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LUÍS NASSIF
Desafios do ministério Lula
O ministério Lula seguiu
a lógica. Além dos partidos
de esquerda, e de partidos-esponja, a aliança se estendeu ao
setor produtivo nacional, por
meio da escolha de dois empresários de peso para compô-lo.
Comecemos pela parte econômica. Roberto Rodrigues, para a
Agricultura, e Luiz Furlan, para
o Desenvolvimento, foram escolhidos basicamente devido ao
seu envolvimento com as questões de comércio internacional.
São dois dos empresários que
mais se empenharam em fornecer subsídios ao governo sobre
as guerras comerciais.
Na atuação do dia-a-dia, o jogo será mais complicado. A
Agricultura tem máquina simples, que responde mais rapidamente ao comando do ministro.
O Desenvolvimento tem máquina mais complexa, que Furlan,
acostumado ao sistema de comando do setor privado, terá dificuldades em administrar.
Executivo do setor privado,
Alcides Tápias teve dificuldades
para se relacionar com a máquina. Funcionário de carreira,
seu sucessor, Sergio Amaral,
agiu com mais desenvoltura.
Recentemente, a transformação da Camex (Câmara de Comércio Exterior) em órgão com
poderes executivos deu mais
funcionalidade ao trabalho.
Mesmo assim, é fundamental
que Furlan saiba se cercar de
um segundo escalão conhecedor
da máquina.
O que poderá ajudar na sincronização do ministério é o
movimento de alguns setores da
cúpula do PT, de amarrar a
ação de cada ministério a planos de ação, com objetivos e metas. Estão sendo ouvidos especialistas da área para essa montagem.
Recentemente, José Paulo Silveira -homem do Planejamento que construiu o arcabouço do Avança Brasil- trouxe
idéias relevantes para essa coordenação. Definem-se metas, os
ministérios envolvidos, depois se
amarram todos ao objetivo final
através de contratos firmados
entre as partes.
O Planejamento, de Guido
Mantega, terá papel essencial
nesse trabalho, dando continuidade aos esforços da gestão anterior de formar gerentes-empreendedores distribuídos pelos
diversos ministérios, com visão
de projeto e de atuação em rede.
A área macroeconômica
-Fazenda, de Antonio Palocci
Filho, e Banco Central, de Henrique Meirelles- está entregue
a pessoas com bom trânsito no
mercado. Faltam ainda formuladores consistentes de políticas
monetária e cambial.
A idéia de se ter uma gestão
macroeconômica conservadora
e uma atividade pró-ativa de
planejamento econômico é
compatível. No governo Geisel,
utilizou-se com eficácia essa política. Mário Henrique Simonsen representava os "monetaristas"; João Paulo dos Reis Velloso, os "desenvolvimentistas".
Quem era contra a linha Simonsen, em vez de se alinhar com a
oposição, se alinhava com Velloso.
O governo Figueiredo tentou
repetir a dobradinha e foi um
desastre. Quem assumiu a bandeira desenvolvimentista foi o
ministro da Agricultura, Delfim
Netto, com o voluntarismo que
o caracterizava na época. Em
pouco tempo, Simonsen caiu e o
novo governo convalidou políticas conflitantes que acabaram
levando à crise dos anos seguintes.
No governo Lula há bom risco
de conflito, não entre Mantega e
Palocci, mas entre a Fazenda e
Carlos Lessa, provável presidente do BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico
e Social). Lessa é acadêmico vitorioso, personalista, como todo
acadêmico, e com bela capacidade de verbalizar idéias -vocalização ampliada por aliados
históricos, como Maria da Conceição Tavares e Luiz Gonzaga
Belluzzo. Seria de muita prudência que, desde já, se juntassem essas pessoas para pactos de
governabilidade que impedissem curto-circuito interno, em
um governo que terá de administrar muitos curtos-circuitos
ao longo do ano.
Na outra ponta, chama a
atenção a indicação de Ciro Gomes para a Integração Nacional. Ciro é a mesma metralhadora giratória, que faz do poder
da retórica arma de barganha
política. Lembra um pouco alguns ministros de Collor, como o
respeitado Hélio Jaguaribe. Dias
antes da sua indicação, o governo iria acabar e o país, entrar
em crise. No dia da indicação, o
governo estava salvo. Por quê?
Porque escolheu um ministério
salvador.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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