São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2002

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Crise provoca conflito interno no FMI

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O agravamento da crise argentina levou o FMI (Fundo Monetário Internacional) a expor um delicado conflito interno e um clima de desconfiança que imperava entre alguns de seus técnicos e a direção da instituição.
Na segunda-feira, o diretor-gerente do FMI, Horst Köhler, trocou o comando das negociações com o governo da Argentina. Köhler tirou de Claudio Loser, o chefe do Departamento de Hemisfério Ocidental do Fundo, a responsabilidade de chefiar a parte técnica das conversas com o país.
O comando foi transferido para o indiano Anoop Singh, subdiretor do programa asiático do FMI que ocupará o recém-criado cargo de Diretor de Operações Especiais. Singh aceitou trocar a convulsão social nas ruas de Jacarta, na Indonésia, pela de Buenos Aires, na Argentina.
A versão oficial para a troca foi a de que Singh poderá coordenar melhor as opiniões de diversos departamentos do Fundo nos casos de crises críticas como a argentina. Essas negociações estão estagnadas porque existe um abismo entre o que a Argentina deseja e o que o FMI exige.
Mas a realidade é mais complexa. Loser e seu vice, Thomas Reichmann, entraram em rota de colisão com a norte-americana Anne Krueger, a número dois do Fundo, e com Köhler, o diretor-gerente da instituição. Loser, que é argentino, e Reichmann, que é chileno, foram acusados de serem "pouco rígidos" e "ineficientes" em suas negociações com o governo Duhalde.

Erros
Singh nunca lidou com crises na América Latina. Ele vai operar subordinado diretamente a Köhler, mas se reportará a Krueger.
Embora esteja há 20 anos no Fundo, o currículo de Singh ficará sempre marcado pelos erros, acertos e confusões decorrentes da crise asiática, que começou na Tailândia, em 1997, e depois se espalhou para a Rússia e para o Brasil.
Singh foi à Tailândia, à Coréia do Sul e, depois, à Indonésia. Inutilmente, tentou conter as crises na região impondo uma receita de juros altos e buscando a estabilidade macroeconômica com instrumentos convencionais.
Descobriu, como o resto da direção do Fundo viria a perceber depois, que, como os países asiáticos tinham orçamentos equilibrados (ao contrário dos países da América Latina), o remédio dos juros altos era mesmo desnecessário.
Mas os erros asiáticos não mudaram sua forma dura de negociar e seu senso hierárquico apurado. Talvez Singh acredite que, na Argentina, a velha receita dos juros altos finalmente funcione.


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