto de vista de custos", diz o analista José Eduardo Favaretto.


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