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São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2003

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BLOCO COMERCIAL

Chefe da missão dos EUA descarta idéia

Negociação da Alca não envolverá compensações, afirma americano

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O chefe da missão negociadora norte-americana para a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), Ross Wilson, afirmou ontem que seu país não vai oferecer compensações a outras nações pelo fato de os EUA não alterarem a sua atual política interna de subsídios agrícolas.
Wilson disse ainda que um maior acesso ao mercado norte-americano na Alca será obtido somente pelos países que "assumirem maiores obrigações" durante as negociações.
As declarações de Wilson, dadas dias depois da reunião ministerial da Alca em Miami, considerada "um passo adiante" por Brasil e EUA, vão de encontro a posições fundamentais de autoridades brasileiras nas negociações.
Durante seminário ontem em Washington, Wilson foi cobrado pelo negociador argentino para a Alca, José Octavio Bordon, para que os EUA concedam "compensações" aos países envolvidos nas negociações, pelas "distorções causadas pelos subsídios agrícolas dos EUA".
A resposta de Wilson foi seca: "Não gostamos desse tema. Não estamos preparados para negociar nessas bases. Vamos negociar apenas com base em direitos e obrigações".
Durante as quase duas horas em que durou o encontro entre Ross e Bordon, o argentino colocou-se o tempo todo ao lado do Brasil e dos demais países do Mercosul (Paraguai e Uruguai).
"Vamos agir com lealdade", disse Bordon. Em seguida, o argentino voltou a dizer que "não se pode falar em livre comércio com subsídios para agricultura e indústrias não competitivas" -em referência a setores como o de aço nos EUA.
"A maior responsabilidade [para o sucesso da Alca] está nas mãos dos EUA", disse Bordon.
Como os EUA se negam a negociar o fim de sua política de subsídios agrícolas na Alca, o Brasil também já apresentou como alternativa "compensatória" reduções de tarifas dos EUA (caso do suco de laranja) ou a elevação das cotas para alguns produtos exportados para o mercado norte-americano (como carne, açúcar e metanol).
Wilson também deixou claro mais de uma vez que países como o Brasil -que não aceitarem incluir na Alca regras estritas para investimentos, propriedade intelectual e compras governamentais, entre outros temas- terão o acesso ao mercado norte-americano limitado .
"Essa é a realidade e a regra: quem quiser benefícios, terá de aceitar obrigações", afirmou.
Há poucas semanas, depois de reunir-se com os norte-americanos em Washington, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, afirmou que as negociações da Alca "voltariam a um impasse" caso os EUA bloqueassem o acesso ao seu mercado para países que não aceitassem uma Alca tão abrangente como querem os EUA.
A próxima reunião ministerial da Alca está marcada para fevereiro de 2004.


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