São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2008

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Para ONU, salários vão sofrer mais

Nações Unidas criticam planos contra crise por não fortalecerem remunerações

Não faz sentido pacotes investirem em consumo sem recompor poder de compra de trabalhador, diz autora de estudo da OIT

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

A crise financeira mundial terá impacto direto no bolso dos trabalhadores assalariados, sobretudo os mais pobres, prevê a ONU. A Organização das Nações Unidas critica o fato de os pacotes de estímulo econômico anunciados recentemente em vários países se concentrarem no consumo.
Segundo relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho), a erosão dos salários avançará a uma velocidade até maior que a retração da economia. Na média mundial, a previsão é que os reajustes salariais caiam de 1,7% neste ano para 1,1% em 2009.
O Brasil é citado no relatório como um dos países que conseguiram reduzir a distância entre os maiores e os menores salários nos últimos anos, embora a desigualdade continue alta. O país também é elogiado por ter promovido políticas de valorização do salário mínimo.
Para as economias emergentes, a OIT prevê um declínio significativo nas correções salariais, de 4,5% em 2008 para 3,5% no próximo ano. Ainda assim, os economistas da organização avaliam que os países em desenvolvimento são os que evitarão uma perda salarial ainda maior na média global.
Nos desenvolvidos, alguns deles já em recessão, a projeção é que os reajustes salariais recuem 0,5% em 2009, após expansão modesta neste ano, de 0,8%. Planos econômicos anunciados recentemente em países como o Reino Unido buscam incentivar o consumo com cortes de impostos, mas não tocam nos salários.
"Não estamos dizendo que esses planos deveriam se concentrar nos salários, mas é claro que eles deveriam ser parte da equação", disse Manuela Tomei, uma das autoras do estudo. Para ela, não faz sentido investir no consumo como solução para a crise, enquanto o poder de compra continua enfrentando corrosão.
Tradicionalmente, observou a economista, os salários não acompanham o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nos períodos de prosperidade. Segundo a OIT, para cada ponto percentual de crescimento do PIB nos últimos dez anos, houve só 0,7 ponto percentual de aumento dos salários.
A conta inversa mostra que, nos períodos de retração, para cada ponto de declínio do PIB, há 1,55 ponto de perda salarial.


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