São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

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Ata faz Bolsa cair e eleva taxas futuras

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado, especialmente a Bovespa, reagiu de forma negativa à divulgação da ata do Copom (Comitê de Política Monetária).
Sinal evidente do mau humor foi que a Bolsa paulista operou em baixa durante toda a jornada de ontem. A decepção com o teor da ata refletiu-se ainda, como esperado, no mercado futuro de juros: se, no dia anterior, os contratos firmados na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) projetavam um corte de 0,25 ponto ou mesmo de meio ponto percentual nos juros em março, ontem as cotações voltaram ser pressionadas.
O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa, registrou pouco depois de conhecida a ata uma queda de 1,98%. Mas finalizou o dia com recuo de 0,74%, aos 21.449 pontos. Parte da recuperação, à tarde, segundo analistas, decorreu da movimentação de especuladores que se aproveitaram do baixo volume negociado e da queda acentuada para ""entrar no mercado".
Os reflexos negativos da ata do Copom na Bolsa se explicam por dois motivos: a manutenção de juros em níveis elevados inibe o crescimento da economia -logo, a expansão das empresas. Por outro lado, quando há cortes de juros, investidores sentem-se motivados a migrar de aplicações como renda fixa para a Bolsa, em busca de maiores ganhos.
"A ata foi um balde de água fria. A linguagem permanece a mesma do mês passado. Ao lê-la, conclui-se que, a não ser que nos próximos dias tenhamos um evento cinematográfico, os juros serão mantidos", diz Alan Gandelman, da corretora Ágora Sênior.
"O Banco Central ainda está no modo "wait and see" [esperar para ver] e vai relaxar a política monetária de forma muito gradual, mantendo um olho na inflação", diz Marcelo Salomon, economista-chefe do Unibanco.
Salomon argumenta que, se o IPCA de fevereiro (a ser conhecido dia 11 de março) se mantiver dentro das expectativas dos bancos (e o nível de atividade econômica baixo), seria aberto caminho para, ainda no próximo mês, o Banco Central cortar os juros em ao menos 0,25 ponto percentual.
Não era mais essa a perspectiva no mercado de futuros. Os contratos com vencimento em janeiro de 2005, os mais negociados na BM&F, fecharam com taxa de 15,89% anuais contra os 15,82% registrados anteontem.
Para o analista Luiz Antônio Vaz das Neves, da corretora Planner, o BC fez "autoterrorismo" na ata. "O governo faz o esforço no lado político, tenta contornar o caso Waldomiro com uma agenda positiva. Bastava o BC dizer que não baixou os juros porque o IGP-M e o IPC de janeiro vieram altos e pronto. Não. Fazem um exercício retórico, de adivinhar o futuro, e a ata fica ridícula."
O dólar registrou a terceira queda consecutiva: -0,2%, fechando cotado a R$ 2,935. O que se explica, em parte, pelo fato de que não houve más notícias de ordem política. Como os ingressos continuam positivos, principalmente por exportadores, a cotação cedeu. Sem más notícias na seara política, o C-Bond, título da dívida mais negociado, subiu 1,18%, para 96% de seu valor de face.


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