São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2002

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COLAPSO DA ARGENTINA

Membros do governo querem plebiscito para dar legitimidade ao presidente, eleito indiretamente

Governo Duhalde estuda se testar nas urnas

Reuters
TOMA LÁ, DÁ CÁ
Mulher examina tênis, enquanto expõe alimentos de sua banca, em uma feira de trocas em Buenos Aires; existem hoje 4.500 dessas feiras espalhadas pelo país, nas quais os argentinos trocam produtos e serviços com o uso de uma moeda paralela

FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES

Vazou ontem para os meios de comunicação argentinos a informação de que membros do governo de Eduardo Duhalde sugeriram a realização de um plebiscito para legitimar o presidente.
Isto é, os argentinos diriam nas urnas se aceitam ou não o governo Duhalde, eleito indiretamente pelo Congresso em meio a uma sucessão de panelaços e renúncias de presidentes. A eleição indireta de Duhalde tem sido usada como arma pelos seus opositores, que exigem a antecipação das eleições.
Um derrota em um eventual plebiscito não teria o poder de destituir Duhalde, mas abalaria ainda mais o governo. A idéia foi lançada por pessoas próximas ao presidente, como seu secretário privado, José Pampuro.
"Alguns setores do governo começaram a falar em plebiscito atentos ao quanto tem sido negativa a percepção de que Duhalde não tem legitimidade. O governo está inseguro. Aumentam os ataques dos opositores e crescem os desentendimentos internos", diz o analista político Oscar Cardozo.
O governo Duhalde tem sofrido com os reiterados pedidos de antecipação das eleições presidenciais, marcadas para setembro do próximo ano. Os principais defensores da idéia estão dentro do próprio partido de Duhalde. Os governadores peronistas José Manuel de la Sota (Córdoba) e Néstor Kirchner (Santa Cruz), ao lado do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999), todos presidenciáveis, não perdem nenhuma oportunidade que têm para pleitear o adiantamento da realização da eleição para presidente.
Em resposta, Duhalde afirmou na segunda-feira que seu "mandato acaba apenas em 10 de dezembro de 2003".
Pampuro aproveitou para atacar os opositores de Duhalde ontem, ao ser questionado sobre a conveniência de se realizar um plebiscito. "Há governadores, com motivações políticas ou interesses provinciais, que trabalham para tentar debilitar a legitimidade do governo. Se a situação pedir, será feito [um plebiscito"."
A idéia de plebiscito veio à tona ao mesmo tempo em que as lideranças peronistas de Buenos Aires decidiam realizar uma manifestação em apoio a Duhalde na próxima sexta-feira. Ônibus foram contratados para trazer do interior da Província e do subúrbio milhares de pessoas para darem força ao ato. Os organizadores falam em juntar 50 mil pessoas na praça do Congresso.
O deputado peronista Carlos Alessandri, ligado a De la Sota, disse que "um governo que tem sua legitimidade política questionada deveria convocar eleições em vez de um plebiscito".


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