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LUÍS NASSIF
Jogando a toalha
Quando explodiu a crise
da Rússia, expondo a fragilidade da política monetário-cambial do Banco Central,
um colunista político anotou
que raríssimas vozes, dentro
da imprensa econômica, haviam alertado para o desastre.
Tinha razão. Uma parte da
imprensa econômica era portadora da síndrome OB: até
uma semana antes da mudança do câmbio, qualquer mudança acabaria com o país;
uma semana depois, a mudança salvou o país.
Mas outra parte, dos mais
críticos, simplesmente tinha
desistido do governo. Quando
a irracionalidade é extremada, os clichês ganham força.
Fica-se dando murro em ponta de faca, passando por urubus voando em céu azul. Não
adianta apontar um iceberg
na frente. Os que estão no baile não querem ser incomodados. Só quando sobrevém o desastre é que cai a ficha.
É o que está ocorrendo gradativamente com o governo
Luiz Inácio Lula da Silva. Foram patéticas a entrevista do
presidente à Bloomberg e a
impotência do ministro Luiz
Fernando Furlan (Desenvolvimento) ante a política cambial do Banco Central.
Lula diz que as taxas de juros internas são elevadas porque a economia ainda inspira
cuidados. Quando ela melhorar, as taxas cairão. Essa mesma máxima é repetida por
jornais e analistas.
O que está por trás desse raciocínio? Como as taxas de juros balizam a remuneração de
títulos públicos, entende-se
que os credores têm receio de
que o Tesouro não honre a dívida. Daí a razão para exigirem juros mais altos.
Mas, se o risco é com o pagamento da dívida, presume-se
que, quanto maior a taxa de
juros, maior o risco potencial
futuro da dívida. Ou não? Se a
afirmação de Lula e de outros
analistas fosse correta, então
caberia ao Banco Central permanentemente testar o piso
inferior das taxas. Como se explica, então, que, mesmo
quando o tal do mercado
apostava em redução das taxas, o Banco Central as tenha
aumentado?
Essa posição do BC desmente a afirmação de Lula. Positivamente o BC não mantém as
taxas elevadas por conta do
risco de crédito do Tesouro,
mas por outras razões. Pouco
importa.
Ao longo de todos esses anos,
as taxas de juros foram mantidas elevadas em cima dos argumentos mais estapafúrdios.
Um deles era a necessidade de
a taxa Selic refletir o risco Brasil e a expectativa da correção
cambial interna, pela necessidade de atrair dólares para fechar as contas fiscais. Era uma
loucura, porque, ao entrar, os
dólares aumentavam a dívida
pública.
Mas não adianta perseguir a
racionalidade nesse modelo.
Dias atrás, publiquei aqui o
trabalho de um grupo de economistas de mercado os quais
alertavam as autoridades
-na maior ingenuidade- de
que a produção estava longe
de bater na capacidade instalada das empresas, a não ser
em setores exportadores.
Devem ser jovens economistas, com fé na racionalidade
econômica, que ainda acham
que essas loucuras, de abortar
qualquer tentativa de crescimento, de apreciar desmedidamente o cambio, são fruto
de mau diagnóstico apenas.
O grande problema é que
Lula já jogou a toalha. Ainda
teremos dois longos anos pela
frente.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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