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CONTAS VIGIADAS
Quantia é baseada em documentos da Junta Comercial de São Paulo e superior ao rombo estimado pelo BC
Edemar e família têm empresas de R$ 1,5 bi
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O banqueiro Edemar Cid Ferreira, seus familiares e quatro diretores do grupo são sócios de nove empresas cujo capital atinge R$
1,52 bilhão, segundo documentos
obtidos pela Folha na Junta Comercial de São Paulo.
A mulher do banqueiro, Marcia
Cid da Costa, tem mais capital do
que o próprio banqueiro, segundo essa documentação. O capital
das empresas em que ela aparece
como sócia é de cerca de R$ 865
milhões. Já as duas holdings que
Cid Ferreira preside têm R$ 653,7
milhões de capital.
Só neste ano, quando o Banco
Santos sofreu intervenção, esse
grupo de empresas teve aumento
de capital de R$ 420 milhões.
As nove empresas estão longe
de esgotar o rol de negócios mantidos pelo dono do Banco Santos,
sob intervenção do Banco Central
desde o último dia 12 por ter um
rombo estimado em R$ 700 milhões (na conta dos auditores da
Trevisan & Associados, o buraco
passa de R$ 1 bilhão).
Um organograma oficial do
Banco Santos obtido pela Folha,
com a data de agosto deste ano,
lista 19 empresas sob o controle
da sigla ECF -que parece remeter às iniciais de Edemar Cid Ferreira. O documento era divulgado
junto com a venda de papéis do
banco ou na captação de recursos
para os seus fundos com o propósito de impressionar a clientela.
Negócios da mulher
A sócia mais freqüente nas nove
empresas é a mulher do banqueiro, Marcia de Maria Costa Cid
Ferreira. Ela aparece na diretoria
de cinco das nove empresas: Maremar Empreendimentos e Participações, Atalanta Participações e
Propriedades, Hyles Participações, Cid Ferreira Collection e
Atalanta Investimentos.
A Cid é dona da coleção de arte
do banqueiro, cujo valor é estimado entre US$ 20 bilhões e US$ 30
bilhões.
A maior das nove empresas em
volume de capital, a Maremar,
também está em nome da mulher
do banqueiro e da Principle Enterprises, empresa sediada no Panamá. Como esse país é um paraíso fiscal, é virtualmente impossível descobrir que são os controladores da Principle e da Maremar.
Paraíso fiscal é o destino predileto de quem quer manter seu dinheiro fora do alcance de eventuais ações judiciais. Os donos das
contas só são revelados em caso
de tráfico de drogas, lavagem de
dinheiro e terrorismo.
O curioso é que a Principle controla 99,999796% do capital da
Maremar, de R$ 601,7 milhões,
mas é a mulher do banqueiro que
detém o poder de assinar documentos e cheques da empresa.
Entre os parentes de Cid Ferreira, também aparecem como sócios nos negócios: a irmã do banqueiro (Edna Ferreira de Souza e
Silva, na Atalanta Participações),
os dois filhos (Eduardo e Rodrigo,
na Cid Collection) e o sobrinho
(Ricardo Ferreira de Souza Pinto,
na Procid Participações, Procid
Investimentos e Pluripar).
Até a mãe do banqueiro já figurou como sócia da Procid Participações e Negócios, a holding que
controla o banco e o braço financeiro dos negócios de Cid Ferreira. Em 1998, quando a Procid foi
criada, Marina Cid Ferreira era
sócia da empresa com o filho e a
Decid Participações, também
controlada pela banqueiro.
Outra prática comum nos negócios dos familiares de Cid Ferreira
é o controle do capital por uma
empresa com sede em paraíso fiscal. A maior parte do capital da
Atalanta Participações, por exemplo, estava nas mãos de uma
"offshore" em 14 de julho deste
ano, dois dias antes de a empresa
tornar-se uma sociedade anônima. A divisão do capital era a seguinte: Blueshell (R$
135.208.394), Principle (R$ 2 milhões), Marcia (R$ 2.199.999) e
Edna, com R$ 1.
A Atalanta Participações tem
um capital de R$ 155,5 milhões,
segundo documento da Junta Comercial, mas funciona num endereço de aluguel na Vila Olímpia,
na zona oeste de São Paulo. O endereço fornecido é o da Virtual
Offices - Escritórios Virtuais, empresa que subloca o seu espaço
para outras. Num escritório de 57
m2 funcionam 36 empresas, de
acordo com a administração do
condomínio. A Hyles Participações e Empreendimentos S/A,
com capital de R$ 102,4 milhões, e
a Atalanta Investimentos fornecem como endereço de suas sedes
o conjunto comercial da Virtual
Offices. A soma do capital das três
dá cerca de R$ 260 milhões.
O advogado contratado pelo
Banco Santos, Sergio Bermudes,
diz que o registro das nove empresas com capital de R$ 1,5 bilhão não quer dizer que elas tenham esse dinheiro em caixa. "O
valor do capital é mais um indicativo da magnitude do negócio".
Bermudes pode ter razão. A
Procid Participações, que controla o banco, fez dois aumentos de
capital neste ano, que somam R$
45,65 milhões. O aumento foi feito por meio de emissão de ações
(R$ 42,85 milhões) e com dinheiro de verdade (R$ 2,8 milhões). As
ações para o aumento de capital
foram pagas com papéis chamados Afacs (Adiantamentos para
Futuros Aumentos de Capital).
Esse recurso, para especialistas
em contabilidade bancária, pode
ter servido para criar uma origem
para dinheiro de clientes que tiveram de fazer operações casadas. O
dinheiro pode não existir mais.
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