São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Ata divulgada pelo Copom diz que "probabilidade concreta" de inflação superar metas requer "cautela adicional"

BC indica que juro não deve cair em março

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao divulgar ontem a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o Banco Central não deu nenhuma indicação de que irá relaxar, em março, a cautela na condução da política monetária adotada desde janeiro, quando suspendeu a trajetória de queda dos juros básicos, mantidos atualmente em 16,5% ao ano.
"Há uma probabilidade concreta de que a inflação volte a se desviar da trajetória de metas, o que requer cautela adicional da política monetária", diz trecho da ata da reunião da semana passada, na qual o BC manteve inalterados, pelo segundo mês consecutivo, os juros básicos da economia.
O BC prevê que a inflação do primeiro trimestre deste ano, medida pelo IPCA, poderá ficar próxima de 2%, quase 40% da meta de 5,5% estimada para este ano, sem incluir a tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Ao repetir a menção aos riscos de inflação previstos na ata de janeiro, o BC indica que pode frustrar a expectativa, por parte do mercado, de queda de 0,25 ponto percentual em março.
"Mesmo que o comportamento recente da inflação possa ser explicado por fatores extraordinários ou sazonais, e que os resultados mensais retornem para valores compatíveis com as metas nos próximos meses, o cumprimento da meta requererá maior cautela da política monetária do que anteriormente previsto", diz a nota.
Apesar de admitir que a alta de 0,76% no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em janeiro é comum para a época do ano, o BC julgou "prematuro e arriscado" voltar a baixar os juros. Segundo o BC, a inflação de janeiro foi pressionada pela alta nos preços das tarifas de energia elétrica, automóveis novos, alimentos in natura, arroz, feijão e gás.

Núcleo da inflação
Outro fator considerado pelo BC ao avaliar a possibilidade de que a inflação se mantenha acima do previsto no começo deste ano foi a variação de preços do chamado "núcleo da inflação", que retira do cálculo os produtos com grande variação de preço, como alimentos e as tarifas públicas.
Segundo a ata, o "núcleo da inflação" se manteve alto em janeiro, quando chegou a 0,64% -muito próximo do 0,63% registrado em dezembro e bem acima do 0,38% de novembro de 2003.
A proporção de itens no IPCA que sofreram reajuste de preços aumentou de 64,8% em dezembro para 70,9% em janeiro, o maior valor desde abril de 2003.
Apesar de manter os juros inalterados, o BC acredita que ainda há espaço para crescimento econômico como reflexo da derrubada dos juros em 2003. Segundo a ata, os indicadores de atividade econômica analisados levam à manutenção da expectativa de crescimento de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano.
"A manutenção da taxa básica de juros, por outro lado, embute um risco substancialmente menor de causar danos palpáveis ao processo em curso de recuperação da economia", diz a ata.
No segundo semestre do ano passado a produção industrial aumentou 5,1%, mas em dezembro houve queda de 1%. "Os efeitos da redução de dez pontos percentuais na Selic no ano passado ainda não tiveram tempo de se manifestar na totalidade", afirma.


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