São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Ritmo de crescimento é "foco importante de preocupação", diz ata

Copom admite altas maiores dos juros para manter meta

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após três meses seguidos de aumentos nos juros, o Banco Central informou que altas mais fortes podem ocorrer nos próximos meses, caso não haja sinais claros de que a inflação ficará dentro das metas fixadas pelo governo.
A afirmação consta na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que, na semana passada, elevou a taxa Selic de 16,75% ao ano para 17,25%. Segundo a ata, o BC está preparado "para alterar o ritmo e a magnitude do processo de ajuste nos juros" caso não haja sinais mais fortes de queda da inflação.
De modo geral, o cenário traçado pelos diretores do BC para a economia brasileira é de ligeira desaceleração do nível de atividade, com relativa estabilidade dos preços. Ainda assim, de acordo com o documento, considera-se que a situação ainda não assegura o cumprimento das metas de inflação fixadas pelo governo.
"Tais fatores [sinais de desaquecimento da economia, queda no preço do petróleo e valorização do real] ainda não foram capazes de alterar suficientemente as perspectivas para a dinâmica futura da inflação", diz a ata.
Além disso, o BC volta a dizer que "um foco importante de preocupação" é a velocidade com que a economia tem crescido nos últimos meses. Segundo o documento divulgado ontem, as indústrias instaladas no país estão cada vez mais perto do limite de sua capacidade, o que pode levar a pressões inflacionárias no futuro.
A tese é criticada por alguns economistas e mesmo membros do governo. Em entrevista à Folha antes de sua demissão, o ex-presidente do BNDES Carlos Lessa disse que o presidente do BC, Henrique Meirelles, "emite todos os sinais de que crescer neste momento é pecado". Quando ainda estava no Ministério do Planejamento, o sucessor de Lessa, Guido Mantega, organizou um encontro com economistas de fora do governo que questionou o BC.
A preocupação da autoridade monetária está na possibilidade de as empresas não serem capazes de aumentar sua produção num ritmo suficientemente rápido para atender o aumento do consumo trazido pelo crescimento. Quando a demanda cresce mais do que a oferta, a tendência é que haja um aumento dos preços.
Depois de três altas seguidas dos juros, o BC aponta alguns sinais de desaceleração da economia, como a estabilidade das vendas do comércio e a "tendência de acomodação" da produção industrial. Ainda assim, diz o documento, "os membros do Copom entenderam que o processo de ajuste gradual dos juros deveria prosseguir" -sinal de que, para os diretores do BC, é preciso intensificar o desaquecimento da economia para garantir o cumprimento das metas de inflação.
Para este ano, a meta foi fixada em 5,5%, admitindo-se um desvio de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Para 2005, o objetivo original do BC era manter o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 4,5% -também com uma margem de 2,5 pontos. A instituição já afirmou, porém, que irá perseguir uma meta de 5,1%.
As últimas pesquisas do BC com o mercado financeiro mostram que a previsão de inflação é 7,18% para 2004 e de 5,90% para 2005.


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