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RECEITA ORTODOXA
Ata divulgada pelo Copom diz que "probabilidade concreta" de inflação superar metas requer "cautela adicional"
BC indica que juro não deve cair em março
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao divulgar ontem a ata da última reunião do Copom (Comitê
de Política Monetária), o Banco
Central não deu nenhuma indicação de que irá relaxar, em março,
a cautela na condução da política
monetária adotada desde janeiro,
quando suspendeu a trajetória de
queda dos juros básicos, mantidos atualmente em 16,5% ao ano.
"Há uma probabilidade concreta de que a inflação volte a se desviar da trajetória de metas, o que
requer cautela adicional da política monetária", diz trecho da ata
da reunião da semana passada, na
qual o BC manteve inalterados,
pelo segundo mês consecutivo, os
juros básicos da economia.
O BC prevê que a inflação do
primeiro trimestre deste ano, medida pelo IPCA, poderá ficar próxima de 2%, quase 40% da meta
de 5,5% estimada para este ano,
sem incluir a tolerância de 2,5
pontos percentuais para cima ou
para baixo. Ao repetir a menção
aos riscos de inflação previstos na
ata de janeiro, o BC indica que pode frustrar a expectativa, por parte do mercado, de queda de 0,25
ponto percentual em março.
"Mesmo que o comportamento
recente da inflação possa ser explicado por fatores extraordinários ou sazonais, e que os resultados mensais retornem para valores compatíveis com as metas nos
próximos meses, o cumprimento
da meta requererá maior cautela
da política monetária do que anteriormente previsto", diz a nota.
Apesar de admitir que a alta de
0,76% no IPCA (Índice de Preços
ao Consumidor Amplo) em janeiro é comum para a época do ano,
o BC julgou "prematuro e arriscado" voltar a baixar os juros. Segundo o BC, a inflação de janeiro
foi pressionada pela alta nos preços das tarifas de energia elétrica,
automóveis novos, alimentos in
natura, arroz, feijão e gás.
Núcleo da inflação
Outro fator considerado pelo
BC ao avaliar a possibilidade de
que a inflação se mantenha acima
do previsto no começo deste ano
foi a variação de preços do chamado "núcleo da inflação", que
retira do cálculo os produtos com
grande variação de preço, como
alimentos e as tarifas públicas.
Segundo a ata, o "núcleo da inflação" se manteve alto em janeiro, quando chegou a 0,64%
-muito próximo do 0,63% registrado em dezembro e bem acima
do 0,38% de novembro de 2003.
A proporção de itens no IPCA
que sofreram reajuste de preços
aumentou de 64,8% em dezembro para 70,9% em janeiro, o
maior valor desde abril de 2003.
Apesar de manter os juros inalterados, o BC acredita que ainda
há espaço para crescimento econômico como reflexo da derrubada dos juros em 2003. Segundo a
ata, os indicadores de atividade
econômica analisados levam à
manutenção da expectativa de
crescimento de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano.
"A manutenção da taxa básica
de juros, por outro lado, embute
um risco substancialmente menor de causar danos palpáveis ao
processo em curso de recuperação da economia", diz a ata.
No segundo semestre do ano
passado a produção industrial aumentou 5,1%, mas em dezembro
houve queda de 1%. "Os efeitos da
redução de dez pontos percentuais na Selic no ano passado ainda não tiveram tempo de se manifestar na totalidade", afirma.
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