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RECEITA ORTODOXA
Ritmo de crescimento é "foco importante de preocupação", diz ata
Copom admite altas maiores dos juros para manter meta
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após três meses seguidos de aumentos nos juros, o Banco Central informou que altas mais fortes podem ocorrer nos próximos
meses, caso não haja sinais claros
de que a inflação ficará dentro das
metas fixadas pelo governo.
A afirmação consta na ata da última reunião do Copom (Comitê
de Política Monetária do BC),
que, na semana passada, elevou a
taxa Selic de 16,75% ao ano para
17,25%. Segundo a ata, o BC está
preparado "para alterar o ritmo e
a magnitude do processo de ajuste nos juros" caso não haja sinais
mais fortes de queda da inflação.
De modo geral, o cenário traçado pelos diretores do BC para a
economia brasileira é de ligeira
desaceleração do nível de atividade, com relativa estabilidade dos
preços. Ainda assim, de acordo
com o documento, considera-se
que a situação ainda não assegura
o cumprimento das metas de inflação fixadas pelo governo.
"Tais fatores [sinais de desaquecimento da economia, queda no
preço do petróleo e valorização
do real] ainda não foram capazes
de alterar suficientemente as
perspectivas para a dinâmica futura da inflação", diz a ata.
Além disso, o BC volta a dizer
que "um foco importante de
preocupação" é a velocidade com
que a economia tem crescido nos
últimos meses. Segundo o documento divulgado ontem, as indústrias instaladas no país estão
cada vez mais perto do limite de
sua capacidade, o que pode levar a
pressões inflacionárias no futuro.
A tese é criticada por alguns
economistas e mesmo membros
do governo. Em entrevista à Folha antes de sua demissão, o ex-presidente do BNDES Carlos Lessa disse que o presidente do BC,
Henrique Meirelles, "emite todos
os sinais de que crescer neste momento é pecado". Quando ainda
estava no Ministério do Planejamento, o sucessor de Lessa, Guido
Mantega, organizou um encontro
com economistas de fora do governo que questionou o BC.
A preocupação da autoridade
monetária está na possibilidade
de as empresas não serem capazes
de aumentar sua produção num
ritmo suficientemente rápido para atender o aumento do consumo trazido pelo crescimento.
Quando a demanda cresce mais
do que a oferta, a tendência é que
haja um aumento dos preços.
Depois de três altas seguidas dos
juros, o BC aponta alguns sinais
de desaceleração da economia,
como a estabilidade das vendas
do comércio e a "tendência de
acomodação" da produção industrial. Ainda assim, diz o documento, "os membros do Copom
entenderam que o processo de
ajuste gradual dos juros deveria
prosseguir" -sinal de que, para
os diretores do BC, é preciso intensificar o desaquecimento da
economia para garantir o cumprimento das metas de inflação.
Para este ano, a meta foi fixada
em 5,5%, admitindo-se um desvio de 2,5 pontos percentuais para
cima ou para baixo. Para 2005, o
objetivo original do BC era manter o IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo) em 4,5%
-também com uma margem de
2,5 pontos. A instituição já afirmou, porém, que irá perseguir
uma meta de 5,1%.
As últimas pesquisas do BC com
o mercado financeiro mostram
que a previsão de inflação é 7,18%
para 2004 e de 5,90% para 2005.
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