|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
Os prós e contra das cotas
Recebi um bom número
de e-mails sobre a coluna
"As cotas nas universidades"
-em que critico a proposta. A
base da argumentação é que o
aluno que não foi bem preparado no ensino médio não terá
condições de acompanhar o
ritmo da universidade. De
duas uma: ou se rebaixará
mais ainda o nível, para se
adequar a eles; ou eles abandonarão o curso por incapacidade de acompanhar o ritmo.
O que se sugeria era uma política que identificasse os melhores alunos nas escolas públicas
e os amparasse desde cedo,
permitindo que chegassem ao
vestibular em igualdade de
condições com aqueles de melhor renda. Mas que no vestibular vencessem os melhores.
Na linha contrária a essa posição, há um conjunto de argumentos. Alguns argumentos de
cunho algo racista ao inverso
-o de que os negros, por conta
de séculos de discriminação,
não teriam condições de competir em igualdade com os
brancos. Não é por aí.
Contra esses argumentos, há
outros, como os do leitor Jorge
Marun, para quem "as cotas
vão humilhar e estigmatizar
seus beneficiários. Percebi isso
conversando com um amigo
negro que, a muito custo, conseguiu galgar a classe média.
Ele me disse: "Trabalho duro
para meu filho estudar e entrar numa boa faculdade. Não
quero que ele entre na "vaga do
preto", quero que ele entre porque merece". Veja o caso recente da idéia do ministro da
Educação, Tarso Genro, de financiar vagas em universidades privadas para negros, deficientes e ex-presidiários.
Tem cabimento equiparar
negro a deficiente e ex-presidiário? Isso não é humilhante?".
Em relação à comparação
com o sistema de cotas nos Estados Unidos, muitos leitores
lembraram que lá não existe o
vestibular, mas a seleção não
objetiva dos alunos, e havia
um "apartheid" social claro.
Nessas circunstâncias as cotas
se justificariam, não nas do
Brasil.
Ponto questionado foi a afirmação que fiz de que os beneficiados pela cota, não tendo
preparo anterior, não conseguiriam acompanhar o ritmo
da universidade. O desafio era
claro: será possível a alguém
sem preparo prévio em matemática cursar uma Poli? Alguns leitores levantam estatísticas da Uerj (Universidade
Estadual do Rio de Janeiro),
segundo as quais teria havido
melhor desempenho no grupo
dos "cotistas" que dos demais
alunos.
Mas houve uma quantidade
majoritária de leitores, especialmente de professores universitários, concordando que
as cotas prejudicariam ainda
mais o nível das universidades. Muitos leitores lembraram o sistema de massificação
do ensino superior, que acabou produzindo uma relação
enorme de universidades e faculdades privadas do pior nível. Ou mesmo a falta de atenção à massificação do ensino
médio -inevitável em razão
da explosão populacional e da
urbanização nos anos 70-,
que comprometeu sua qualidade pela falta de atenção dos
governantes.
Ponto comum a todos, aliás,
é que a questão das cotas esconde o problema maior, que
foi a mediocrização do ensino
público brasileiro. Aí está o nó
da questão. Os salários são
aviltantes, espanta os melhores. Sem salários, não há cobrança. Sem cobrança, não há
qualidade. E, sem educação,
não há desenvolvimento.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Guerra comercial: Europa impõe sanção aos Estados Unidos Próximo Texto: Inflação: Preços no atacado ajudam a reduzir IGP-M em fevereiro Índice
|