São Paulo, quinta-feira, 26 de dezembro de 2002

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ECONOMIA DE GUERRA

Conflito longo e paz complicada causaria recessão grave

Barril de petróleo a US$ 40 indica crise no pós-guerra

DO "FINANCIAL TIMES"

O efeito da guerra de americanos e britânicos contra o Iraque depende básica e obviamente do preço do barril de petróleo. Na última guerra do Golfo Pérsico, o aumento no preço do petróleo aconteceu depois que o Iraque invadiu o Kuait, mas o preço caiu acentuadamente quando a guerra começou. Em termos reais, o custo de um barril de petróleo saltou de US$ 23 em julho de 1990 para uma média de US$ 47 em outubro do mesmo ano. Em fevereiro de 1991, com a guerra em curso, caíra para US$ 25.
Desta vez, o preço subiu de cerca de US$ 19 no final do ano passado para cerca de US$ 30. O aumento foi proporcionalmente menor e também ficou em nível real bem inferior ao de 1990, em parte porque a economia mundial está fraca. Mesmo assim, uma guerra bem sucedida pode vir, uma vez mais, a causar redução do preço, dado o fim da incerteza.
Supondo que haja guerra no primeiro trimestre de 2003, o preço de um barril de petróleo cru aumentará para cerca de US$ 36, no cenário benigno. Depois cairá para o nível básico de um período de paz no segundo trimestre. Sob o cenário intermediário, o preço passa dos US$ 40 e continua acima dos US$ 30 até pelo menos o final de 2004. No pior dos casos, o barril chega a US$ 80, antes de cair a US$ 35 no final de 2004.
Sob os três cenários para a guerra, o preço esperado do petróleo (preço projetado multiplicado por sua probabilidade) para o primeiro trimestre de 2003 é de cerca de US$ 42. Para fins de comparação, o preço de pico em 1974 e 1990, a valores atuais, foi de cerca de US$ 40, enquanto o pico histórico de preço foi atingido em 1979, a US$ 95.
Um aumento nos preços do petróleo reduz a renda real e a riqueza real, comprime lucros e transfere renda aos países produtores de petróleo, fatores que podem causar redução do crescimento econômico. A maneira pela qual as autoridades responderão a isso depende em larga medida da taxa de inflação vigente, a qual dependerá do preço do petróleo, e da disposição dos governos para agir de modo preventivo.
Uma guerra bem sucedida poderia reduzir a incerteza a menos que o nível existente sem uma guerra. Mas um conflito prolongado e destrutivo, seguido por uma dispendiosa e complicada paz parcial, aumentaria a incerteza, solaparia a confiança já abalada dos consumidores e dos empresários e tenderia a reduzir os preços dos ativos de risco. Isso tornaria ainda pior qualquer redução do crescimento.
Um exercício de simulação conclui que o desfecho benigno tem efeito positivo sobre Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos e do resto do mundo a partir do terceiro trimestre de 2003. Mas mesmo o desfecho intermediário reduz o crescimento do PIB norte-americano a quase zero no primeiro semestre do ano que vem. Exerce, igualmente, impacto negativo no restante do mundo, embora não tão sério quanto nos Estados Unidos.
Mas se o preço do petróleo ultrapassar os US$ 80 depois de danos significativos a instalações de produção na Iraque e outras partes do Golfo Pérsico, e os Estados Unidos se virem envolvidos em uma guerra longa e confusa, a economia norte-americana provavelmente cairá em profunda recessão. O crescimento anualizado cairia para menos 4% no segundo trimestre de 2003. O restante do mundo também entraria em recessão, se bem que mais amena que a dos Estados Unidos.
As conclusões mais amplas são convincentes. Uma guerra rápida e vitoriosa teria impacto negativo zero sobre a economia mundial no curto prazo e poderia estimulá-la no final do ano que vem. Uma guerra longa, prolongada e destrutiva teria efeito devastador. Se a guerra não acabar logo, mas ainda assim for vitoriosa, o crescimento econômico seria de praticamente zero no começo de 2003.
Do sucesso dos planos de guerra agora em preparação depende não só a segurança do mundo mas também sua estabilidade econômica. Se a guerra for deflagrada no começo de 2003, devemos torcer que termine logo, com vitória e perdas mínimas de vida e impacto mínimo sobre o óleo e sobre a atividade econômica.


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