São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

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INTERPRETAÇÃO DA ATA

RICARDO CARNEIRO, professor de economia da Unicamp:
"O Banco Central tem pecado pelo excesso de conservadorismo ao não cortar os juros. Essa política de juros não vai deixar o país crescer. Mas o mercado financeiro está sendo muito otimista ao esperar para o final deste ano taxa Selic de 14%. Acredito que o Banco Central não conseguirá cortar tanto até lá".

PAULO PICCHETTI, coordenador do IPC/Fipe:
"A ata explicita que os aumentos de preços projetados para o primeiro trimestre, mesmo sendo sazonais, já comprometem uma boa parte da meta para o ano. Olhando para a preocupação com relação à tendência dos próximos meses, o ponto mais importante parece ser a transferência das pressões de preços no atacado para os consumidores finais, que seria possibilitada por uma política monetária leniente. A decisão demonstra consistência no objetivo de cumprimento da meta, dentro da crença de retomada da atividade econômica. No entanto, parece haver uma percepção muito diferente por parte do empresariado privado com relação às condições para um processo de crescimento sustentado, o que levanta uma questão mais ampla de coordenação de expectativa por parte da política econômica".

FÁBIO AKIRA, economista do JP Morgan:
"O Banco Central está olhando para a meta de inflação, a despeito do cenário externo favorável. O BC não quer passar sinal de leniência com a inflação. Esperamos que o BC volte a cortar os juros em abril, mas certamente não no ritmo visto no ano passado".

GUILHERME DA NÓBREGA, economista-chefe do Banco Fibra:
"O raciocínio é o mesmo dos dois meses anteriores: o BC tem fé na recuperação econômica, mas, quanto à inflação, ainda precisa ver para crer. A ata admite que fatores extraordinários e sazonais avivaram a inflação em janeiro, mas mesmo assim ressalta que o resultado foi "significativamente superior" ao projetado. E o quadro mais difícil do primeiro trimestre vai requerer "maior cautela" ao longo do ano. O Copom decide escolhendo riscos. Ao manter a Selic, o BC considerou que o risco de estancar a retomada é "substancialmente" menor do que o risco de haver inflação, caso tivesse cortado os juros. A conjuntura de curto prazo tem reforçado esse "balanço de riscos': inflação resistente, e atividade em sua recuperação. A ata tornou menos provável um corte na Selic em março".

MARIO MESQUITA, economista-chefe do ABN-Amro:
"A ata da reunião de fevereiro do Copom repete o tom cauteloso adotado no mês anterior e indica que a desaceleração da inflação ainda não é generalizada. Além disso, como a inflação, medida pelo IPCA, deve acumular 1,6% a 2% em janeiro/fevereiro, contra uma meta de 5,5% para o ano, a ata sugere que a margem de manobra da política monetária pode ser limitada. Finalmente, a ata ressalta a importância de que os núcleos dos índices de inflação retornem a níveis compatíveis com a meta [estimamos que tal nível se encontre um pouco abaixo de 0,4% ao mês a partir de março]. Como os índices de inflação de fevereiro, a serem divulgados em março, ainda devem vir elevados, parece pouco provável que a trajetória de corte de juros seja retomada no mês que vem". Departamento de pesquisas do Bradesco "[O BC quis intencionalmente, evitar uma retomada precipitada do otimismo em relação à tendência da inflação. Assim, tornou-se mais improvável uma redução dos juros em março, apesar de a possibilidade não dever ria ser totalmente afastada. [A ata revelou um Banco Central muito pouco preocupado com o risco de interrupção da recuperação econômica em curso".

ROBERTO PADOVANI, economista da Tendências Consultoria:
"Não sabemos como a combinação desses dois fatores [valorização dos produtos básicos, as commodities, e retomada do nível da atividade econômica] afetará os preços. A atitude do Banco Central [ao manter os juros] foi correta, pois o cenário exige cautela. Mas, se os índices sinalizarem arrefecimento dos aumentos de preços nas próximas semanas, o Copom poderá cortar os juros novamente em março, em 0,25 ponto percentual".


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